FUNDAÇÃO
CLÓVIS SALGADO: MINEIRÃO E FUNDAÇÃO ME LEMBRAM MUTILAÇÃO
João Amílcar Salgado
Em
setembro de 2015 Belo Horizonte
comemora os 50 anos do Mineirão e os 45
anos da Fundação Clóvis Salgado
1960
foi o último ano de meu curso de medicina e também o último ano do governo JK. O
novo prédio da faculdade era para ser inaugurado pelo Juscelino no começo desse
ano, quando ele proferiria a aula magna de abertura dos cursos da hoje UFMG. O dinheiro para o prédio foi desviado para o
término de Brasília e assim JK só inaugurou o auditório, ficando o resto da
obra ainda em andaimes. Gilberto Lino Vieira era o presidente do diretório
acadêmico e eu era seu braço direito. Fomos procurados pelo prefeito Jorge Carone
para que os estudantes enxertassem na aula inaugural as assinaturas do governador
Bias Fortes e do presidente Kubitschek, autorizando a criação do Mineirão.
Concordamos e a coisa aconteceu.
Hoje
lamento essa irresponsabilidade. Nenhuma dessas pessoas citadas tinha o direito
de mutilar a cidade universitária, com tal decisão. O grande dirigente
esportivo Francisco de Castro Cortes já vinha lutando pelo futuro Mineirão e
sua proposta era localiza-lo onde hoje é o bairro Belvedere e o BH Shopping. Assim,
a área original do campus
universitário sofreu sua principal amputação, embora não a única. O trecho
contíguo da avenida Antonio Carlos e quase todas as atuais áreas limítrofes da
UFMG foram “invadidos” com argumentos injustificáveis, semelhantes aos usados
para abocanhar o enorme território do Mineirão.
Igualmente
infelizes e criminosas foram as sucessivas mutilações da área reservada ao
Parque Municipal. A principal delas foi um quarteirão inteiro ocupado pela
faculdade federal de Medicina e entidades da saúde, mas inclui um hipermercado
e o outro lado do rio Arrudas. O teatro municipal que substituísse o antigo
teatro e cine Metrópole foi improvisado como Teatro Francisco Nunes, mas o
definitivo, projeto de Niemeyer, ficou só nos alicerces e no porão. Foi nesse
porão que nosso Jarbas Juarez, recém-chegado de Nepomuceno, recebeu sua
primeira aula de Guignard. Desde 1940, a
cantora Lia Salgado, esposa de Clóvis Salgado, sonhava em exibir seu talento no
palco desse teatro, que seria depois denominado Palácio das Artes. Mais uma vez
o dinheiro consumido por Brasília não permitiu a dispendiosa edificação e o
trio Lia-JK-Israel Pinheiro arquivou o requinte de Niemeyer e exigiu do
engenheiro Hélio Ferreira Pinto a simplificação do projeto.
Em
acréscimo a esses fatos lamentáveis, há mais um neste aniversário. As
comemorações não fazem a devida
referencia a personagens de mérito desse
segmento da história mineira. Em ambos os casos, seria oportuno lembra-las,
desde, entre vários outros, o professor Camilo Fonseca, que plantou com altíssima
competência a grama do estádio, até os fascinantes maestros Sérgio Magnani e
Luiz Aguiar, sendo este meu ex-colega do curso de Filosofia.
NOTA.
No hotel São Paulo, da família Cortes, os nepomucenenses eram sempre carinhosamente
recebidos.