João Amílcar Salgado

segunda-feira, 27 de julho de 2020


DENISE CÁSSIA GARCIA - MUSA DOS HISTORIADORES DE MINAS
Quando foi publicado o livro OS GARCIA FRADES (1990), foi geral o aplauso pela contribuição à história de Minas, oferecida pela admirável pesquisa da historiadora Denise Cássia Garcia. Caso raro nessa área, o louvor foi também dirigido à beleza, à elegância e aos dotes de oradora daquela moça. Daí que foi brindada com o título de musa dos historiadores mineiros.
Antes ocorrera o constrangimento de que a lacuna açoriana na historiografia mineira tenha sido inicialmente preenchida por um biógrafo paulista. Ricardo Gumbleton Daunt é um advogado, legista, inventor e historiador, nascido na cidade de Casa Branca, SP, que ficou encantado de saber que era descendente de Garcias oriundos de Nepomuceno. Cientista que era, documentou tudo no livro O CAPITÃO DIOGO GARCIA DA CRUZ (1974). Por causa disso, propus que o Ricardo receba o título de cidadão honorário de Nepomuceno. Pelo lado paterno, descende de aristocratas normandos e irlandeses.
Infelizmente AS TRÊS ILHOAS, obra monumental de José Guimarães ficou para publicação póstuma. Assim, até surgir o livro da Denise, os historiadores mineiros, em geral descendentes de bandeirantes do centro e do sul de Minas, cuidavam apenas de sua origem, menosprezando migrantes açorianos, árabes e italianos. Grave erro, porque o lado melhor de Minas, principalmente do sul de Minas, vem da feliz amálgama de tais componentes. Para exemplificar a contribuição açoriana ao país, pouca gente sabe que são de origem açoriana os ficcionistas Machado de Assis e Luiz Vilela, o frasista Otto Lara Resende, os músicos Villa-Lobos, Nelson Freire, Wagner Tiso e os irmãos Caymmi, o sonetista Vasco de Castro Lima, os artistas Selton e Danton Melo, os juristas Pimenta da Veiga e João Batista Vilela, os infectologistas Eurico Vilela e Pedreira de Freitas, o descobridor Aloysio Resende Neves, as deputadas Maria Elvira Sales e Marta Nair Monteiro, a magnata Sinhá Junqueira, o financista Márcio Garcia Vilela, o presidente João Goulart, os governadores Hélio Garcia e Maguito Vilela, o Marquês de Valença e outros nobres do Império, bem como outros famosos. Ironicamente, Matias Cardoso de Almeida, um dos primeiros bandeirantes, era açoriano. Sintomaticamente, um romance de Machado é IAIÁ GARCIA.
Certa vez estive em Florianópolis e os médicos de lá ficaram surpresos de que eu falasse sobre a medicina tradicional dos Açores e de que me confessasse açoriano por meus ramos Correia e Arantes. Levaram-me para um passeio pela comunidade açoriana de Ribeirão da Ilha, onde encontrei muitos sobrenomes nepomucenenses. É claro que os três maiores nomes dessa gente, na Vila, são o fundador Mateus Garcia, seu primo Sete Orelhas e o Chico Frade, cujo fumo Frade foi famoso na Capital brasileira, aonde chegava com nossos queijo, toicinho, couro-de-cervo e equino. Quanto mais as pessoas cultas deste país tomem conhecimento disso tudo, maior é a importância da contribuição de Denise Garcia.



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