A
SÍNDROME DO CARRAPATO DA BALEIA
João Amílcar Salgado
Com um patrimônio bruto
incalculável, a
PETROBRAS teve um faturamento de 305 bilhões de reais em 2013, investe mais de
100 bilhões de reais por ano, opera uma frota de 326 navios, tem 35.000 quilômetros
de dutos, mais de 17 bilhões de barris em reservas, 15 refinarias e 134
plataformas de produção de gás e de petróleo. Uma auditoria apontou que o
escândalo apelidado de LAVA-JATO causou um prejuízo de 21,6 bilhões, sendo que
1,6 bilhões corresponde ao desfalque realizado pelos corruptos ora investigados. Isso quer dizer que a
empresa, tão querida dos brasileiros, foi vítima de dois grupos de criminosos:
os corruptos que surrupiaram 1,6 bilhões e os especuladores financeiros que a
desfalcaram adicionalmente até atingir 21,6 bilhões. O objetivo dos
especuladores não se restringe a acionar a grande imprensa para exigir a
condenação dos corruptos bem como a devolução do total roubado. Seu real
objetivo é continuar fazendo com que a empresa se enfraqueça continua e
progressivamente. Para isso orquestrarão a realimentação do escândalo,
acrescida do desemprego que as empreiteiras culpadas e as ainda não-culpadas
providenciarão. Ao término de tal conspiração, acreditam que a gigantesca
estrutura, antes intocável, estará tão exaurida que ficará pronta para ser
privatizada.
Pode dizer-se que a SÍNDROME DO
CARRAPATO DA BALEIA chegou ao grande público por meio do golpe da ladranzana
Jorgina de Freitas - a procuradora previdenciária, que, diante da enorme soma
confiada a suas mãos, armou, entre 1988 e 90, um esquema de desvio totalizado
em mais de dois bilhões. Fugiu do país até ser presa na Costa Rica, em 1994. A
síndrome exige que haja a disponibilidade de gigantesca quantidade de dinheiro,
cujo acúmulo crescente ocorra em descompasso com o respectivo esquema fiscal.
Nesse descompasso, pouquíssimos agentes dominam os registros e são tentados a
concluir que, de soma tão grande, é fácil desviar somas relativamente pequenas,
dificilmente percebidas pelos colegas corretos e muito menos pelo
mega-organismo predado.
Daí o
símile: um animal doméstico com carrapatos pode entrar em anemia e morrer. Uma
baleia com carrapatos nem cócega sente. Assim, um desvio menor e prolongado
pode ser um crime perfeito e pode traduzir-se em acúmulo biliardário. Gigantes
descontrolados no Brasil não eram tão significativas quando o PIB brasileiro
era medíocre no mundo. A partir de 2013 o Brasil supera o PIB britânico e surge
a evidência de que muitas baleias
brasileiras estão com carrapatos, sendo a PETROBRÁS a primeira a ser revelada
com estardalhaço - e está muito longe de ser a única.
POSIÇÃO
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2012
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2015
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2016
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2018
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1ª
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EUA
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EUA
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EUA
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EUA
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2ª
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CHINA
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CHINA
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CHINA
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CHINA
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3ª
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JAPÃO
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JAPÃO
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JAPÃO
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JAPÃO
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4ª
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ALEMANHA
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ALEMANHA
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ALEMANHA
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ALEMANHA
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5ª
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FRANÇA
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FRANÇA
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BRASIL
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BRASIL
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6ª
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REINO UNIDO
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BRASIL
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FRANÇA
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RÚSSIA
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7ª
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BRASIL
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REINO UNIDO
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RÚSSIA
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FRANÇA
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8ª
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Especuladores
financeiros internacionais, capitaneados pelo grupo do jornal THE ECONOMIST,
julgando insuportável ver o Brasil na frente do Reino Unido, consideram
prioritário frear o crescimento tupiniquim, ainda mais que, sem freio, o país será, em 2018, a
5ª economia mundial. E faz parte do freio privatizar a Petrobrás.
E tudo isso não é só isso. A
coisa não cessa aqui. O gigantismo da baleia implica a dificuldade de detecção
do crime, dificuldade esta que é estímulo ao crescimento do delito, além de
estímulo à disseminação de ultrajes análogos em organismos análogos. Sem dúvida
nenhuma, a baleia da Petrobrás se reproduz na área elétrica, da saúde, da
educação, do transporte, da extração de madeira, dos bancos e outras. Quando eram
esperadas, uma a uma, as denúncias para tais áreas, surgem dois estrondosos
escândalos comprobatórios da síndrome ora descrita: o desabamento de um viaduto
em Belo Horizonte e a prisão de cartolas da Fifa.
O caso do viaduto serve para
ilustrar como um crime, tão inacreditável como intolerável, pode evoluir para
pizza. A consequência lógica seria o prefeito renunciar e também seria imediatamente
preso o superintendente público de transporte - trancafiado junto com o diretor
da empresa de projeto, algemado ao diretor da empresa executora. Nada
aconteceu. Já o caso da Fifa vai servir
para ilustrar a diferença de como a coisa é tratada no Brasil e fora dele. Podemos presenciar pela tevê e pela
internete uma pizza transnacional com padrão Fifa.
Alguém justificou a impunidade
desses empresários invocando o medo de que eles desempreguem seus operários.
Quase ao mesmo tempo, uma justificativa mais abrangente foi ouvida. Foi quando a
doleira-amante do doleiro-mór proferiu a frase que vai incomodar muita gente
por muito tempo: “NOSSA ECONOMIA É MOVIDA A CORRUPÇÃO: SEM CORRUPÇÃO O BRASIL
NÃO ANDA”. Conforme o desfecho do caso Fifa, a frase da criminosa pode ter novo
alcance: “A ECONOMIA OCIDENTAL GLOBALIZADA É MOVIDA A CORRUPÇÃO: SEM CORRUPÇÃO
O MUNDO NÃO ANDA.
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