João Amílcar Salgado

terça-feira, 26 de outubro de 2021


 

CONSULTA DEMOCRÁTICA SOBRE O FUTURO DA IGREJA

João Amílcar Salgado

 

O papa Francisco quer, nos próximos dois anos, que os católicos — cerca de 1,3 bilhão que assim se declaram — sejam ouvidos sobre o futuro da Igreja. É a maior consulta democrática da história do cristianismo. Essa decisão deve estar enfurecendo os redutos nazifascistas do catolicismo. Diante desta notícia de agora, outubro de 2021, julgo oportuno relembrar algo acontecido no Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, na década de 90 do século passado.

O Centro tinha estabelecido consultorias sobre a história da relação entre medicina e religião. Foram convidados consultores de todas as religiões. Inicialmente os consultores católicos seriam o padre jesuita e filósofo Henrique Vaz, o padre e médico Carlos Valadares, o filósofo, historiador e médico Luiz Gonzaga de Carvalho, o franciscano, musicista e folclorista Francisco Van Der Poel (Chico), o educador e pensador Raimundo Nonato Fernandes, o filósofo e pensador José de Anchieta Correa, o bibliófilo e historiador Nelson Figueiredo, o médico e  historiador Geraldo Barroso, o ex-padre e escritor Pedro Vidigal, o ensaísta e pensador Gilberto Vasconcelos, o cirurgião e polemista Ajax Pinto Ferreira, o líder comunitário e escritor Jose Carlindo Santos, o médico, ficcionista e historiador Ronaldo Simões Coelho, o pediatra e helenista Clarindo Cerqueira e o ex-seminarista, neurocientista, neurocirurgião e historiador Sebastião Gusmão. Além destes convocados, já havíamos reunido consultores em medicinas e religiões africana, celta, viking, védica, budista, chinesa, mediúnica, nahuatl, andina, indígena brasileira e outras.

Numa das primeiras reuniões surgiu a proposta da canonização de santos não católicos.  Inicialmente foram discutidos três nomes: os dois Luteros (o Martinho europeu e Luther King) e Gandhi. A cada reunião, até o ano 2000, surgiram outros, inclusive sacerdotes e até papas desdenhados: Copérnico, Giordano Bruno, Galileu, Serveto, Montesinos, Las Casas, Orta, Anchieta (canonização), carmelitas decapitadas (canonização), Antonio Vieira, bispo Viçoso, bispo Silvério, Cônego Vítor, Cônego José Pinto, Nhá Chica, Touro-Sentado, Indio Galdino, Betinho, Chico Mendes e os papas João 21, Leão 13, João 23 e João Paulo 1º. Mandela foi incluído em reunião especial, logo que faleceu.

domingo, 17 de outubro de 2021

 


MEDICINA E ÉTICA

Menino atento, ouvi meu pai elogiar o Michel Mansur, seu grande amigo de juventude. Disse que ele era descendente direto do califa Al Mansur, fundador da cidade de Bagdá. Acrescentou que, sem este notável líder abássida, a medicina não teria o desenvolvimento que teve. A partir desse episódio doméstico, passei a estudar os terapeutas populares, os primeiros médicos xamanísticos, as figuras lendárias como a divindade Endovélico, o arcanjo Miguel e o deus Asclépio e as figuras já históricas como, dentre outros, Imotepe, Susruta, Empédocles, Demócrito, Hipócrates, Aristóteles, Erasistrato, Jesus, Dioscóride, Galeno, Tiago de Nisibe, Al Mansur, Avicena, Copérnico, Orta, Vesálio, Montaigne, Giordano, Galileu, Harvey, Boerhaave, Morgagni, Swieten, Rousseau, Magendie, Littré, Rokitansky, Cl. Bernard, Virchow e Osler. Isso me permitiu ampliar a compreensão da ética médica.

Tudo isso não me possibilita alcançar a dimensão inacreditável do crime ocorrido, durante a presente pandemia, no assim chamado “plano-de-saúde” Prevent Senior (e que deve ter ocorrido provavelmente em outros “planos” semelhantes). Breve, tamanho escândalo será objeto de estudos que mostrarão quão satanicamente monstruosos foram os criminosos. Será inevitável a comparação com as atrocidades alemãs na Namíbia, os sinistros experimentos nazistas de Auschwitz, os crimes sanguinários de Makino na unidade 731 do exército japonês e os ensaios do apartheid sul-africano, tramados pelo horripilante “doutor morte” Wouter Basson. 

