AFONSO
SILVIANO BRANDÃO – VARÃO PLUTÁRQUICO DE MINAS E DA MEDICINA MINEIRA
João
Amílcar Salgado
Acaba
de ser editado o livro NA VIVÊNCIA DO
MEU TEMPO, escrito por Afonso Silviano Brandão. A primeira edição é de 1977
e foi distribuída apenas entre familiares
e amigos. Tive o privilégio de receber um
exemplar do autor e outro agora do filho, o proeminente patologista Hugo
Silviano Brandão. Várias razões me fazem interessado nessa autobiografia,
indissociável de várias histórias: a dos Buenos, entre os fundadores do sul de Minas; a do clube América, vertente
esportiva da faculdade federal de medicina; a da faculdade “Católica”, de que
sou personagem, e a das entidades médicas, de que sou historiador e crítico.
Estudioso
do sul de Minas, sei que os Buenos bandeirantes deixaram descendentes nas
Lavras do Funil, região do meu berço, e nas lavras de Ouro Fino, berço dos
Bueno Brandão. Pedro Vidigal escreveu que os Bueno vieram também para o
Calambau e ai mudaram o nome para Martins da Costa. Eu disse-lhe que seu livro
tinha centenas de páginas mas não dizia por que trocaram o nome. “Não disse,
porque não sei”, respondeu. E eu: “Eu sei: é porque não era prudente conservar
o sobrenome Bueno depois do Capão da Traição. Poucos não o mudaram”. E o genealogista exclamou: “Então foi assim?,
sêo valente!!!...”
Sobre
o América, poucos sabem que os antigos campo e quadras próximos à faculdade
federal eram área do parque municipal, cedida a esta escola, como campus
esportivo, pelo sulmineiro e prefeito Otacílio Negrão de Lima. Virtualmente, o
América era o time da faculdade, daí tantos médicos entre seus fundadores,
associados e craques, um deles Afonso, cotado a mais ilustre. Daí nosso protesto inútil quando a área foi
depois vendida indevidamente a um supermercado. Nossos argumentos foram
ridicularizados (hoje seriam aplaudidos), porque propúnhamos que a área
voltasse a ser parte do verde do parque.
Tenho
grande carinho pela “Escola Católica” de medicina. Quando fiz exame vestibular
ali, vários docentes perambulavam amistosamente pelas salas das provas e
participaram, sem qualquer rispidez, das
arguições orais. Tenho vaga lembrança de que Afonso era um deles. As turmas
diplomadas em 1960 pela “federal” e pela “católica”, de tão pequenas, somavam
uma única turma na Belo Horizonte dos anos dourados. Mais tarde,
tive atuação decisiva na efetivação do ensino ambulatorial, quando deste
fui o mais veemente defensor. Depois,
mais uma vez fui decisivo na deliberação de que o hospital São José viesse a
ser seu hospital universitário, tão sonhado. Enfim, participei ativamente na
modernização curricular, inclusive a adoção do internato rural.
Quando
a antiga Universidade Católica, nos trâmites para ser Pontifícia, abriu mão da
faculdade de Ciências Médicas - logo ela que era chamada de “a católica”! - fiz
dura crítica aos autores deste ato ignominioso.
E não tive dúvida em rotular o gesto de mesquinho, numa palestra
em pleno auditório da instituição ofendida.
Coincide que, no ano da reedição
do livro de Brandão, a PUC inicia novo
curso médico, desta vez não-filantrópico e não-descartável, mas altamente
rentável.
Como
historiador, examino a origem, os acertos e os erros de cada entidade integrante da corporação
médica mineira, senso lato, e também da corporação brasileira. Estudo, em
especial, o papel neste enredo desempenhado por JK e Clóvis Salgado, dois médicos e políticos também
presentes na saga da Faculdade de Ciências Médicas. Tais dados são encontrados
em outros de meus textos.
Por todo o sobredito é possível
avaliar a grata satisfação com que recebi a segunda edição de NA VIVÊNCIA DO
MEU TEMPO, título de livro capaz de causar inveja em qualquer escritor.
Seus leitores descobrirão que nenhuma personalidade da história brasileira
contou com as circunstancias singulares, de nascimento, infância e juventude,
que convergem na biografia de Afonso Silviano Brandão. E a singularidade persiste e cresce quando se
completa com a vertente reta e realizadora
do restante de sua existência.
Eis, enfim, um livro que nos chega como límpida
gema de Minas. Sim, nada mais substancial poderia ser ofertado à história da medicina mineira, exatamente pelo
raro conteúdo de nobreza, de honradez e de sul-mineiridade!