João Amílcar Salgado

sábado, 30 de maio de 2015

A SÍNDROME DO CARRAPATO DA BALEIA
João Amílcar Salgado
            Com um patrimônio bruto incalculável, a PETROBRAS teve um faturamento de 305 bilhões de reais em 2013, investe mais de 100 bilhões de reais por ano, opera uma frota de 326 navios, tem 35.000 quilômetros de dutos, mais de 17 bilhões de barris em reservas, 15 refinarias e 134 plataformas de produção de gás e de petróleo. Uma auditoria apontou que o escândalo apelidado de LAVA-JATO causou um prejuízo de 21,6 bilhões, sendo que 1,6 bilhões corresponde ao desfalque realizado pelos corruptos   ora investigados. Isso quer dizer que a empresa, tão querida dos brasileiros, foi vítima de dois grupos de criminosos: os corruptos que surrupiaram 1,6 bilhões e os especuladores financeiros que a desfalcaram adicionalmente até atingir 21,6 bilhões. O objetivo dos especuladores não se restringe a acionar a grande imprensa para exigir a condenação dos corruptos bem como a devolução do total roubado. Seu real objetivo é continuar fazendo com que a empresa se enfraqueça continua e progressivamente. Para isso orquestrarão a realimentação do escândalo, acrescida do desemprego que as empreiteiras culpadas e as ainda não-culpadas providenciarão. Ao término de tal conspiração, acreditam que a gigantesca estrutura, antes intocável, estará tão exaurida que ficará pronta para ser privatizada.
            Pode dizer-se que a SÍNDROME DO CARRAPATO DA BALEIA chegou ao grande público por meio do golpe da ladranzana Jorgina de Freitas - a procuradora previdenciária, que, diante da enorme soma confiada a suas mãos, armou, entre 1988 e 90, um esquema de desvio totalizado em mais de dois bilhões. Fugiu do país até ser presa na Costa Rica, em 1994. A síndrome exige que haja a disponibilidade de gigantesca quantidade de dinheiro, cujo acúmulo crescente ocorra em descompasso com o respectivo esquema fiscal. Nesse descompasso, pouquíssimos agentes dominam os registros e são tentados a concluir que, de soma tão grande, é fácil desviar somas relativamente pequenas, dificilmente percebidas pelos colegas corretos e muito menos pelo mega-organismo predado.
Daí o símile: um animal doméstico com carrapatos pode entrar em anemia e morrer. Uma baleia com carrapatos nem cócega sente. Assim, um desvio menor e prolongado pode ser um crime perfeito e pode traduzir-se em acúmulo biliardário. Gigantes descontrolados no Brasil não eram tão significativas quando o PIB brasileiro era medíocre no mundo. A partir de 2013 o Brasil supera o PIB britânico e surge a  evidência de que muitas baleias brasileiras estão com carrapatos, sendo a PETROBRÁS a primeira a ser revelada com estardalhaço - e está muito longe de ser a única.
POSIÇÃO
2012
2015
2016
2018
EUA
EUA
EUA
EUA
CHINA
CHINA
CHINA
CHINA
JAPÃO
JAPÃO
JAPÃO
JAPÃO
ALEMANHA
ALEMANHA
ALEMANHA
ALEMANHA
FRANÇA
FRANÇA
BRASIL
BRASIL
REINO UNIDO
BRASIL
FRANÇA
RÚSSIA
BRASIL
REINO UNIDO
RÚSSIA
FRANÇA





