João Amílcar Salgado

domingo, 14 de setembro de 2014

COLÉGIO ESTADUAL - UMA LEGENDA BELORIZONTINA
João Amílcar Salgado
            Certo dia chegam ao Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais o psiquiatra Ataúlpho da Costa Ribeiro, o cartunista Fernando Pieruccetti e a historiadora Francelina Drummond. Os três propunham publicar a reedição fac-similar do livro ERÁRIO MINERAL (1735), de autoria do cirurgião luso Luís Gomes Ferreira, e a HISTÓRIA DO COLEGIO ESTADUAL DE MINAS GERAIS, de autoria de Pieruccetti.  Que relação havia entre a memória da medicina e o colégio? Foi então que esses três arautos nos comunicaram algo sensacional: investigando as origens coloniais do colégio, Pieruccetti descobriu que neste houve o início do ensino médico no Brasil, em 1801.  O Erário Mineral foi reeditado em 1997, mas a História do Colégio não foi publicada, em virtude do falecimento de Fernando em 2004. O historiador, entretanto, antecipou os dados referentes ao curso de cirurgia, na Revista Médica de Minas Gerais, em 1992 (http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-114956).
            Em 2004, liderados por Ernesto Lentz e Norma Veloso Chaves, promovemos um almoço dos formandos do centenário do colégio, com a presença dos professores Beatriz Alvarenga, Aluizio Pimenta, Elias Murad e Wagner Brandão. Em meio a evocações humorísticas, foi lembrada a urgência de um livro abrangente, antes que muita coisa fosse esquecida ou perdida.
            Prosseguimos na expectativa de que a família e/ou o grande amigo Ataulpho efetivassem a publicação da obra completa de Pieruccetti, o que se espera para breve. Enquanto isso ótima iniciativa teve a coleção BH – A CIDADE DE CADA UM,  que incluiu um livreto sobre o antigo Ginásio Mineiro entre suas publicações. Assim, causando grande interesse, acaba de sair COLÉGIO ESTADUAL (2014) de autoria de Renato Moraes, que enfrentou o desafio de resumir toda a vasta legenda do educandário nos moldes da coleção.  Moraes se saiu muito bem e é provável que, estimulados por seu texto, sejam publicados não só o livro esperado mas os de outros historiadores e/ou ex-alunos e/ou professores. Entre estes, cito a professora Beatriz Alvarenga e o Eulâmpio Morais. Entre os ex-alunos é até difícil citar, tantos que são escritores. Há  também dados sobre o colégio em biografias e auto-biografias. Eu próprio, em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2003), descrevo o colégio ainda no Barro Preto, durante o ano de seu centenário.
            Coincide que neste ano de 2014 completam-se cem anos do antigo prédio da Faculdade de Medicina da UFMG, criminosamente demolido. Abaixo apresento o que escrevi sobre esta data, inclusive a referencia à demolição de duas das sedes do Colégio Estadual, uma delas onde estudei.

