João Amílcar Salgado

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

 


JOÃOZINHO E MARIA

João Amílcar Salgado

A história de JOÃOZINHO E MARIA foi contada a minha irmã e a mim, logo depois de meus três anos. As pessoas comentavam que, se eu e minha irmã éramos Joãozinho e Maria, aquilo poderia ter acontecido conosco. As personagens malvadas da narrativa passaram a rondar nossas noites. Quando apareceu o Chico Buarque (genial em melodias e genial em letras) cantando JOÃOZINHO E MARIA (1977) meus olhos marejaram, porque aqueles dois irmãos, a Miúcha e o Chico, eram muito parecidos com o casal de garotos da nossa casa. Logo depois, o casal de irmãos Caetano e Betãnia deram entrevista, dizendo que experimentaram o mesmo e não poderiam deixar de gravar a canção. Vale lembrar que essas três duplas de irmãos vivemos em comum o clima do final da guerra mundial. Quando fui a Estrasburgo, pedi ao João Vinícius que encostasse seu carro, em um de nossos passeios pelos arredores. Era para contemplar a Floresta Negra, quando, com a voz embargada, disse a ele: “aposto que o Joãozinho e a Maria ainda estão no meio daquelas árvores”. Foi dessa região que os irmãos Grimm recolheram essa antiga fábula e a publicaram em 1812. Bem mais tarde eu seria o historiador da medicina que interpretou as fábulas como medicina preventiva ágrafa

https://youtu.be/RQjbE_BIn9A

https://youtu.be/4Md_ibBIANs

 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 

PAULO COSTA CAMPOS

João Amílcar Salgado

Com o falecimento do cultíssimo Paulo Costa Campos, em 21/2/22, Três Pontas perde o maior pesquisador recente da história da cidade. Seu livro DICIONÁRIO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE TRES PONTAS (2004) é fundamental para os estudiosos da memória de Minas. Este primo, muito meu amigo e inestimável colaborador, foi também professor, bancário e político, na ponta de uma continuidade de atenção aos necessitados, que remonta à Escola Sagrada Família, no século 19. Suas investigações genealógicas enriqueceram a crônica das famílias Bueno, Ferreira de Castro, Ferreira de Brito, Vieira da Silva, Abreu Salgado, Campos e Costa, tradicionais na região. Na biblioteca de cada uma delas e das demais deve ser resguardado carinhosamente este livro, ao lado de outras duas obras fundamentais: MAGNUS SACERDOS - CÔNEGO FRANCISCO DE PAULA VÍTOR (1946)) de João de Abreu Salgado, e HISTÓRIA DE TRÊS PONTAS (1980) de Amélio Garcia de Miranda.

 


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

 

EXPOSIÇÃO DE FOTOS SOBRE A AMAZONIA

 SEBASTIÃO SALGADO

NO SESC SP


Após ter terminado Gênesis, sua exploração fotográfica da natureza ainda intacta do nosso planeta, Sebastião Salgado orientou seu olhar em direção ao seu país natal, o Brasil, e mais precisamente a Amazônia. A fim de realizar esse novo projeto, ele passou longas temporadas junto com doze comunidades indígenas isoladas, navegou no gigantesco Rio Amazonas e seus afluentes e sobrevoou a densa floresta tropical com suas fronteiras montanhosas mais áridas. Foram sete anos de trabalho, ao término dos quais todas as fotos e imagens ficaram prontas. Terça a sábado, das 10h às 21h; Domingo e feriado, das 10h às 18h. Até 10 de julho, 2022.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

 

 


PLÍNIO, NELSON, NEVILLE E JABOR

João Amílcar Salgado

Logo que o Arnaldo Jabor começou a fazer sucesso como cronista de tevê, eu estava com a ideia de escrever um ensaio sobre ética em nossas artes cênicas. De início eu estudaria a ética presente nas obras de Plínio Marcos (autor de DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA, 1966), Nelson Rodrigues (autor de O BEIJO NO ASFALTO, 1961) e Neville d´Almeida (tricordiano, parente dos Almeidas nepomucenenses, autor de RIO BABILONIA, com roteiro do também mineiro Ezequiel Neves, 1982). Como Jabor não deixava de ser dramaturgo, resolvi estudar os quatro. Meu interesse pelo carioca Jabor veio 1) de suas crônicas provocantes, 2) de ter também levado Nelson ao cinema e 3) do fato de que a família libanesa dos Jabbur está presente em nossa cidade vizinha de Passos. Ali nasceu o arquiteto modernista Dáude Jabbur, praticamente desconhecido, que foi colaborador de Lúcio Costa.

