João Amílcar Salgado

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021


 

JARBAS E GABEIRA

João Amílcar Salgado

A propósito de nosso centauro, um amigo me perguntou se o Gabeira foi da minha época e se foi parceiro do Jarbas Juarez. Respondi que sim, pois ambos eram da equipe de jornalistas da Revista Alterosa, quando o udenista Magalhães Pinto reuniu nela um escrete de talentos: Jarbas, Gabeira, Ziraldo, Henfil, Roberto Drummond, José Aparecido. O Jaguar desenhava no jornal Diário de Minas. José Maria Rabelo escrevia o tabloide Binômio. Esse pessoal foi o núcleo de O Pasquim, no Rio. A nova Alterosa, comprada de Olímpio Miranda, fazia parte do plano de Pinto para disputar a presidência com JK em 1965. Com o golpe de 64, correu a notícia de que vários desses talentos seriam presos. O Jarbas Juarez, com o que ganhava da revista alugou um quitinete no primeiro edifício desse tipo de moradia, na rua São Paulo. Fiquei curioso para saber como era viver onde só havia um quarto com duas camas e a sala era cozinha também. Lá encontrei o Afonso Romano, depois conhecido poeta, que dormia numa das camas. O Jarbas me telefonou pedindo que voltasse lá para levar coisas de comer, pois estava com medo de sair. Quando toco a campainha percebo que há gente, mas não abrem a porta. Grito a meu amigo de infância para receber a comida. A porta se abre e era o Fernando Gabeira. Ele disse que se escondeu ali, mas o Jarbas desaparecera e fazia três dias que passava fome.  Hoje o Gabeira, octogenário, é o mais importante comentarista político do país. Todos os dias, às 18 horas, suas opiniões são ouvidas, no canal 40 da Globo News, pela mais fina intelectualidade brasileira. Pertence a ilustre família libanesa de Juiz de Fora à qual também pertencem a Leda Nagle, a melhor entrevistadora nacional, e a surfista big rider Maya Gabeira, prima e filha dele. Curiosamente, o Fernando, quando ficou exilado na Suécia, sobreviveu como motorneiro de bonde.

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