João Amílcar Salgado

quarta-feira, 15 de agosto de 2012


A  ANVISA NÃO É SÉRIA
            Em 17-8-09 as farmácias, drogarias e demais casas comerciais foram proibidas de expor medicamentos à venda no lado de fora dos respectivos balcões. A justificativa era impedir a automedicação. Naquela data a ANVISA decidiu a proibição até que  a agência pudesse editar relação dos medicamentos isentos de prescrição que poderão permanecer ao alcance dos usuários para obtenção por meio de auto-serviço no estabelecimento. Esta relação somaria 2300 produtos.  
Agora, em 27-7-12, a proibição foi revogada sob a alegação de que a medida não reduziu a automedicação. Tanto a proibição como sua revogação indicam que a ANVISA não é séria.  Em primeiro lugar, porque a automedicação seria de fato combatida, desde que tal proibição fosse acompanhada de medidas adicionais, que deixaram de ser adotadas, a começar pela proibição da industrialização de medicamentos isentos de prescrição. Em segundo lugar, porque a justificativa dada para a revogação da proibição não é convincente, pois é quase certo de que a pesquisa sobre o não decréscimo da automedicação foi metodologicamente incorreta. A ANVISA alega que realizou consultas públicas e estudos para medir o impacto da medida junto ao consumidor final, e concluiu que a resolução não atingiu o objetivo de reduzir o número de intoxicações por esses tipos de medicamentos no país. Os pesquisadores sérios de farmacologia e de terapêutica  necessitam ser informados de todos os pormenores de tais números, bem como dos métodos usados. Na metodologia correta, seriam investigadas, com grande rigor, não só as  variáveis da automedicação e da intoxicação, mas a variável do lucro dos fabricantes dos medicamentos envolvidos.
A agência está tão consciente de sua insinceridade que exige, nos locais destinados aos remédios de venda livre, sejam fixados cartazes com a seguinte orientação contraditória: Medicamentos podem causar efeitos indesejáveis. Evite a automedicação: informe-se com o farmacêutico.
Esta advertência é mais do que contraditória, é cínica.

João Amílcar Salgado