João Amílcar Salgado


A melhor maneira que tenho para retratar o duro golpe que
todos sofremos com a notícia do falecimento da queridíssima Marizinha não é
falar da mulher culta, da professora suave, da beletrista correta, da
jornalista escrupulosa, da amiga
angelical, da companheira solidária e do ser humano superior que ela foi.
Prefiro dizer do largo tempo em que ela de certo modo fez parte de minha
família
A Marizinha (Maria Aparecida de Oliveira) e a Neusa
(Salgado) eram mais que amigas e colegas: eram confidentes entre si desde
menininhas. A dona Jura (Juraci), mãe da Marizinha, vinha conversar com a dona
Vange (Evangelina), mãe da Neusa, quase todos os dias, vizinhas que eram. E as
duas senhoras nepomucenenses sempre celebravam contemplar a saudável amizade
entre as filhas. Por sinal, as duas mães eram também amigas desde a juventude –
apesar da rivalidade entre os respectivos genitores, os boticários João e
Quinca.
A Marizinha e a Neusa eram os seres mais românticos do
mundo, daquelas personalidades que da vida nada mais concebiam do que belos e
coloridos sonhos – e, no fim de suas vidas, nada mais penaram do que a mais
acerba via crúcis. Quando soube que perdemos a Marizinha, passei a evocar a
amizade entre as duas. Lembrei certa vez quando cheguei a Napomuceno e ambas me
esperavam para dizer que já tinham escolhido a valsa da formatura delas.
Queriam minha opinião e as felicitei porque aquela valsa traduzia a verdade de
suas almas. Diante de tal lembrança, liguei o computador e digitei “valsa DESDE
EL ALMA”, que hoje a internete permite ser apreciada como valsa,
tango-valsa ou tango. E foi inevitável ouvi-la repetidamente e dispensado dizer
que com os olhos úmidos. Peço aos leitores que façam o mesmo – e tenho certeza
de que a Marizinha e a Neusa lá do alto entoarão a transbordante melodia.
Agora evoco outro episódio. Certo dia a Neusa me disse: vou
te contar um segredo, descobri que a Marizinha sabe fazer versos, mas ela me
proibiu de mostrar a poesia dela, principalmente para você. Mais tarde ambas esqueceram a
proibição. E foi assim que a poetiza Marizinha deixou versos que estão na
história de Nepomuceno. Por exemplo, no livro da tia Ruth, intitulado MINHA
HISTÓRIA NOSSAS VIDAS (2007), a autora transcreveu o acróstico que a
Marizinha fez para a tia Bebete (Elisabeth). Diz a Marizinha:
Ela
não é mais desta vida,
Lá
está a mestra querida
Inteiramente
servindo a Deus.
Surgem
estrelas nos passos seus,
Até
os anjos a estão saudando,
Bonitos
hinos de louvor cantando,
Enquanto,
contrita, rezando,
Tem
à cabeça alvo véu:
Hoje
ela está no Céu!
Pois bem, escrevendo estes versos para a querida
professora que docemente a alfabetizou, acabou expressando aquilo que todos nós hoje diríamos para a inolvidável
Marizinha.
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