JOSÉ RENAN DA CUNHA MELO
Energicamente realizou sozinho o sonho
de quantos?
Graduou-se
em medicina pela UFMG em 1968 e logo juntou-se ao grupo de jovens que Celso
Afonso de Oliveira e eu iniciávamos na pesquisa, referente à doença de Chagas,
esquistossomose e estrongiloidose. O
primeiro trabalho de que participou intitulou-se TRATAMENTO DE CASOS AGUDOS DA
ESQUISTOSSOMOSE MANSONI COM HYCANTHONE (Revista do Instituto de Medicina
Tropical de São Paulo, 1971), sendo co-autores, além dele, os iniciandos José
Murilo Zeitune e Dalton Chamone, ambos hoje estrelas da clínica e da pesquisa
médica em Campinas e em
São Paulo. A publicação seguinte com os mesmos três
iniciandos foi o estudo intitulado POSSIBILIDADES EVOLUTIVAS CLÍNICAS NA
ESQUISTOSSOMOSE MANSONI, COM APRESENTAÇÃO
DE UM CASO DE EVOLUÇÃO ADAPTATIVA COMPLETA (mesma revista, 1972). Neste último
caso, a comissão editorial da revista quis simplificar o texto e reduzir a
referenciação bibliográfica, do que discordamos. O Dalton Chamone jê era
estagiário no instituto paulista e sua argumentação impressionou tanto seus
interlocutores que foi um dos fatores para que o retivessem ali.
Vale lembrar outros iniciandos
da época: Armando Carneiro, Edward Tonelli, Antonio Dílson Fernandes, José
Américo Campos, Sérgio Drummond, Amélio Maia, Lúcia Foscarini, José Maria Veiga
Azzi, J Diamantino, H Chaves, Luiz Geraldo Matos, Maria Suzana
Lemos, João Paulo Mendes de Oliveira, João Galizzi Filho, Antonio Candido Melo Carvalho,
Orcanda Rocha, Cid Sérgio Ferreira, Elisabete Lauar, Dirceu Greco, Anielo
Greco, Ciro Buldrini, Sebastião Soares Leal, Davidson Pires de Lima, Leonardo
Diniz, José Maurício Carvalho Lemos, Luiz Otávio Savassi Rocha, Cláudio Azevedo
Sales, Carlos Luiz Guedes, Carlos Faria Amaral, José Carlos Silveira, José Agostinho
Lopes, Júlio Anselmo de Souza, César de
Barros Vieira, Francisco Luiz Costa, José Nelson Mendes Vieira, Francisco
Caldeira Reis e José Carlos Gallinari .
Pela projeção que quase todos vieram a ter, pode avaliar-se a importância do
modelo de iniciação cientifica, de cujo desenvolvimento tive a satisfação de participar,
ao lado de Celso Afonso de Oliveira,
Luiz de Paula Castro, Tarcício Ribeiro Campos, Cid Veloso e Arnaldo Elian, com
o apoio essencial de João Galizzi. Fez parte dessa inovação a integração com
outras cadeiras clínicas, com pesquisadores na área da pedagogia médica e com
disciplinas pré-clínicas, havendo importante envolvimento dos professores José
Pellegrino, Zigman Brenner, Pedro Raso, Washington Tafuri, José de Souza
Andrade Fiho, Wilson Beraldo, Eurico
Alvarenga Figueiredo, Giovanni Gazzineli, Carlos Ribeiro Diniz, Lineu Freire
Maia, Jairo Bernardes, Célio Garcia e Domingos da Silva Gandra, os quais
contavam com iniciandos nas respectivas áreas.
A segunda das publicações
citadas ilustra a tendência de pesquisa clínica que foi então esboçada, a
partir de publicação anterior, intitulada REVISÃO CRÍTICA DOS DADOS QUE
FUNDAMENTAM O PROGNÓSTICO E A TERAPÊUTICA DA FORMA CRÔNICA DA DOENÇA DE CHAGAS
(Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 1964).
Trata-se da aplicação, em proveito da investigação clínica, de conhecida
peculiaridade da medicina mineira, cujo modelo completo é Carlos Chagas, que
consiste em querer sempre conjugar rara e incansável curiosidade bibliográfica
com igualmente rara e desassombrada versatilidade interdisciplinar. Assim fica
possível aventurar por temas evitados por sua complexidade e que estão
usualmente situados na província da fisiopatologia. Pois bem, cinco de nossos
iniciandos, Dalton Chamone, Antônio Cândido Melo Carvalho, Sebastião Soares
Leal, Antônio Dílson Fernandes e José Renan da Cunha Melo se mostraram radicais
na adoção dessa empreitada, sendo que os dois últimos chegaram ao extremo de
levar sua versatilidade a qualquer fronteira cirúrgica ou experimental.
No caso de José Renan da Cunha
Melo, são necessários os parágrafos
precedentes para que melhor se entenda
sua surpreendente sucessão de graduações: em medicina (1968), veterinárioa
(1983) e direito (2003), além de mestrado em fisiologia-farmacologia (1975) e
doutorado em cirurgia (1985) (todos esses diplomas pela UFMG) e ainda
pós-doutorado pelo National Heart Lung
and Blood Institute, Bethesda, EUA (1985-8). Como bacharel em direito, é
estudioso dos marcos legais da clonagem humana e da biotecnologia. Sendo cirurgião geral, hoje integra a equipe cirúrgica
do Instituto de Gastroenterologia da UFMG, entidade surgida exatamente do citado esforço de
iniciação científica.
Todos o professores da velha
guarda se entusiasmaram com seus talentos e procuraram retê-lo em seus
laboratórios: Wilson Beraldo, Luigi Bogliolo e João Resende Alves. Ele, por sua
vez, respondeu tamanho aplauso, fazendo seu mestrado e seu doutorado com
pesquisa experimental da tradição desta Universidade, ou seja, com a toxina de
nosso escorpião amarelo, descrito por sinal por um iniciando da pesquisa, de
perfil análogo ao seu, o ex-estudante de engenharia Osvaldo de Melo Campos -
depois grande luminar da clínica. Pesquisaram o mesmo animal Campos, Otavio de
Magalhães, Amílcar Viana Martins e Lineu Freire Maia. Também me honra que seu
doutorado, além da toxina escorpiônica, tenha tido por tema possíveis
manifestações digestivas da forma experimental da doença de Chagas, tal como
minha tese de mestrado, oito anos antes.
Quando estive na Universidade
de Londres em 1976, Richard Erlam, tratadista de cirurgia e fisiologia do esôfago, teceu entusiásticos elogios a José
Renan e se mostrou muito grato a este por ter-lhe chamado a atenção para a
doença de Chagas. Ressaltou que mesmo na ciência britânica era raro um
pesquisador da polivalência desse brasileiro. Quis conhecer nossa universidade
e aqui se emocionou quando lhe mostramos a cine-radiografia do esôfago da
célebre paciente Berenice. Os cirurgiões Richard Erlam e John Major, num
churrasco no sítio do primeiro nos arredores londrinos, quiseram saber de Luiz
de Paula Castro se o sistema educacional brasileiro era capaz de produzir muitos Josés Renans. Luiz respondeu que
raramente surge um, apesar do sistema educacional. Meu comentário foi observar que o mérito não
cabia ao sistema, mas aos pais do Renan, que ao lhe darem o nome Renan, estavam profetizando seu inquieto
e fulgurante brilho.
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