PAULO MADUREIRA DE PÁDUA - HIERARCA DA REUMATOLOGIA BRASILEIRA
João Amílcar Salgado
As turmas de medicina formadas na UFMG nos anos de 1960 e 1961 eram tão pequenas e o currículo médico era tal que ambas conviviam como uma só turma. Assim, dois de meus maiores amigos, durante e após o curso, foram o Paulo Madureira de Pádua, de Conceição do Mato Dentro, e o Rubens Nery Simões, de Brasília de Minas. Sendo eu sulmineiro, nós três passamos a viver uma amizade de integração cultural entre três regiões distintas de Minas. O Paulo, entretanto, sendo ligado aos Páduas de Lavras, acaba sendo também meu parente, pois meu trisavô Vicente Ferreira Costa integra o matricial tronco lavrense dos Costa-Pádua-Sales.
O Paulo Madureira foi um jovem cheio de leitura, muito atento às políticas nacional e mundial e sempre crítico para com os homens públicos, sobre os quais exibia informações privilegiadas, que lhe eram repassadas por um conterrâneo, seu confidente, o José Aparecido de Oliveira. Foi por intermédio do Zé Aparecido, então secretário de cultura do Tancredo Neves, que o Paulo trouxe grande apoio a nosso Centro de Memória da Medicina.
Antes de graduar-se, o Paulo prenunciava seu brilho, por rara preocupação em buscar iniciação científica, escolhendo ser aprendiz junto a nada menos do que José Noronha Peres, então o maior virologista do país. Apresentou sua pesquisa inicial em memorável convenção no Rio Grande do Sul. Fui honrado para participar da banca examinadora do concurso pelo qual o Paulo Madureira se tornou professor titular de reumatologia da UFMG. Em minha apreciação, tive oportunidade de repassar sua carreira, a partir de, quando recém-formado, foi inaugurar, ao lado de Achiles Cruz Filho, o setor de reumatologia da cátedra de Caio Benjamim Dias – à época localizada no Hospital da Cruz Vermelha.
Éramos de andares vizinhos, pois no 4o ficava o serviço do professor Caio e no 5o ficava o do professor João Galizzi, de que eu participava. Assim nossa amizade estudantil se prolongou em frutífero companheirismo docente, sendo que ali tínhamos como abalizado mentor nosso queridíssimo Luiz Cisalpino Carneiro, em bate-papos acalorados e hilariantes. Participavam dos debates sobre temas gerais, entre outros, Alberto Paolucci, Douglas Andrade, Naftale Katz, Emílio Grinbaum, Cid Veloso e Carlos Alberto Barros Santos.
Esse grupo de auxiliares do Caio e do Galizzi foi denunciado como subversivo logo depois do golpe de 1964, mas não era fácil para os denunciantes persegui-los. A cada dia figuras proeminentes estavam ali fazendo exames, aos cuidados do Luiz Carneiro, proclamado por nós o melhor laboratorista de Minas. Eram personalidades que estavam sob stress político, pois eram antigos democratas agora na posição conflitiva de golpistas. Assim cruzávamos ora com Magalhães Pinto, ora com Milton Campos, ora com Pedro Aleixo – e outros.
Mesmo assim alguns repressores mantiveram a esperança de prender e torturar pelo menos o Luiz, principalmente quando souberam que ele conseguira viagem clandestina a Cuba. O Paulo correu pequeno risco, quando os inimigos de José Aparecido o fizeram cair em desgraça. Gente de Nepomuceno muito ligada ao Paulo são o João de Lima Pádua (cunhado de Lucas Lopes) e Evandro Veiga Negrão de Lima - parentes da Sara Kubitschek. O Paulo não quis beneficiar-se de tais ligações, para fim de cargo ou outra vantagem. Lembro também que Lucas era irmão de meu grande amigo Hélio Lopes, sobre quem escrevi um perfil com surpreendentes revelações, recolhidas de tal proximidade familiar.
Paulo e Achiles, colegas de turma, decidiram especializar-se na Alemanha e de lá trouxeram a sólida experiência germânica em reumatologia. Daí que, ao arguir o Paulo, lembrei que seu acabamento de especialista exibia bela harmonia entre três raras qualidades no mesmo clínico: o rigor semiotécnico, o seguro repertório científico da complexa nosologia dos reumatismos e o raciocínio feito de lógica férrea. Foi-me possível, com isso, anunciar ali a reumatologia mineira no devido vértice de invejável posição no país. De fato, Minas Gerais detém a primazia de ter madrugado na atenção aos reumáticos brasileiros, por meio de nossas estâncias hidrotermominerais. Veio a seguir a formalização da reumatologia nacional pelo mineiro Pedro Nava, ligado à escola francesa.
Do Rio de Janeiro, Nava disseminou-a por vários centros, sendo seu procônsul mineiro o Geraldo Guimarães da Gama, entusiasta de nosso grupo de naveanos. E, para coroar, Minas foi brindada com o referido complemento, salutar e indispensável, da reumatologia alemã. Ao longo do tempo, o eminente professor Paulo Madureira de Pádua, graças a sua natural liderança universitária, gerou sua própria linha de discípulos, aplaudida pelos pares de fora de Minas. E assumiu com espontaneidade a grave responsabilidade de ser a principal referencia científica e clínica, exatamente no Estado que detém aquele privilegiado cabedal histórico da especialidade. É um dos diversos nomes (entre os quais Baeta Viana e Liberato DiDio), que injustamente não foram agraciados com o título de professor emérito.
