João Amílcar Salgado

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024


 ÁRABES E ISRAELENSES

João Amílcar Salgado

Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020), digo que a disputa no jogo de damas, entre um Unes e um Antunes, é excepcional lição de Nepomuceno para o conflito no Oriente Médio. Agora em que o Brasil e Israel se envolvem em disputa – na qual se misturam ignorância histórica com “fake news” - nada mais oportuno que relembrar tudo isso. Sim, fomos capazes de inventar uma maneira de substituir o milenar conflito árabe-judeu pela secular harmonia entre imigrantes, acrescentando-lhe um coroamento esportivo.

Historicamente, o Brasil ocupa posição inigualável no acolhimento de descendentes de judeus e de imigrantes árabes. Se adotarmos um sentido lato ao termo palestino, podemos dizer que abrigamos o maior contingente mundial de descendentes judeus sefardinos e asquenazitas e, ao mesmo tempo, o maior contingente mundial de imigrantes “palestinos”. O atual presidente Luiz Inácio tem o sobrenome Silva que identificava originalmente os judeus lusos mais perseguidos pela inquisição, muitos deles se refugiando na França. Expoentes do mundo econômico-financeiro, do mundo médico, do mundo da comunicação coletiva (Wainer, Bloch, Waack, Abravanel, Herzog, Abramo, Neubarth, Brum, Dines, Sirotsky, Altman, Finkelstein) e do mundo político, (J. Wagner, Alcolumbre, Weber, Hoffmann, Hasselmann, Gleiser, Gasparian, Niemeyer, Brant e incalculáveis descendentes de paulistanos flamengos, estes estudados pelo judeu Isaias Golgher), são judeus que, de alguma forma, ascenderam ao poder (com o apoio ou não de, por exemplo, o judeu George Soros), enquanto Maluf, Temer, Alkmin, Hadad, Gabeira, Nassif, Sadi, Kfouri, Chediak, Simon, Kalil, Tebet, Feghali, Chamone,  Wanderlea, P. Baruch, Aziz, Kassab, Boulos, Nasser, Mansur, Yunes e Amin são árabes frequentadores do noticiário diário. Os hospitais Einstein e Sirio Libanes contam com profissionais e clientes de origem israelense e árabe sem distinção. Fui aluno do notável arquiteto Jarbas Bela Karman, judeu, que projetou o Einstein. Trabalhei com vários cientistas judeus e árabes. Colaborei em especial com meu amigo Adib Jatene, árabe. Sou discípulo e fraterno admirador do aristocrático cardiologista árabe-armênio Arnaldo Elian e do inigualável pneumologista judeu José Feldman. Na solenidade de meu ingresso na Academia de Medicina, fui protocolarmente conduzido ao assento por meu colega de pesquisas, o judeu Naftale Katz.  Sou colega de turma dos árabes Calil e Rasuk e da judia Marie Stein, egressa do gueto de Varsóvia.

Eu mesmo tenho o nome Amílcar que homenageia um líder árabe, tenho dois sobrinhos árabes e provenho de pelo menos cinco troncos judaicos. Um dos maiores escritores do mundo é o brasileiro árabe Jorge Amado, originalmente Ahmed. Célebres são o dicionarista Antônio Houaiss e os gramáticos Evanildo Bechara e Antônio Chediak, árabes. O médico e político árabe, Ladislau Lauar Sales, é meu inesquecível amigo. Traduzi e divulguei textos e pesquisas de Ralph Nader, árabe. Escrevi sobre o Nobel do judeu Einstein em confronto com o malogrado Nobel de Carlos Chagas.

Nepomuceno, na época do início da 2ª Guerra, hospedou de passagem o diplomata Oswaldo Aranha. Foi saudado aqui pela extraordinária oradora Alice Lima, prima de minha mãe. 10 anos depois, este estadista presidiu a Assembleia Geral da recém-fundada ONU, quando foi instituído o Estado de Israel, em 1948.

Vejam no youtube o que dizem Finkelstein e Altman

Leiam o livro de Altman: CONTRA O SIONISMO: BREVE HISTORIA DE UMA DOUTRINA COLONIAL E RACISTA (2023)


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