Especuladores financeiros internacionais, capitaneados pelo grupo do jornal THE ECONOMIST, julgando insuportável ver o Brasil na frente do Reino Unido, consideram prioritário frear o crescimento tupiniquim, ainda  mais que, sem freio, o país será, em 2018, a 5ª economia mundial. E faz parte do freio privatizar a Petrobrás.
E tudo isso não é só isso. A coisa não cessa aqui. O gigantismo da baleia implica a dificuldade de detecção do crime, dificuldade esta que é estímulo ao crescimento do delito, além de estímulo à disseminação de ultrajes análogos em organismos análogos. Sem dúvida nenhuma, a baleia da Petrobrás se reproduz na área elétrica, da saúde, da educação, do transporte, da extração de madeira, dos bancos e outras. Quando eram esperadas, uma a uma, as denúncias para tais áreas, surgem dois estrondosos escândalos comprobatórios da síndrome ora descrita: o desabamento de um viaduto em Belo Horizonte e a prisão de cartolas da Fifa.
O caso do viaduto serve para ilustrar como um crime, tão inacreditável como intolerável, pode evoluir para pizza. A consequência lógica seria o prefeito renunciar e também seria imediatamente preso o superintendente público de transporte - trancafiado junto com o diretor da empresa de projeto, algemado ao diretor da empresa executora. Nada aconteceu.  Já o caso da Fifa vai servir para ilustrar a diferença de como a coisa é tratada no Brasil e fora dele.   Podemos presenciar pela tevê e pela internete uma pizza transnacional com padrão Fifa.
Alguém justificou a impunidade desses empresários invocando o medo de que eles desempreguem seus operários. Quase ao mesmo tempo, uma justificativa mais abrangente foi ouvida. Foi quando a doleira-amante do doleiro-mór proferiu a frase que vai incomodar muita gente por muito tempo: “NOSSA ECONOMIA É MOVIDA A CORRUPÇÃO: SEM CORRUPÇÃO O BRASIL NÃO ANDA”. Conforme o desfecho do caso Fifa, a frase da criminosa pode ter novo alcance: “A ECONOMIA OCIDENTAL GLOBALIZADA É MOVIDA A CORRUPÇÃO: SEM CORRUPÇÃO O MUNDO NÃO ANDA.








quarta-feira, 6 de maio de 2015

DIANTE DE ESCÂNDALO COMO ESSE NADA ACONTECE
João Amílcar Salgado
Muitos sabem que sou estudioso da relação entre publicidade e saúde. Venho anotando os grandes escândalos nesse negócio. Agora acontece mais um.
Em abril de 2015, teve início a seguinte campanha promovida pela corporação dos farmacêuticos:
DIGA NÃO À AUTOMEDICAÇÃO Criado em Segunda, 27 Abril 2015 12:10 Ações de conscientização da campanha pelo Uso Racional de Medicamentos 2015 têm início no dia 04 de maio, na rodoviária de Belo Horizonte. Projeto deve percorrer ainda outras 17 cidades, mobilizando farmacêuticos e acadêmicos para esclarecerem a população sobre os riscos da automedicação  Tomar medicamentos por conta própria ou sem orientação adequada é um dos grandes problemas de saúde pública no Brasil. Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) apontam os medicamentos como os maiores agentes causadores de intoxicação no país, tendo sido registrados 27.008 casos de intoxicação medicamentosa em 2012.  Para conscientizar a população sobre os riscos que envolvem a automedicação, o CRF/MG dá início à terceira edição da Campanha pelo Uso Racional de Medicamentos no dia 04 de maio, no terminal rodoviário de Belo Horizonte. O evento acontece na capital durante toda a semana em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – Regional Centro Sul, e apoio das faculdades de farmácia das instituições Faminas, Newton, Nova Faculdade, Pitágoras, UFMG e Una. A campanha vai percorrer ainda outras 17 cidades com ações de rua, mobilizando farmacêuticos e acadêmicos para prestarem serviços farmacêuticos gratuitos de orientação à população. 

            
É espantoso que esta campanha apareça, em importante emissora de rádio, intercalada entre a propaganda da panaceia MANTEIGA DE SUCURI, anunciada como cura de qualquer doença, e a propaganda da panaceia REUMARTROSE, anunciada como cura de qualquer reumatismo. Nem a corporação farmacêutica, nem a corporação jornalística manifestam qualquer estranheza, ou melhor, ambas parecem considerar todo esse escândalo como coisa normalíssima.