O Paulo Madureira foi um jovem cheio de leitura, muito atento às políticas nacional e mundial e sempre crítico para com os homens públicos, sobre os quais exibia informações privilegiadas, que lhe eram repassadas por um conterrâneo, seu confidente, o José Aparecido de Oliveira. Foi por intermédio do Zé Aparecido, então secretário de cultura do Tancredo Neves, que o Paulo trouxe grande apoio a nosso Centro de Memória da Medicina.
Antes de graduar-se, o Paulo prenunciava seu brilho, por rara preocupação em buscar iniciação científica, escolhendo ser aprendiz junto a nada menos do que José Noronha Peres, então o maior virologista do país. Apresentou sua pesquisa inicial em memorável convenção no Rio Grande do Sul. Fui honrado para participar da banca examinadora do concurso pelo qual o Paulo Madureira se tornou professor titular de reumatologia da UFMG. Em minha apreciação, tive oportunidade de repassar sua carreira, a partir de, quando recém-formado, foi inaugurar, ao lado de Achiles Cruz Filho, o setor de reumatologia da cátedra de Caio Benjamim Dias – à época localizada no Hospital da Cruz Vermelha.
Éramos de andares vizinhos, pois no 4o ficava o serviço do professor Caio e no 5o ficava o do professor João Galizzi, de que eu participava. Assim nossa amizade estudantil se prolongou em frutífero companheirismo docente, sendo que ali tínhamos como abalizado mentor nosso queridíssimo Luiz Cisalpino Carneiro, em bate-papos acalorados e hilariantes. Participavam dos debates sobre temas gerais, entre outros, Alberto Paolucci, Douglas Andrade, Naftale Katz, Emílio Grinbaum, Cid Veloso e Carlos Alberto Barros Santos.
Esse grupo de auxiliares do Caio e do Galizzi foi denunciado como subversivo logo depois do golpe de 1964, mas não era fácil para os denunciantes persegui-los. A cada dia figuras proeminentes estavam ali fazendo exames, aos cuidados do Luiz Carneiro, proclamado por nós o melhor laboratorista de Minas. Eram personalidades que estavam sob stress político, pois eram antigos democratas agora na posição conflitiva de golpistas. Assim cruzávamos ora com Magalhães Pinto, ora com Milton Campos, ora com Pedro Aleixo – e outros.
Mesmo assim alguns repressores mantiveram a esperança de prender e torturar pelo menos o Luiz, principalmente quando souberam que ele conseguira viagem clandestina a Cuba. O Paulo correu pequeno risco, quando os inimigos de José Aparecido o fizeram cair em desgraça. Gente de Nepomuceno muito ligada ao Paulo são o João de Lima Pádua (cunhado de Lucas Lopes) e Evandro Veiga Negrão de Lima - parentes da Sara Kubitschek. O Paulo não quis beneficiar-se de tais ligações, para fim de cargo ou outra vantagem. Lembro também que Lucas era irmão de meu grande amigo Hélio Lopes, sobre quem escrevi um perfil com surpreendentes revelações, recolhidas de tal proximidade familiar.
Paulo e Achiles, colegas de turma, decidiram especializar-se na Alemanha e de lá trouxeram a sólida experiência germânica em reumatologia. Daí que, ao arguir o Paulo, lembrei que seu acabamento de especialista exibia bela harmonia entre três raras qualidades no mesmo clínico: o rigor semiotécnico, o seguro repertório científico da complexa nosologia dos reumatismos e o raciocínio feito de lógica férrea. Foi-me possível, com isso, anunciar ali a reumatologia mineira no devido vértice de invejável posição no país. De fato, Minas Gerais detém a primazia de ter madrugado na atenção aos reumáticos brasileiros, por meio de nossas estâncias hidrotermominerais. Veio a seguir a formalização da reumatologia nacional pelo mineiro Pedro Nava, ligado à escola francesa.
Do Rio de Janeiro, Nava disseminou-a por vários centros, sendo seu procônsul mineiro o Geraldo Guimarães da Gama, entusiasta de nosso grupo de naveanos. E, para coroar, Minas foi brindada com o referido complemento, salutar e indispensável, da reumatologia alemã. Ao longo do tempo, o eminente professor Paulo Madureira de Pádua, graças a sua natural liderança universitária, gerou sua própria linha de discípulos, aplaudida pelos pares de fora de Minas. E assumiu com espontaneidade a grave responsabilidade de ser a principal referencia científica e clínica, exatamente no Estado que detém aquele privilegiado cabedal histórico da especialidade. É um dos diversos nomes (entre os quais Baeta Viana e Liberato DiDio), que injustamente não foram agraciados com o título de professor emérito.
O autor João Amílcar Salgado é professor titular de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais e criador do Centro de Memória de Minas Gerais
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