ELZA,
ARI, FOME E DEUS
João Amílcar Salgado
Vestindo andrajos e em estado de grande
pobreza, a futura cantora Elza Soares (Elza Gomes da Conceição) decidiu, em
1953, apresentar-se no programa Calouros em Desfile de Ari Barroso.
Diante daquela estranha figura, ele pergunta: “Minha filha, de que planeta você
veio?” Resposta que calou o riso da plateia: “DO PLANETA FOME”. Depois de seu
canto, em vez de ser “gongada”, a jovem ouviu dele: “nasce uma estrela”.
Pioneira feminista, Elza disse a um entrevistador, que quis consolá-la da morte
do filho: “Cê disse que Deus é pai, errou, porque Deus é mãe”. A mulher oriunda
do planeta fome e filha de Deus-mãe, faleceu em 20/2/22, aos 91 anos, aplaudida
no Brasil e pelo mundo afora.
Ari Barroso, imortal sambista mineiro, autor de Aquarela
do Brasil, Na Baixa do Sapateiro e Na Batucada da Vida, tem
parentesco com gente de Nepomuceno. Ele é Resende e, portanto, ligado a nossos
Resendes, Garcias e Ribeiros. Sua esposa Ivone Arantes é ligada aos que, na
Vila, descendem dos Arantes. Meu pai não perdia seu programa. Ari divulgou uma versão
metálica da flauta andina (em bambu), para comemorar os gols do Flamengo – e
todo menino, como nós, azucrinava com ela todas as pessoas da casa e da rua.
Ele cometeu outros erros, quando gongou Nelson Gonçalves. Angela Maria, Luiz
Gonzaga, Vinícius de Morais e outros. Foi perdoado principalmente quando sua
música Risque foi estrondoso sucesso na voz exatamente do Nelson, cuja
gagueira ridicularizou.
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