COLÉGIO
ESTADUAL - UMA LEGENDA BELORIZONTINA
João Amílcar Salgado
Certo dia chegam ao Centro de Memória da Medicina de
Minas Gerais o psiquiatra Ataúlpho da Costa Ribeiro, o cartunista Fernando
Pieruccetti e a historiadora Francelina Drummond. Os três propunham publicar a
reedição fac-similar do livro ERÁRIO MINERAL (1735), de autoria do
cirurgião luso Luís Gomes Ferreira, e a HISTÓRIA DO COLEGIO ESTADUAL DE
MINAS GERAIS, de autoria de Pieruccetti.
Que relação havia entre a memória da medicina e o colégio? Foi então que
esses três arautos nos comunicaram algo sensacional: investigando as origens
coloniais do colégio, Pieruccetti descobriu que neste houve o início do ensino
médico no Brasil, em 1801. O Erário Mineral
foi reeditado em 1997, mas a História do Colégio não foi publicada, em virtude
do falecimento de Fernando em 2004. O historiador, entretanto, antecipou os
dados referentes ao curso de cirurgia, na Revista Médica de Minas Gerais, em
1992 (http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-114956).
Em 2004, liderados por Ernesto Lentz e Norma Veloso
Chaves, promovemos um almoço dos formandos do centenário do colégio, com a
presença dos professores Beatriz Alvarenga, Aluizio Pimenta, Elias Murad e
Wagner Brandão. Em meio a evocações humorísticas, foi lembrada a urgência de um
livro abrangente, antes que muita coisa fosse esquecida ou perdida.
Prosseguimos na expectativa de que a família e/ou o
grande amigo Ataulpho efetivassem a publicação da obra completa de Pieruccetti,
o que se espera para breve. Enquanto isso ótima iniciativa teve a coleção BH –
A CIDADE DE CADA UM, que incluiu um
livreto sobre o antigo Ginásio Mineiro entre suas publicações. Assim, causando
grande interesse, acaba de sair COLÉGIO ESTADUAL (2014) de autoria de
Renato Moraes, que enfrentou o desafio de resumir toda a vasta legenda do educandário
nos moldes da coleção. Moraes se saiu
muito bem e é provável que, estimulados por seu texto, sejam publicados não só
o livro esperado mas os de outros historiadores e/ou ex-alunos e/ou
professores. Entre estes, cito a professora Beatriz Alvarenga e o Eulâmpio
Morais. Entre os ex-alunos é até difícil citar, tantos que são escritores.
Há também dados sobre o colégio em
biografias e auto-biografias. Eu próprio, em meu livro O RISO DOURADO DA
VILA (2003), descrevo o colégio ainda no Barro Preto, durante o ano de seu
centenário.
Coincide que neste ano de 2014 completam-se cem anos do
antigo prédio da Faculdade de Medicina da UFMG, criminosamente demolido. Abaixo apresento o que escrevi sobre esta data,
inclusive a referencia à demolição de duas das sedes do Colégio Estadual, uma
delas onde estudei.
TRÊS
INESTIMÁVEIS EDIFICAÇÕES DEMOLIDAS EM NOME DA MODERNIDADE
João Amílcar Salgado
Os edifícios da Faculdade de Medicina, da Faculdade de
Direito, ambas hoje da Universidade Federal de Minas Gerais, e do antigo
Ginásio Mineiro, depois Colégio Estadual, foram demolidos criminosamente em
nome da modernidade, a partir da década de 50 do século 20. Nessa época a
modernidade estava em moda por influência da construção de Brasília. Juscelino
Kubitschek (JK) não demoliu uma cidade para em seu lugar construir Brasília.
Ele deixou o Rio de Janeiro intacto e construiu a nova capital onde não havia qualquer
edifício. Quando construiu hotéis modernos em Diamantina e Ouro Preto, ele o
fez sem causar demolição de prédios históricos. Assim não seria justo atribuir
diretamente a JK as demolições das faculdades e do colégio. Os que decidiram
tais demolições estavam influenciados por ele e queriam mesmo imitá-lo – mas de
maneira totalmente infeliz. Talvez mesmo desejassem que seus nomes se
eternizassem associando-os à eternização, de fato ocorrida, do nome do notável
presidente.


GINÁSIO MINEIRO na RUA DA BAHIA, atrás da praça da liberdade
– prédio também criminosamente demolido, prenúncio das demolições ora apontadas

O prédio da Faculdade de Direito inaugurado em 1901, foi
criminosamente demolido em 1958 e substituído pelo edifício Antonio Martins Villas-Boas. O prédio da Faculdade de Medicina foi
inaugurado em 1914 e criminosamente demolido em 1958, sendo substituído pelo
edifício Oscar Versiani Caldeira. O
Ginásio Mineiro, sucessor do Liceu Mineiro, teve seu externato transferido de
Ouro Preto para Belo Horizonte em 1898, onde ficou em belo prédio, na rua da
Bahia, próximo à praça da Liberdade, depois criminosamente demolido. Foi
transferido para o bairro Serra, depois para onde hoje é o Minas Centro e acabou-se fixando no bairro Barro Preto (foto).
Dali foi transferido para o bairro Santo Antônio (onde havia o Regimento de
Cavalaria da Polícia Militar), com o nome de Colégio Estadual Milton Campos, em
novo prédio inaugurado em 1956 e projetado por Niemeyer em 1954. Neste mesmo
ano, o belo prédio da avenida Augusto de Lima foi ocupado pelo Colégio Militar.
Este foi logo levado para a Pampulha,
para que o histórico prédio fosse criminosamente demolido e ali instalado o edifício Milton Campos do
Fórum Lafayette, em 1980.
Em 2014 comemoramos o centenário da inauguração do antigo
edifício da Faculdade de Medicina, infelizmente demolido em 1958.

Devemos este
preciosíssimo risco à devoção de Pedro Nava à memória da Faculdade e de Minas.

Figura 2. Raríssima
foto feita por visitante português e publicada em periódico em Portugal,
ofertada ao Cememor pelo ilustre arquiteto e historiador Luciano A. Peret. Trata-se do prédio da
Faculdade de Medicina da hoje UFMG ainda em construção e assim provavelmente
datada de 1913.

[TEXTO INICIALMENTE
REDIGIDO EM FEVEREIRO DE 2014 PARA A COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DO PREDIO ANTIGO
DA FACULDADE DE MEDICINA DA UFMG, A SER DISTRIBUÍDO NA AULA INAUGURAL DO 2º
SEMESTRE DE 2014]