A LEGENDA DO NEGRO CASCALHO
João Amílcar Salgado
A
região que inclui as cidades de Itumirim, Lavras, Nepomuceno, Cristais, Campo
Belo, Boa Esperança, Três Pontas e Campos Gerais foi palco, pouco depois de
1720, do início do mais importante fenômeno quilombola de Minas, que é a
epopeia do Quilombo do Ambrósio. Negros congoleses, cabindas, angolanos e
moçambicanos foram trazidos para apurar o ouro da garganta do Funil no rio
Grande. Os que fugiram se aldearam em Cristais onde foram massacrados.
Sobreviventes escaparam no rumo da Farinha Podre. Parte deles atravessou o rio
no estreito onde hoje é o Porto dos Mendes e se aquilombaram no morro do
Morembá e também nos morros da Calunga. Provavelmente após o incêndio do
quilombo da Calunga os melhores guerreiros se entrincheiraram atrás das elevações
da Serra das Três Pontas. O líder deles era
o negro Cascalho. Era tão hábil na guerrilha que, para derrota-lo, nada puderam
os garimpeiros, corujas e faiscadores - foi necessária força governamental. O
armamento dos bravos libertários sucumbiu ao maior número das armas de fogo. A
orelha de cada combatente foi cortada e todas ajuntadas. Um saco de orelhas
salgadas foi depositado na mesa do governador em Vila Rica. Uma delas era do
negro Cascalho, cujo retrato imaginário foi desenhado pelo pluri-artista João
Vinícius. Este negro é nosso primeiro herói. Deve figurar na parede principal
de nossas casas. É ele que homenageamos neste dia 20/11/2020, comemorativo da
consciência negra no Brasil.
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