João Amílcar Salgado

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

 

QUEM FOI TRUMP?

Quando vi e ouvi o Trump pela primeira vez, minha reação foi lembrar-me do Reagan. Enquanto este era sósia do nepomucenense Passata, Trump me evocou o Maluco Beleza. Errei quando o supus apenas uma figura engraçada, mas logo percebi nele algo de sinistro e ameaçador.  Bem antes, em 1986, eu estava nos EUA e, em conversa com um grande cientista, ouvi dele: Peço a você desculpas por termos esta desastrada figura do Reagan como presidente;  ele é perigosíssimo, pode acabar com a humanidade inteira; é muito mais perigoso que o Nixon. Tenho vergonha de termos eleito esses dois bandidos para presidentes. Um terceiro foi eleito em 2016.

Minha infância foi vivida em plena 2ª guerra mundial e testemunhei a torcida de meu pai pela derrota do nazismo. O italiano Ambrosio Tagliaferri dizia que nossa farmácia era o Comando Aliado da Vila, onde todos tinham notícia das batalhas. Meu pai admirava muito Franklin Roosevelt, garantindo que ele foi decisivo na derrota de Hitler. Mais tarde, os assassinatos de John (1963) e Bob Kennedy (1968) e de Luther King (1968), me mostraram a verdadeira realidade ianque. Esses acontecimentos, somados à derrota norte-americana no Vietnã (1975), ao ataque às Torres Gêmeas (2001) e à invasão do Capitólio (6-1-1921) hoje me levam a retomar os estudos históricos, que comecei, ainda na universidade, sobre o assassinato de Lincoln (1865).

Meu foco é a contradição entre, de um lado, a ideologia libertária e igualitária da DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS EUA (1776) e, de outro, a tríplice nódoa 1) da manutenção da escravidão, 2) do genocídio indígena e 3) da diplomacia do big stick contra os ibero-americanos. A melhor referência a esse persistente beco-sem-saída foi feita por um brasileiro, Monteiro Lobato, no livro O PRESIDENTE NEGRO (1926), em que prevê um negro como presidente dos EUA, profecia antecipada com Barack Obama (2009-2017). Obama, por sinal, nasceu por influência da admiração de sua mãe pelo ator brasileiro Breno Melo. Em 1980, em viagem aos EUA, procurei dados dos estudos que, em Houston, comparavam as taxas diferenciais de natalidade do país. Quase indignados, os pesquisadores responderam-me que eram estudos sigilosos.

Muitos definem o Trump como um extremista, negacionista e isolacionista, que usou muito bem a comunicação coletiva, inclusive as fake news, para o DISCURSO DO ÓDIO. Esta será uma definição imprecisa, se não for especificado o que significa esse tal de discurso do ódio. A especificação consiste em que todo extremista só será bom extremista se conseguir empurrar para o extremo oposto todas as demais pessoas. Exatamente o apelo ao ÓDIO vem a ser o instrumento adequado para assim constranger os que não participam de sua turma. Para espanto dos historiadores, esse fenômeno obrigou o trumpismo a rotular de esquerdistas e comunistas, desde o Partido Democrata, inclusive Joe Biden e Kamala Harris, os políticos social-democratas europeus, especialmente Emmanuel Macron e Angela Merkel, até os maiores magnatas do mundo, como George Soros, Bill Gates, Larry Page, Mark Zuckerberg, Jack Dorsey e Elon Musk. Nesta lista seria inevitável incluir a maior parte dos 614 bilionários dos EUA e a totalidade dos 456 bilionários da China. Aliás, alguém tem de dizer ao Trump que o atual gigantismo da China, tão temido por ele, foi ingenuamente iniciado e propiciado por Nixon e Reagan, dois presidentes conhecidos pelo fanatismo anticomunista.

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