O LÍTIO, A PETROBRÁS E A
BOLÍVIA
João Amílcar Salgado
O presidente Lula, em 8/7/24, visita a Bolívia e
propõe renovar a parceria econômica com o vizinho, especialmente envolvendo o
gás e o lítio. Faz-se oportuno relembrar o que divulguei sobre isso em 24/3/21:
“ Em 1989, propus a Mário Covas, junto com o Almir
Gabriel, o Cid Veloso e o Carlos Becker, que incluísse, em sua proposta
presidencial, obter da Bolívia que a Petrobrás explorasse suas jazidas de
lítio, hoje apelidado de petróleo branco. Pouco antes, tinha havido uma reunião
no Departamento de Química da UFMG, onde falei sobre a visita de Marie e Irene
Curie a nosso Instituto do Radium. Principiei lembrando que o primeiro livro
lusófono de química foi escrito pelo mineiro Vicente Silva Teles e que José Bonifácio
de Andrada, cuja família veio de Santos para Minas, foi o descobridor, em 1790,
do minério de lítio, a petalita, mas o nome lítio foi dado, pouco tempo depois,
pelo genial purificador Humphry Davy. Um dos químicos presentes me perguntou se
eu conhecia Gilbert Newton Lewis, descobridor, em 1912, de que o lítio poderia
ser fonte de energia elétrica. Respondi que talvez o tenha estudado para o
vestibular, mas seu nome se apagou com o tempo. Lembrei-me apenas que estudei o
lítio como o mais leve dos metais. Mas, num esforço de memória, perguntei: “não
seria Gilbert o tal dos elétrons pareados?” A partir de José
Bonifácio, passei a acompanhar a crescente importância do lítio como calmante
(1954) e, a seguir (1991), como miniaturizador das pilhas. Em 1980, nos EUA, um
cientista me perguntou se o Brasil tinha muita reserva de minério de lítio. Confessei
nada saber e ele disse que era bom eu saber, “porque, segundo amigos meus
japoneses, isso vai ser uma riqueza estratégica”. Chegando aqui,
verifiquei que em Araçuaí, Minas, o lítio era promissor, mas a Bolívia era
riquíssima dele, com reservas bastante quantificadas desde 1985. Foi então que
fiz a proposta a Covas. Os paulistas que acompanhavam o candidato nesta
caravana a Minas, um deles Franco Montoro, descartaram minha sugestão, por
causa do risco de que fosse ridicularizada. O risco de fato havia, pela
provável relação com o lítio que receitaram para amansar o Ulisses Guimarães.”
Caso caminhe bem a retomada lulista de parceria
Bolívia-Brasil, principalmente pela entrada do país irmão no Mercosul e pelas
perspectivas de inovação em energia limpa, talvez aquele sonho de 35 anos atrás
se realize.
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