ANTÔNIO DA CUSTÓDIA
João
Amílcar Salgado
Em meu livro “O
RISO DOURADO DA VILA”, relato três episódios referentes ao Antônio Afonso,
esposo da Custódia, muito amiga de minha mãe. Ele era dono de pequena venda de
secos e molhados e em qualquer matança de capado em nossa horta, uma das bandas
era disputada por ele e pelo rival vizinho, o João Antunes. Em direção a nossa
casa, o Zé Veiga se aproximava, parecendo querer dizer algo importante, mas meu
pai o interceptou perguntando: “Foi bom cê chegar, estou apertado, precisando
saber qual é o nome da mulher do Antônio da Custódia”. – “Ora, Sargado, sou
homem ocupadíssimo com meus negócios, lá vou saber o nome dessa mulher!” Isso
muito nos divertia e a pergunta era repetida a outros passantes, fato que
influenciou o garoto Zeca do Sargado. Ele e eu vendíamos peras pela cidade. Na
porta do Antônio meu irmão perguntou: “ô sô Antonio da Custódia, qué comprá
pera?” O homem grande e gordo retalhava uma banda, apontou enorme
faca pro Zeca e gritou: “Ô minino, meu nome é Antônio Afonso, oviu? some daqui!”.
Só mais tarde descobri que meu pai e o Zeca foram injustos com o bom homem. Eu
mesmo achava esquisito um prenome no lugar de sobrenome e, na verdade, não era
nada disso. Afonso é um sobrenome histórico de nobres ibéricos e deveria ser
referido com a cerimônia desfrutada por qualquer fidalgo, apesar de seus
escândalos. Vejam meus textos sobre os Correas, Afonsos e Garcias, nos quais me
refiro a Afonso 6º (fratricida), o primeiro monarca espanhol, e Afonso
Henriques, trineto bastardo daquele e o primeiro monarca luso.
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