João Amílcar Salgado

sábado, 11 de abril de 2015

CENTENÁRIO DE NOZINHO GUSMÃO
www.youtube.com/watch?v=nhOw8zj56fM
Vejam este vídeo comemorativo deste centenário
Associando-nos à homenagem a nosso inesquecível Nozinho (Nathan) Gusmão, anexamos o texto do qual ele é o primeiro autor, apresentado ao Congresso de História da Medicina de Salvador, Ba, 2003. Seu relato oral foi colocado em formato adequado à comunicação. O vídeo acima e o  texto anexo não esgotam a homenagem devida. Sugerimos que o conjunto de seus relatos seja substrato de um livro, principalmente os referentes a sua vida de tropeiro. Imensa é nossa saudade desse companheiro de causos sem fim. joão&leila

ECO BRASILEIRO AO TAN-TAN DE BROCA

Natham Gusmão. Sebastião N. S. Gusmão, João Vinícius Salgado

Pierre Broca, cirurgião e antropólogo francês, publicou, em 1861, em Paris, o artigo Perda da fala: amolecimento crônico e destruição parcial do lobo anterior esquerdo do cérebro, no Boletim da Sociedade de Antropologia (Bull. Soc. Anthropol  1861, 2, 219), texto pioneiro sobre o sinal clínico da afasia. Conclui por apontar a localização cerebral da linguagem. Seu estudo foi ocasionado por um paciente que, depois de lesão em tal área, deixou de falar, passando a emitir, repetitivamente, apenas a  expressão tan-tan. Daí, o termo tantã passou a designar, na linguagem vulgar, pessoa amalucada ou ligeiramente débil mental. No dicionário Aurélio, o autor do verbete, mostra ignorar a origem da palavra e pergunta se não deriva de tonto. É possível, entretanto, que a vulgarização do vocábulo tenha decorrido da semelhança sonora entre tan-tan e tonto.  Estudos posteriores mostraram que o resquício de linguagem capaz de permanecer em afásicos está ligado à esfera emotiva mais profunda, o que está de acordo com as idéias de Antônio Damásio, expostas no livro O Erro de Descartes – Emoção, Razão e o Cérebro Humano. 

Na memória de uma família brasileira, recolhida por um dos presentes autores, há o registro de um avô que, após lesão cerebral seletiva, passou a responder a qualquer tentativa de diálogo com forte palavrão (puta que pariu). Esta pessoa antes  não fazia uso de  linguagem chula, no trato com o público, pois exercia a função de terapeuta prático, pois a cidade de Itamarandiba, em Minas Gerais, não contava com médico formado, no final do século 19. Fazia uso inclusive do Chernoviz e outros livros de diagnóstico e terapêutica. Seu filho herdou sua ocupação e vários de  seus descendentes e colaterais têm-se distinguido como clínicos e cirurgiões.  Depois de sua doença, mesmo sem poder dialogar, prosseguiu no atendimento a sua prestigiosa clientela, inclusive sendo transportado a cidades vizinhas,  com a diferença de que, a qualquer dúvida sobre sua prescrição escrita, apresentava a mesma resposta. Curiosamente, o caso brasileiro foi contemporâneo do relatado por Broca. 

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