AS VACINAS E A ESPERANÇA
João Amílcar Salgado
Agora
é a hora de perguntar por aquelas vacinas que são velhas promessas: hanseníase,
malária, sífilis, doença de Chagas, riquétsia, príon, helmintíases e neoplasmas.
Desde o século 19, cada vacina que aparecia era motivo de esperança para todos
os males, mas os insucessos foram frequentes. O próprio Carlos Chagas deve ter
acreditado que a vacina contra a doença descoberta por ele, em 1909, seria logo
possível, já que 3 anos antes, seu auxiliar Alcides Godoy descobrira a vacina
do carbúnculo. A primeira tentativa foi de Émile Brumpt. Com a tecnologia
genômica, as esperanças hoje renascem.
Eu
próprio convivi com esta questão, na tripanossomose, na esquistossomose, na
gripe, na estrongiloidose e na leishmaniose, acompanhando os esforços, no âmbito
das imunizações em geral, de José Noronha Peres, John Enders, Albert Sabin, Zigman
Brener, Humberto Menezes, Mauricio Martins Rodrigues, Israel e Ruth Nussenzweig,
Luiz Hidelbrando, Henrique da Rocha Lima, José Lemos Monteiro, Geraldo Chaia,
César Barros Vieira, José Teubner, Archimedes Theodoro, José Geraldo Ribeiro,
Edward Tonelli, Elmo Peres, Giovanni Gazzinelli, Samuel Pessoa, Paulo Magalhães
e Wilson Mayrink. Enquanto isso, acompanhei também as erradicações, sem vacina,
da malária no Brasil (vale do rio Grande-Paraná, que repetiu a vitória contra o
anófeles gambiae) e, em outros países, recentemente na China. Faço
homenagem especial a dois Josés, notáveis cientistas mineiros: José Lemos
Monteiro, mártir da ciência, e José Noronha Peres, o primeiro brasileiro a
desenvolver, na epidemia de 1957, uma vacina antigripal.
Na
atual pandemia devemos louvar a maravilhosa descoberta da tecnologia mRNA e
lamentar a monumental ignorância dos detratores das vacinas em geral.