João Amílcar Salgado

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

ELZA, ARI, FOME E DEUS

João Amílcar Salgado

     Vestindo andrajos e em estado de grande pobreza, a futura cantora Elza Soares (Elza Gomes da Conceição) decidiu, em 1953, apresentar-se no programa Calouros em Desfile de Ari Barroso. Diante daquela estranha figura, ele pergunta: “Minha filha, de que planeta você veio?” Resposta que calou o riso da plateia: “DO PLANETA FOME”. Depois de seu canto, em vez de ser “gongada”, a jovem ouviu dele: “nasce uma estrela”. Pioneira feminista, Elza disse a um entrevistador, que quis consolá-la da morte do filho: “Cê disse que Deus é pai, errou, porque Deus é mãe”. A mulher oriunda do planeta fome e filha de Deus-mãe, faleceu em 20/2/22, aos 91 anos, aplaudida no Brasil e pelo mundo afora.

            Ari Barroso, imortal sambista mineiro, autor de Aquarela do Brasil, Na Baixa do Sapateiro e Na Batucada da Vida, tem parentesco com gente de Nepomuceno. Ele é Resende e, portanto, ligado a nossos Resendes, Garcias e Ribeiros. Sua esposa Ivone Arantes é ligada aos que, na Vila, descendem dos Arantes. Meu pai não perdia seu programa. Ari divulgou uma versão metálica da flauta andina (em bambu), para comemorar os gols do Flamengo – e todo menino, como nós, azucrinava com ela todas as pessoas da casa e da rua. Ele cometeu outros erros, quando gongou Nelson Gonçalves. Angela Maria, Luiz Gonzaga, Vinícius de Morais e outros. Foi perdoado principalmente quando sua música Risque foi estrondoso sucesso na voz exatamente do Nelson, cuja gagueira ridicularizou.

 

 

 

 



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