WILSON BERALDO
Wilson
Teixeira Beraldo, nascido em Silvianópolis,
Minas, da turma de 1943 da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Minas Gerais, é autor da maior descoberta científica da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e a segunda, depois da
descrição da doença de Chagas, realizada pela ciência brasileira. Durante o
curso médico foi estagiário do célebre professor José Baeta Viana. Após
regressar dos EUA, em 1926, Viana criou um
laboratório nos porões da
Faculdade. Nele, em vez de aulas teóricas, treinava os estudantes e
principalmente os estagiários em química fisiológica (bioquímica). A partir daí encaminhava todos os seus
discípulos, disseminando pelo país verdadeira dinastia de mestres e
pesquisadores. Na vez de Beraldo,
entretanto, coincidiu que, pela primeira vez, não havia lugar aonde encaminhar aquele
jovem. Em verdade, muitos dirigentes científicos e universitários temiam ajudar
Viana, adversário aberto do ditador Vargas.
Esta má circunstância
do momento pode ter sido decisiva para que Beraldo fizesse a maior descoberta científica
feita por discípulos do mestre. Até que
aparecesse uma oportunidade melhor, ele foi, então, trabalhar humildemente num
laboratório farmacêutico (Bristol), em São Paulo. Achando-o ali, o grande
nutrólogo Dutra de Oliveira sugeriu que procurasse abrigo, mesmo que como
assistente voluntário, no laboratório paulista do carioca Henrique da Rocha
Lima. Este tinha obtido em Hamburgo, na Alemanha, em 1916, grande vitória para a ciência brasileira, quando
descobriu a primeira riquétsia.
Acolhido por Lima, Beraldo foi escalado para a equipe afim do
farmacologista, também carioca, Maurício Rocha-e-Silva, que havia chegado da
Grã-Bretanha, entusiasmado com as esperanças trazidas pelo método de
identificação da histamina. Maurício, por sua vez, sugeriu ao Beraldo dominar o
método e escolher um setor do organismo humano onde pudesse procurá-la.
Wilson
Beraldo, mineiramente, meditou e
concluiu que, no primeiro mundo, as mínimas partes do corpo humano já estavam em
pleno mapeamento e ele iria chover no molhado. Como a jararaca é uma cobra que
só existe aqui, ele resolveu humildemente dizer ao mundo científico se havia ou
não histamina na saliva da serpente (preparada por Gastão Rosenfeld, no
laboratório Butantã, criação de outro mineiro, Vital Brazil). Rocha-e-Silva
certamente achou que aquela ideia só poderia sair da cabeça de um caipira do
sul de Minas, mas, como coisa de principiante, estava bem.
Acontece
que Beraldo, ao procurar a histamina (que se comporta como uma taquicinina
sobre o intestino animal), verificou que no veneno da jararaca, em vez de
taquicinina, havia uma BRADICININA - e assim foi descoberta, em 1948, uma das
mais importantes substâncias da fisiologia animal.
Mais
tarde os sucessores de Rocha-e-Silva e Beraldo, prosseguiram o estudo de
cininas e outras substâncias fisiológicas na própria jararaca e, assim, Sérgio
Ferreira descreveu o captopril, o inibidor da conversão da angiotensina I em
angiotensina II, abrindo revolucionário capítulo no tratamento da hipertensão
arterial. Coincidentemente, a angiotensina é outra descoberta latinamericana,
feita pelo argentino Eduardo Braun Menendez, em 1939.
Beraldo,
apenas uma vez, concordou em relatar a cena da descoberta. Foi quando deu uma aula de História da
Medicina no Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais. Relatou que,
procurando pela histamina na preparação que acabara de montar, observou o
efeito bradi em vez de taqui, na curva registrada. Rocha-e-Silva
entrou no laboratório e, enquanto colocava a gravata e o paletó, advertiu
Beraldo de que Rocha Lima ia iniciar a reunião e não admitia atraso. Beraldo
disse: veja o que está sendo registrado.
– Depois eu olho, você ainda está de avental. – Então olhe, por favor, enquanto
visto o paletó. A contra gosto o instrutor olhou, tornou a olhar – e ele
mesmo foi se despindo do paletó e se livrando da gravata...