TRÊS INESTIMÁVEIS EDIFICAÇÕES DEMOLIDAS EM NOME DA MODERNIDADE
João Amílcar Salgado
            Os edifícios da Faculdade de Medicina, da Faculdade de Direito, ambas hoje da Universidade Federal de Minas Gerais, e do antigo Ginásio Mineiro, depois Colégio Estadual, foram demolidos criminosamente em nome da modernidade, a partir da década de 50 do século 20. Nessa época a modernidade estava em moda por influência da construção de Brasília. Juscelino Kubitschek (JK) não demoliu uma cidade para em seu lugar construir Brasília. Ele deixou o Rio de Janeiro intacto e construiu a nova capital onde não havia qualquer edifício. Quando construiu hotéis modernos em Diamantina e Ouro Preto, ele o fez sem causar demolição de prédios históricos. Assim não seria justo atribuir diretamente a JK as demolições das faculdades e do colégio. Os que decidiram tais demolições estavam influenciados por ele e queriam mesmo imitá-lo – mas de maneira totalmente infeliz. Talvez mesmo desejassem que seus nomes se eternizassem associando-os à eternização, de fato ocorrida, do nome do notável presidente.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWED-OqlRUhPFDu0qB-OTG1B8MI4vDgvsZbVX8F6XPRUhZCxMjhW8XqqMVItYAKEj8tb_Hz8kH_iltdTOVSdedkz1ukYIjrfoDkCg2V5B9c1ULvnTbicd0JCcILC8wb04g7TmBRwGuSKce/s1600/07+Fac.Livre+de+Dir..jpgAntigo prédio da Faculdade de Direito da hoje UFMG, na praça Afonso Arinos, demolido em 1958
http://img407.imageshack.us/img407/2658/ginasio.png
GINÁSIO MINEIRO na RUA DA BAHIA, atrás da praça da liberdade – prédio também criminosamente demolido, prenúncio das demolições ora apontadas
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvoLToXylet7UhiLkfMLaRxBOg8caTYNAnF80jso9VV12-J0XiXJShcdHnR_WwK3_KTASpem8kw35hRENeW-wBYqOmp1jFMwQ-1acFmiI3kZFBTMeM1vHTzCRsb82I2UONvlZ1i8FOceeW/s1600/Gin.Mineiro+1.jpgPrédio do antigo Ginásio Mineiro, depois Colégio Estadual, na avenida Augusto de Lima, demolido depois de 1956 para ser substituído pelo atual edifício do Forum,
            O prédio da Faculdade de Direito inaugurado em 1901, foi criminosamente demolido em 1958 e substituído pelo edifício Antonio Martins Villas-Boas.  O prédio da Faculdade de Medicina foi inaugurado em 1914 e criminosamente demolido em 1958, sendo substituído pelo edifício Oscar Versiani Caldeira.  O Ginásio Mineiro, sucessor do Liceu Mineiro, teve seu externato transferido de Ouro Preto para Belo Horizonte em 1898, onde ficou em belo prédio, na rua da Bahia, próximo à praça da Liberdade, depois criminosamente demolido. Foi transferido para o bairro Serra, depois para onde hoje é o Minas Centro e  acabou-se fixando no bairro Barro Preto (foto). Dali foi transferido para o bairro Santo Antônio (onde havia o Regimento de Cavalaria da Polícia Militar), com o nome de Colégio Estadual Milton Campos, em novo prédio inaugurado em 1956 e projetado por Niemeyer em 1954. Neste mesmo ano, o belo prédio da avenida Augusto de Lima foi ocupado pelo Colégio Militar. Este foi logo  levado para a Pampulha, para que o histórico prédio fosse criminosamente demolido  e ali instalado o edifício Milton Campos do Fórum Lafayette, em 1980.
            Em 2014 comemoramos o centenário da inauguração do antigo edifício da Faculdade de Medicina, infelizmente demolido em 1958.
Devemos este preciosíssimo risco à devoção de Pedro Nava à memória da Faculdade e de Minas.
Figura 2. Raríssima foto feita por visitante português e publicada em periódico em Portugal, ofertada ao Cememor pelo ilustre arquiteto e historiador Luciano A. Peret.     Trata-se do prédio da Faculdade de Medicina da hoje UFMG ainda em construção e assim provavelmente datada de 1913.
 Figura 3. Foto de 14-06-1958, em que docentes e estudantes deixam à posteridade a prova de seu criminoso menosprezo pela memória de sua Faculdade. A demolição do edifício da Faculdade de Medicina da hoje UFMG começaria no dia seguinte e o professor discordante desse ato, Oromar Moreira, recolheria pedaço de sua platibanda e depois o doaria ao acervo do Centro de Memória, de onde também seria jogado fora.

[TEXTO INICIALMENTE REDIGIDO EM FEVEREIRO DE 2014 PARA A COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DO PREDIO ANTIGO DA FACULDADE DE MEDICINA DA UFMG, A SER DISTRIBUÍDO NA AULA INAUGURAL DO 2º SEMESTRE DE 2014]

            

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

JAIR LEOPOLDO RASO é um dos maiores neuro-cirurgiões brasileiros. Além disso, é autor, diretor e ator de teatro. Além disso, escreve não só oportunas crônicas médicas como deliciosas crônicas do cotidiano. Todos os clientes que encaminhei a ele se tornaram seus fãs e seus amigos. Ele está na tradição da medicina mineira de unir competência técnica com arte e humanismo, sem que cada área prejudique as demais. Sugiro aos amigos que passem a leitores de seu blogue. E que não percam as peças de teatro de que ele participe.