Tal hedionda perversidade contra pacientes idosos foi “justificada” pela Prevent Senior em gélido cinismo, com o apelo a uma falsa autonomia médica, a uma falsa metodologia científica e a um falso sigilo ético. Pior ainda é que nenhum dirigente está preso e toda a atividade homicida está sendo aplacada com o eufemismo exponencial de “ajustamento de conduta”. Para coroamento de tudo, o CFM e entidades congêneres esgueirar-se-ão com igual cinismo - e ficarão a salvo da esbugalhada cumplicidade. E sobre as cinzas de tamanha patranha, fulgurará seu espetacular efeito colateral: ficará bem claro para que serve a ANS.

 

 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

 


VIAJANDO NAS JANELAS DO PASSADO

João Amílcar Salgado

Desde que comecei a redigir O RISO DOURADO DA VILA (2003), aproveitei as minhas pesquisas para estimular parentes e amigos a que também escrevessem suas memórias, além de angariar muita coisa guardada no fundo das gavetas. Pessoas que escreviam com facilidade deixaram de registrar preciosas lembranças. Só ao meu redor poderiam ter deixado relatos autobiográficos meu avô João de Abreu, meu pai João Salgado, a tia Bebete, o tio Aprígio, meus irmãos, o tio Lela e os primos Rubem Ribeiro, Ernane Vilela, Iracema Lima, Alice Lima, Chico Negrão, Nilo Barrios, Marieta Ursicina, Márcio Garcia, José Maria Ribeiro, Manuel Claide, Oscar Resende, Maria Elvira e João Otaviano.  Consegui que minha tia Rute escrevesse seu interessantíssimo livro MINHA HISTÓRIA – NOSSAS VIDAS (2007), gravei em áudio e em vídeo os causos de minha mãe Evangelina e sua irmã Licínea e colaboro com minha prima Clara Veiga Lima na biografia de seu pai João Otaviano Veiga Lima. Os imigrantes e seus descendentes merecem mais de um livro sobre eles. No livro NEPOMUCENO – SÍNTESE HISTÓRICA (2017) listei dezenas de homens e mulheres de letras, todos historiadores de fato, editados, inéditos ou potenciais. Listei também as coleções de nossos periódicos.  

               Por falar nisso, estou lendo VIAJANDO NAS JANELAS DO PASSADO (2013) de minha prima Vera Lúcia Ribeiro Vilela Gonçalves dos Santos, ilustre professora e eterna primeira-dama de Itumbiara, GO. Seu esposo, Celso Santos é um notável clínico e meu dileto amigo. Para mim, ela continua sendo a Verinha do Dr. Levi. Suas lembranças de seu avô João Vilela, de sua avó Vicentina e de seus tios e primos me emocionaram, pois achei que sabia tudo deles e era muito pouco. Além disso as fotos são preciosidades que ora passam à minha coleção. A Olívia sua mãe foi das mais belas moças da Vila e dona de uma meiguice infinita, qualidades repetidas em suas irmãs e em suas filhas. São mulheres cujo encanto os anos não levam. Ela me tratava não como primo, mas como irmão. Certo dia me liga e diz que sua mãe, a dona Vicentina (nome em homenagem ao Capitão Vicente da Lagoa) chegara a BH e estava com saudade de mim. Fui correndo pra lá. Foi um raro momento de viver boas gargalhadas. Ela estava lúcida e mais inteligente e espirituosa como nunca.  Já o Dr. Levi ocupa páginas marcantes e frequentemente elogiadas de meu livro. Ele e a esposa eram padrinhos de minha irmã Neusa. Evoco aqui o discurso que fez na formatura da afilhada, no qual declamou imortal poema de Gonzaga.  Os habitantes e admiradores da Vila devem guardar com carinho não só este livro, desbordante de ternura, mas os demais que a Verinha promete publicar.