A
LEGENDA DE MEU BAOBÁ
Antoine de
Saint-Exupéry, aviador e pensador francês, escreveu o livro O PEQUENO
PRÍNCIPE, em 1943, em plena segunda guerra mundial. Na década seguinte, o
livro fez sucesso no Brasil e foi através dele que muita gente ficou sabendo
que existia uma árvore chamada baobá. Eu era bibliotecário do diretório
estudantil do curso médico e tive de adquirir múltiplos exemplares do pequeno
livro, que nos traz esta parábola poética e filosófica. Outro autor de sucesso
então era Jorge Amado e ele nos revelou o universo afro. Neste, Jorge fez brilhar
Pierre Verger, fotógrafo e etnógrafo francês, que adotou a Bahia como pátria,
inclusive a religião dos orixás. Outro que adotou essa crença foi o seleto
poeta e compositor Vinícius de Moraes.
Quando criei o Centro de Memória da Medicina de Minas
Gerais passei a procurar um consultor em medicina afro. Encontrei o Geraldo
André da Silva e perguntei-lhe que seria necessário para tal função. Ele foi
direto: faça este Centro me enviar à África. Ele foi e ficou
estagiando com um sacerdote da mais pura religião angolana. Quando voltava,
perguntou que devia trazer para mim, como agradecimento. Fui direto: uma
muda de baobá. Quando ele chegou, tremi de emoção, ao receber a muda de
uns 30 cm. Era inacreditável: mas
André, é proibido entrar no avião com isso! De fato, ainda lá, foi
avisado da proibição. Voltou a seu guru, que lhe arranjara a muda. Este disse: eu
encantei a muda, já está encantada, pode levar ao doutor que ele a vai receber.
A muda passa por um fiscal na entrada do avião, que não a vê. Viaja no colo do
portador, sem que ninguém da tripulação e dos passageiros a perceba. E desce em
Belo Horizonte do mesmo modo. Coloquei-a sobre o cimento de meu quintal e,
quando olho, a raiz já havia penetrado o cimento. Havia crescido mais do que eu
esperava. Para levar a Nepomuceno, foi necessária uma caminhonete. Mandei o
motorista ajeitar a muda na carroceria e, quando chego, ele tinha esqueletizado
a árvore, alegando que era para ela suportar o vento... Pensei: agora ela está morta... Mesmo
na certeza de que estava perdida, plantei-a carinhosamente. E não estava morta.
Encantada, está lá, cada vez maior, sob as bençãos de meus ancestrais angolanos
e do Padre Vítor. FOTOS DE PAI ANDRÉ E DO BAOBÁ NEPOMUCENENSE