O BRILHO DA
MEDICINA MINEIRA
João Amílcar Salgado
A medicina mineira tem bela história a dizer ao
mundo. A Minas européia inicia-se 200
anos depois do Brasil, e, já em 1735, produz o primeiro manual brasileiro para
a clínica diária: o ERÁRIO MINERAL, do luso Luís Gomes Ferreira. Nesse tempo,
há o martírio de Diogo Corrêa do Valle e a Europa lê sobre a Lagoa Prodigiosa
(Lagoa Santa), que atrai Lund, Burmeister e Saint Hilaire. Ainda no século 18,
contamos com o enciclopédico José Vieira Couto e o inigualável Francisco Mello
Franco: pioneiro na puericultura, na sexologia e na pedagogia superior -
enquanto os estudantes de medicina inconfidentes
deflagram a saga engajada dos estudantes brasileiros. Eram cúmplices de Tiradentes, este também
pioneiro nos hoje chamados cuidados primários de saúde
Em 1801, Vila Rica dá início ao ensino médico oficial
neste país. Aí a imprensa inaugural brasílica edita manuais, farmacopéia e até
elixir licencioso. Caeté oferece ao novo país o múltiplo Antônio Gonçalves
Gomide, seu primeiro psiquiatra, Sabará vê um de seus filhos, Joaquim Soares
Meirelles, fundar a Academia Imperial de Medicina e outro, Sinfrônio de
Abreu, inaugurar muito cedo nossa
anestesia geral. Rio Novo exibe Basílio
Furtado, vanguardeiro da arqueologia, e Formiga ostenta José Ferreira Pires,
dos primeiros no mundo em radiologia clínica -
enquanto outros brilham nacionalmente, ao lado de profissionais
imigrados. Minas é também origem da indústria nacional de saúde: estâncias,
sanatórios e remédios (de artesanais a industriais).
A medicina mineira inicia luminosa o século 20, com
Vital Brasil. Ocorre então a maior realização da ciência brasileira: a
descoberta da doença de Chagas. A
segunda foi também na área médica e também mineira: a descoberta da bradicinina
por Wilson Beraldo. Brilham também Hermenegildo Vilaça, pioneiro da cirurgia
moderna, Matias Vilhena, insuperável clínico em São Paulo, Agripa
Vasconcelos, fecundo
escritor-historiador, seguidos, entre outros,
pelos notáveis Antônio Silva Melo, Pedro A. Pinto, Alípio Correia Neto,
Ribe Portugal, Clóvis Salgado e José Ribeiro do Vale.
A fundação da Faculdade de Medicina hoje da Universidade
Federal de Minas Gerais enriquece ainda mais tais realizações. É a primeira
escola superior médica distanciada do litoral, institucionalizada pelo gigante
Cícero Ferreira. Irmã gêmea da
descoberta de Chagas, da modernidade de Belo Horizonte e da corrida
internacional a nosso minério, é também subproduto da tuberculose. A doença de
Hugo Werneck, Ezequiel Dias, Borges da
Costa e Cícero Ferreira, quatro de seus
fundadores, nos traz a Santa Casa moderna, a filial de Manguinhos e o Instituto
do Radium (o 1º das Américas). Manter os
ricos estudantes mineiros no Rio era manobra econômica que Aurélio Pires
neutralizou em combate memorável, resumido em seu livro.
Este, Chão de Ferro e Beira Mar de Pedro Nava, os textos
de Mendes Campos, de Pedro Salles, de Hilton Rocha, de Corrêa & Gusmão e de João Amílcar
Salgado, e ainda o do processo curricular e várias teses – fazem desta a mais
bem historiada faculdade, brindada ainda com fervilhante e rico Centro de
Memória. Demais, o currículo de 1975, com o internato rural e outras inovações,
colocou a UFMG entre as quatro vanguardas internacionais do ensino médico.
O conto Rosarita de Drummond na revista
estudantil Radium, o poema Mestre Aurélio Entre As Rosas, de
Nava, e a oração de Carleto Chagas a João Pessoa são marcos na literatura
brasileira. Eis exemplos de egressos invejáveis da FMUFMG: Juscelino
Kubistschek, o maior governante brasileiro; Baeta Viana, prógono da bioquímica
latinamericana; Beraldo, já citado; Nava, o maior memorialista do idioma; Pedro
Salles, pontífice em história; Guimarães Rosa, o mais criativo prosador da
língua; Osvaldo Costa, luminar internacional da dermatologia; Lemos Monteiro,
mártir da ciência; Amílcar Martins, epígono da parasitologia nacional; Paulo
Pinheiro Chagas, semiólogo, orador e historiador; Bogliolo, primaz da
patologia; Noronha Peres, grão-mestre da virologia brasileira; Rezende Neves,
comprovador no homem da anticoncepção hormonal; Hilton Rocha, maior
oftalmologista do país; Veiga Salles, partícipe primordial da química
nuclêica; Ivo Pitangui, maior cirurgião
plástico do mundo; Washington Tafuri, descobridor da primeira estrutura
secretora autonômica; Marcelo C. Christo, revolucionário da cirurgia do baço;
Ennio Leão, marco mundial do ensino pediátrico; W. Mayrink, imunizador contra a
leishmaniose; Hélio Pellegrino e Darci Ribeiro (este, ex-estudante), os mais
originais ideólogos políticos do país; Ângelo Machado, imensurável cientista e
escritor; Luiz P.Castro, expressão internacional em gastroenterologia; e Sérgio A. Oliveira, astro da cirurgia
cardíaca brasileira. Por fim, Chanina, Konstantin, LOR, Razuk, R.
