João Amílcar Salgado

quinta-feira, 11 de abril de 2013


AFONSO SILVIANO BRANDÃO – VARÃO PLUTÁRQUICO DE MINAS E DA MEDICINA MINEIRA
João Amílcar Salgado
Acaba de ser editado o livro NA VIVÊNCIA  DO MEU TEMPO, escrito por Afonso Silviano Brandão. A primeira edição é de 1977 e foi distribuída  apenas entre familiares e amigos. Tive o privilégio de receber um  exemplar do autor e outro agora do filho, o proeminente patologista Hugo Silviano Brandão. Várias razões me fazem interessado nessa autobiografia, indissociável de várias histórias: a dos Buenos, entre os fundadores  do sul de Minas; a do clube América, vertente esportiva da faculdade federal de medicina; a da faculdade “Católica”, de que sou personagem, e a das entidades médicas, de que sou historiador e crítico.
Estudioso do sul de Minas, sei que os Buenos bandeirantes deixaram descendentes nas Lavras do Funil, região do meu berço, e nas lavras de Ouro Fino, berço dos Bueno Brandão. Pedro Vidigal escreveu que os Bueno vieram também para o Calambau e ai mudaram o nome para Martins da Costa. Eu disse-lhe que seu livro tinha centenas de páginas mas não dizia por que trocaram o nome. “Não disse, porque não sei”, respondeu. E eu: “Eu sei: é porque não era prudente conservar o sobrenome Bueno depois do Capão da Traição. Poucos não o mudaram”.  E o genealogista exclamou: “Então foi assim?, sêo valente!!!...”
Sobre o América, poucos sabem que os antigos campo e quadras próximos à faculdade federal eram área do parque municipal, cedida a esta escola, como campus esportivo, pelo sulmineiro e prefeito Otacílio Negrão de Lima. Virtualmente, o América era o time da faculdade, daí tantos médicos entre seus fundadores, associados e craques, um deles Afonso, cotado a mais ilustre.  Daí nosso protesto inútil quando a área foi depois vendida indevidamente a um supermercado. Nossos argumentos foram ridicularizados (hoje seriam aplaudidos), porque propúnhamos que a área voltasse a ser parte do verde do parque.
Tenho grande carinho pela “Escola Católica” de medicina. Quando fiz exame vestibular ali, vários docentes perambulavam amistosamente pelas salas das provas e participaram, sem qualquer rispidez,  das arguições orais. Tenho vaga lembrança de que Afonso era um deles. As turmas diplomadas em 1960 pela “federal” e pela “católica”, de tão pequenas, somavam uma única turma na Belo Horizonte dos anos dourados.  Mais tarde,  tive atuação decisiva na efetivação do ensino ambulatorial, quando deste fui o mais veemente defensor.  Depois, mais uma vez fui decisivo na deliberação de que o hospital São José viesse a ser seu hospital universitário, tão sonhado. Enfim, participei ativamente na modernização curricular, inclusive a adoção do internato rural.
Quando a antiga Universidade Católica, nos trâmites para ser Pontifícia, abriu mão da faculdade de Ciências Médicas - logo ela que era chamada de “a católica”! - fiz dura crítica aos autores deste ato ignominioso.  E não tive dúvida em rotular o gesto de mesquinho, numa palestra em pleno auditório da instituição ofendida.  Coincide que,  no ano da reedição do livro de Brandão, a PUC  inicia novo curso médico, desta vez não-filantrópico e não-descartável, mas altamente rentável.
Como historiador, examino a origem, os acertos e os erros  de cada entidade integrante da corporação médica mineira, senso lato, e também da corporação brasileira. Estudo, em especial, o papel neste enredo desempenhado por JK e Clóvis Salgado, dois médicos e políticos também presentes na saga da Faculdade de Ciências Médicas. Tais dados são encontrados em outros de meus textos.
Por todo o sobredito é possível avaliar a grata satisfação com que recebi a segunda edição de NA VIVÊNCIA DO MEU TEMPO, título de livro capaz de causar inveja em qualquer escritor. Seus leitores descobrirão que nenhuma personalidade da história brasileira contou com as circunstancias singulares, de nascimento, infância e juventude, que convergem na biografia de Afonso Silviano Brandão.  E a singularidade persiste e cresce quando se completa com  a vertente reta e realizadora do restante de sua existência.
 Eis, enfim, um livro que nos chega como límpida gema de Minas. Sim, nada mais substancial poderia ser ofertado à  história da medicina mineira, exatamente pelo raro conteúdo de nobreza, de honradez e de sul-mineiridade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário