João Amílcar Salgado

quinta-feira, 18 de junho de 2015

WATERLOO ANIVERSARIA 200 ANOS E O QUE MINAS TEM COM ISSO?
João Amílcar Salgado
De 18 a 21/06/2015 está sendo encenada com fidelidade a batalha de Waterloo, ocorrida há 200 anos, em território entre a Bélgica e a Holanda. Nela Napoleão foi derrotado e foi trazido preso para a ilha de Santa Helena, não muito distante do Brasil. Os vencedores foram os ingleses, sendo glorificado o irlandês Wellington, comandante contra um inimigo considerado invencível. Que relação tem isso com Minas Gerais?
Há estrategistas que estudam a simulação da batalha e concluem que tecnicamente Napoleão a venceu. Quando, num jogo de guerra, o inimigo tecnicamente ganha e de fato perde, a primeira hipótese é traição. Quem teria traído Napoleão? Aí entra Minas Gerais. Acontece que grande parte dos bandeirantes  eram de origem flamenga, ou seja, belga. As famílias mais tradicionais de Nepomuceno têm forte ascendência flamenga, inclusive de gente originária de Waterloo. Em 1815, os controladores do ouro mineiro concluíram que a extração na superfície escasseava e deveria passar ao subsolo. A tecnologia para isso era britânica e, se Napoleão vencesse, a nova modalidade extrativa seria retardada. Melhor seria que Wellington vencesse. Deslocaram o desfecho da guerra para território flamengo e ali deram um jeito de Napoleão perder.
Depois de 1815, os ingleses chegaram a Minas Gerais e minas de subsolo, como Morro Velho, se multiplicaram.  Implantaram também o lucrativo trenzinho caipira. Em retribuição, o Império Britânico perguntou aos traidores que mais recompensa queriam, a troco de tão farto benefício. Como estavam ligados aos negros do Congo pela habilidade deles na mineração, os belgas pediram e receberam maravilhosa porção da África, que passou a  chamar-se Congo Belga. Mais tarde chegaria a Minas o rei da Bélgica para inaugurar a Companhia Belgo-Mineira. Não se sabe se chegou a ver uma exibição de congado. Foi inaugurado também o Instituto do Radium (depois Borges da Costa) para uso médico do radium, tecnologia revolucionária da época. E o radium era extraído de minério na época só existente no Congo Belga. Em 17-8-1926 a descobridora do radium, a polonesa Madame Curie, seria enviada pelos belgas para visitar o Instituto do Radium em Belo Horizonte, ao lado de sua filha Irene Curie (foto).

Há ainda dois fatos que ligam o tema ao Brasil. Assim como o ouro de Minas entrou na derrota de Napoleão, este pode ter morrido por causa da presença de seus sequazes no Brasil. Estes pretendiam sequestrar o prisioneiro da ilha de Santa Helena, mas o serviço secreto francês, ao tomar conhecimento da viagem deles a nosso país, ordenou envenenar o imperador com arsênico. O outro fato faz parte da história da medicina legal brasileira. Segundo o historiador Cristobaldo Mota, se um professor perguntar a um aluno se Napoleão esteve no Brasil e se a resposta for não, o aluno deve tomar zero. Isto porque o cadáver de Napoleão, indo da ilha à França, passou pelo Brasil.

domingo, 14 de junho de 2015

COMO ERA A CARA DE SANTO ANTÔNIO
João Amílcar Salgado
O dia de Santo Antônio, no ano de 2015, coincide com a revelação do rosto do santo, reconstituído a partir de seus restos mortais. Seu túmulo foi aberto e seu crânio foi tomografado e impresso tridimensionalmente. Os tecidos moles foram acrescentados, em harmonia com a estrutura óssea subjacente, e assim chegamos a saber como era sua feição mais provável. Surge então um senhor moreno, tipicamente um português lisboeta, bastante diferente das imagens disseminadas popularmente. Esse acontecimento é de particular importância para Nepomuceno, porque a cidade está incluída entre aquelas que contam com descendentes da família desse extraordinário santo.
Santo Antônio, antes de adotar o nome Antônio, era o jovem Fernando Bulhões Taveira de Azevedo e viveu de 1195 a 1231.  Parte desta família veio para o sul de Minas com o sobrenome Alves Taveira. Em Nepomuceno uma jovem da família Alves Taveira, de nome Escolástica Alves Taveira, se uniu a Joseph Luiz Garcia, um dos filhos de Mateus Luiz Garcia, o fundador da cidade.  Desse modo, desde cedo, numerosos  descendentes desse casal do início da Vila – os Alves Garcia -  se orgulham de serem parentes de Santo Antônio. Além disso, o genealogista Luiz Franco Junqueira, recentemente falecido,  pesquisava a possibilidade de que as famílias nepomucenenses que levam o sobrenome Alves, tivessem também tal ascendência: são os Alves, Alves Figueiredo, Alves Carrijo, Alves Barbosa e Alves Vilela. A família Taveira de Nepomuceno é a mais genuina e nela quase todos os filhos masculinos e alguns femininos se chamam Antônio e Antônia. Diante disso não é de admirar que os estudantes dos colégios sulmineiros apelidassem Nepomuceno como a terra dos Toninhos. Demais, como Santo Antônio foi maravilhoso pregador, a fama de Nepomuceno como terra dos oradores está perfeitamente explicada.

A Trumbuca ou Trombuca, depois de ser aldeia indígena e quilombo, foi uma fazenda satélite à grande fazenda do Morembá, dos Alves Garcia, sendo que Francisco Alves Garcia – o primeiro Chico Frade, filho de Escolástica e neto de Mateus – foi também o primeiro Taveira do lugar. Daí que o nome cristão da Trumbuca é Santo Antônio do Cruzeiro.  As fotos anexas apresentam os restos mortais do santo, seguidos de uma imagem de Santo Antônio loiro, ao lado de outra em que ele se parece mais com a reconstituição feita, a qual é vista em seguida. Meu grande interesse pelo caso está ligado a meus estudos sobre o branqueamento e até o aloiramento de morenos e negros que se tornaram personagens históricas.