Paolucci, Dângelo, João Gabriel e Tostão
ornam a lista com sua arte consagrada.
***
No ano 2000, entre as comemorações do início do novo
milênio, o Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais propôs a lista dos 60
maiores médicos mineiros já falecidos do século 20.
Médicos mineiros (e não mineiros que
atuaram em Minas Gerais) durante o século 20, mas já falecidos:
A – Autores de realizações máximas em qualquer
campo:
1.
CARLOS RIBEIRO CHAGAS
2.
JOÃO GUIMARÃES ROSA
3.
VITAL BRASIL MINEIRO DA CAMPANHA
4.
JUSCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA
5.
JOSÉ BAETA VIANA
6.
PEDRO DA SILVA NAVA
7.
WILSON TEIXEIRA BERALDO
8.
OSVALDO DE MELO CAMPOS
9.
OSVALDO GONÇALVES DA COSTA
10. CLÁUDIO ALAOR BERNHAUS DE LIMA
11. JOSÉ CARLOS FERREIRA PIRES
12. AGRIPA VASCONCELOS
B –
Cientistas notáveis:
13. EZEQUIEL CAETANO DIAS
14. OTÁVIO COELHO DE MAGALHÃES
15. JOSÉ AROEIRA DE SOUZA NEVES
16. CARLOS PINHEIRO CHAGAS
17. LUIGI BOGLIOLO
18. AMÍLCAR VIANA MARTINS
19. JOÃO BATISTA VEIGA SALES
20. JOSÉ DE MOURA GONÇALVES
21. LEAL PRADO
22. JOSÉ PELLEGRINO
23. SEBASTIÃO BAETA HENRIQUES
24. EURICO DE AZEVEDO VILLELA
25. RENÉ RACHOU
26. LINEU FREIRE MAIA
C – Líderes
e/ou organizadores:
27. CÍCERO FERREIRA RIBEIRO DA SILVA
28. HERMENEGILDO VILAÇA
29. EDUARDO BORGES DA COSTA
30. HUGO FURQUIM WERNECK
31. ALFREDO BALENA
32. CLÓVIS SALGADO DA GAMA
33. ÁLVARO DE BARROS
34. ALÍPIO CORREIA NETO
35. JOSÉ MARTINHO DA ROCHA
36. OTAVIANO DE ALMEIDA
........................................................................................
37. BELIZÁRIO AUGUSTO DE OLIVEIRA PENA
38. SAMUEL LIBÂNIO
39. ANTÔNIO ALEIXO
40. HENRIQUE MARQUES LISBOA
41. MÁRIO GOULART PENA
42. JOAQUIM ANTÔNIO DUTRA
43. JOSÉ LEMOS MONTEIRO DA SILVA
44. MATIAS DE VILHENA VALADÃO
45. GUILHERME BASTOS MILWARD
46. EDUARDO DE MENEZES
47. ALBERTO CAVALCANTI
48. DAVID RABELO
49. ADAUTO JUNQUEIRA BOTELHO
50. JÚLIO SOARES
51. ORESTES DINIZ
52. LUCAS MONTEIRO MACHADO
53. LUIZ ADELMO LODI
54. ANTÔNIO DA SILVA MELO
55. MÁRIO MENDES CAMPOS
56. HILTON RIBEIRO DA ROCHA
57. HÉLIO PELLEGRINO
58. JAVERT BARROS
59. JOSÉ FELDMAN
60. JOÃO GALIZZI
[DONATO VALE]
HOMENAGEM FORA DA LISTA A ALZIRA
NOGUEIRA REIS, MARIA TÓFANI, OLGA BOHOMOLETZ, [IRACEMA BACARINI, CONCEIÇÃO
MACHADO E ORCANDA ROCHA PATRUS*].
HOMENAGEM FORA DA LISTA AOS HERÓICOS
MÉDICOS DO INTERIOR (ver lista em
elaboração)
MERECEM MENÇÃO POR TEREM SIDO
INSISTENTEMENTE VOTADOS: HERMÍNIO FERREIRA PINTO, ALEIXO DE BRITO, JOSÉ FEROLA,
OTO CIRNE, RIVADÁVIA GUSMÃO, IAGO PIMENTEL, SÍLVIO MIRAGLIA, ÁLVARO AGUIAR,
BERARDO NUNAN, JOÃO AFONSO MOREIRA (PAI E FILHO), FLÁVIO MARQUES LISBOA, LINEU
SILVA, ZOROASTRO ALVARENGA, JOSÉ SILVA DE ASSIS, FLÁVIO NEVES, EURICO A
FIGUEIREDO E J COSTA CHIABI
[*FALECIDAS DEPOIS DO ANO 2000]