O esboço desse estudo ficou na gaveta e hoje, 15/2/22, com o falecimento do Jabor, me lembrei disso. Para mim, o melhor deste cineasta foi EU TE AMO, com tema de Nelson Rodrigues e a atuação de César Pereio e Sônia Braga, dos quais sou fã. Foi um expositor fascinante e prendia a todos com sua obstinada busca de congruência ética, embora não raro escorregasse em incongruências. Sua mensagem significa tudo isso: NÃO QUERO MORRER PARADO NA VERDADE

 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

 

SEPÉ TIARAJU – HERÓI TANTO QUANTO TIRADENTES

João Amílcar Salgado


Há mais de 200 anos, em 7/2/ 1756, ocorreu o martírio de um dos maiores heróis brasileiros, o índio SEPÉ TIARAJU, em suplício semelhante ao do inca Tupac Amaru (1572), do Negro Cascalho (1760), de Felipe dos Santos (1720), de Tiradentes (1792), de Chaguinhas (1821) e de frei Caneca (1825). Nessa época, a Espanha e Portugal entraram em acordo sobre suas colônias e aproveitaram para destruir uma das experiências sociais mais extraordinárias da história: as missões dos Sete Povos, empreendida pelos jesuítas. Essa destruição culminou nesse dia, o do assassinato do líder indígena.

Muito me envergonho de que parte de meus ascendentes sejam ligados aos genocidas autores desse crime.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 

 

ARROZ AMARGO & CAVALO VELHO

João Amílcar Salgado

Na década de 50 do século 20, entrou em cartaz, em BH, a fita italiana ARROZ AMARGO, com a bela atriz SILVANA MANGANO. Éramos vestibulandos, e todos saímos do filme apaixonados pela Silvana, que nos conquistou dançando CABALLO VIEJO (ver vídeo anexo). Depois, fomos os primeiros a entrar no cine para vê-la dançando e cantando o BAIÃO DE ANA.   Meu querido primo Carlinhos Manoel quis desistir do vestibular de direito para viajar à Itália atrás da Silvana. Foi um custo aplacar sua paixonite.  O cinema italiano estava em alta e nossa Silvana infelizmente foi ofuscada pela Gina Lollobrigida, pela Sophia Loren e pela Claudia Cardinale. Das 4 estonteantes beldades, a Silvana era a mais nepomucenense. E no país houve uma epidemia de Silvanas.

https://youtu.be/7M6XAYQmLuA


 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

FUSCA ELÉTRICO DE 4 PORTAS

João Amílcar Salgado

Em Nepomuceno foi inventada pelo genial João Vilela a viabilidade do tróleiibus. Esta cidade já foi a terra do jipe e do fusca. O jipe foi inventado em Minas por um jovem negro ainda anônimo. A Vila já foi a capital da capota perfeita para jipe, inventada pelo Dito Capoteiro (Benedito Barbosa). O primeiro a falar no fusca por aqui foi meu pai, quando descrevia, na sua farmácia, a façanha do memorável general Erwin Rommel, com novo veículo refrigerado a ar. Ainda hoje há numerosos admiradores do jipe e do fusca, um deles eu. Meu fusca azul 65 tem placa preta. Neste começo de 2022, é anunciado o fusca elétrico de 4 portas, a ser fabricado pelos chineses em São Paulo. Que acham disso o Renato Tonelli e demais fuscólogos da Vila?



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

ELZA, ARI, FOME E DEUS

João Amílcar Salgado

     Vestindo andrajos e em estado de grande pobreza, a futura cantora Elza Soares (Elza Gomes da Conceição) decidiu, em 1953, apresentar-se no programa Calouros em Desfile de Ari Barroso. Diante daquela estranha figura, ele pergunta: “Minha filha, de que planeta você veio?” Resposta que calou o riso da plateia: “DO PLANETA FOME”. Depois de seu canto, em vez de ser “gongada”, a jovem ouviu dele: “nasce uma estrela”. Pioneira feminista, Elza disse a um entrevistador, que quis consolá-la da morte do filho: “Cê disse que Deus é pai, errou, porque Deus é mãe”. A mulher oriunda do planeta fome e filha de Deus-mãe, faleceu em 20/2/22, aos 91 anos, aplaudida no Brasil e pelo mundo afora.

            Ari Barroso, imortal sambista mineiro, autor de Aquarela do Brasil, Na Baixa do Sapateiro e Na Batucada da Vida, tem parentesco com gente de Nepomuceno. Ele é Resende e, portanto, ligado a nossos Resendes, Garcias e Ribeiros. Sua esposa Ivone Arantes é ligada aos que, na Vila, descendem dos Arantes. Meu pai não perdia seu programa. Ari divulgou uma versão metálica da flauta andina (em bambu), para comemorar os gols do Flamengo – e todo menino, como nós, azucrinava com ela todas as pessoas da casa e da rua. Ele cometeu outros erros, quando gongou Nelson Gonçalves. Angela Maria, Luiz Gonzaga, Vinícius de Morais e outros. Foi perdoado principalmente quando sua música Risque foi estrondoso sucesso na voz exatamente do Nelson, cuja gagueira ridicularizou.