João Amílcar Salgado

domingo, 15 de outubro de 2017

ILUSTRE FARMACÊUTICA MARIA ILCRAM VILELA

MARIA ILCRAM VILELA 

 Não existe ninguém que se interesse mais por outro ser humano do que este ser imensamente humano chamado Ilcram. 


 João Amílcar Salgado 

      Minha primeira lembrança da Ilcram foi numa roda de meninas em volta da Fina. Serafina era o nome desta, criada por minha avó Amélia. Eu, que convivi com educadoras e educadores extraordinários, coloco minha madrinha Fina entre a mais alta hierarquia deles. No caso, a Fina estava ensinando a arte do tricô às netas da Sá Amélia. Cheguei-me ao grupo e a Ilcram, toda loira e graciosa, me chamou para aprender tricô. Respondi que eu era homem e homem não fazia tricô. Ela insistiu: é tão fácil que até homem aprende! E veio passando o fio de lã por meu pescoço e me entregando as agulhas. Não protestei, porque senti que aquilo era o jeito que minha linda prima achou para me dar um abraço. 

       Nos anos 50, o concurso de miss fica popular e o coadjutor padre Virgílio, em contraponto, cria uma espécie de concurso para moças católicas. O sucesso veio da beleza das concorrentes e fiquei muito feliz de ver no palco duas primas, moradoras da praça da matriz. Eram a Zélia da tia Adélia e a Ilcram do tio Lela. O padre foi diplomático, porque não houve uma miss e todas alcançaram o primeiro lugar. Para nós, a escolher uma, esta estaria entre a Ilcram e a Zélia, de fato dois tipos de igual beleza. 

     Quando a Ilcram entra na UFMG, a escola de farmácia havia adquirido a fama de alunas bonitas. Nas férias ela chegava com uma a três beldades em Nepomuceno. A casa ficava festiva e meus tios as recebiam como filhas. Uma delas me confessou que jamais conhecera um lar como aquele. Ali, o prazer em agradar era sem fim e tudo muito risonho. Quando a Ilcram fica noiva, fiquei maravilhado com o noivo. O Spencer era nada menos que o irmão da Beatriz, minha querida paraninfa no Colégio Estadual. Outra grata revelação foi a saga daquele clã de farmacêuticos. O Spencer é filho de um farmacêutico e professor – e eu também. Demais, meu pai foi colega de Carlos Drummond, na mesma faculdade do Spencer e da Ilcram. Além disso, o Drummond foi professor no colégio do pai do Spencer. Afinal, a Ilcram, o Spencer e eu comungamos a circunstância de termos sido crianças curtidas no ambiente das farmácias antigas, principalmente o aroma dos ingredientes de poções, láudanos e elixires magistrais. 

      Tenho o privilégio de conhecer algumas das bondades secretas da Ilcram. Ela as esconde de todos, mas não conseguiu evitar que eu as descobrisse. Se um parente ou um amigo está em dificuldade, ela tanto faz que acaba achando um meio de ajuda. Não estou autorizado a revelar exemplos e nem devo, mas de um caso posso falar por ser humorístico. A prima dela era casada com o Hélio, ótima pessoa, mas danou a beber. Os pais dele eram caseiros de nossa chácara e fui médico deles. Os filhos preferiam usar o sobrenome da mãe que era Garcia. 

     A Ilcram decidiu recuperar o Hélio. Ele viria para a casa dela e, enquanto trabalhasse ali, não beberia e ganharia bem. Escreveu o endereço, comprou-lhe o bilhete do ônibus e lhe deu o dinheiro do táxi. Ele chega à rodoviária, mas o endereço ele perdeu e o dinheiro também. Pensou: a Ilcram e o Marcli são pessoas importantes e são conhecidos de muita gente. O guarda percebeu que ele incomodava a cada passante, indagando onde morava a Ilcram ou o Marcli. Aproxima-se do importuno: Seu nome, por favor. Resposta: Hélio Garcia. O guarda ironiza: Então estou falando com o governador de Minas Gerais?... E o Hélio: Sou primo dele. A sorte foi que a revista feita nos bolsos do Hélio foi tão bem feita que a carteira de identidade foi achada e lá estava escrito Hélio Garcia. O nepomucenense se livrou desta, mas, como não sabia sair dali, entrou na lanchonete. Aquele senhor de cara afável ali no balcão parecia ser o dono da loja. Perguntou: O senhor conhece o Marcli? Espantosamente, o homem abriu um sorriso: Se for meu grande amigo Marcli Vilela, conheço muito! Deu ao Hélio um lanche e pagou o táxi, que rumou não para a casa da Ilcram, mas para o endereço do Marcli. Este quis reembolsar o amigo, que recusou com a seguinte justificativa: Não é todo dia que a gente pode fazer um agrado a um governador... 

       Para terminar, deixo aqui o registro de minha mais alta gratidão à Ilcram e à Tia Mariinha. Minha tia Licínia e minha mãe me proibiram relatar, no livro O RISO DOURADO DA VILA (2003), o épico episódio inaugural da lua de mel dos nubentes Lela-Mariinha. E não é que a própria noiva e a Ilcram me autorizaram plenamente a transcrição? Hoje sei que isso foi um dos fatores do sucesso dessa publicação, que logo se esgotou e aparecerá agora em segunda edição. 

 Texto comemorativo dos 80 anos da ilustre farmacêutica Maria Ilcram Vilela, em 14/10/2017

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