João Amílcar Salgado

domingo, 18 de junho de 2023

 


ANTÔNIO DA CUSTÓDIA

João Amílcar Salgado

Em meu livro “O RISO DOURADO DA VILA”, relato três episódios referentes ao Antônio Afonso, esposo da Custódia, muito amiga de minha mãe. Ele era dono de pequena venda de secos e molhados e em qualquer matança de capado em nossa horta, uma das bandas era disputada por ele e pelo rival vizinho, o João Antunes. Em direção a nossa casa, o Zé Veiga se aproximava, parecendo querer dizer algo importante, mas meu pai o interceptou perguntando: “Foi bom cê chegar, estou apertado, precisando saber qual é o nome da mulher do Antônio da Custódia”. – “Ora, Sargado, sou homem ocupadíssimo com meus negócios, lá vou saber o nome dessa mulher!” Isso muito nos divertia e a pergunta era repetida a outros passantes, fato que influenciou o garoto Zeca do Sargado. Ele e eu vendíamos peras pela cidade. Na porta do Antônio meu irmão perguntou: “ô sô Antonio da Custódia, qué comprá pera?” O homem grande e gordo retalhava uma banda, apontou enorme faca pro Zeca e gritou: “Ô minino, meu nome é Antônio Afonso, oviu? some daqui!”. Só mais tarde descobri que meu pai e o Zeca foram injustos com o bom homem. Eu mesmo achava esquisito um prenome no lugar de sobrenome e, na verdade, não era nada disso. Afonso é um sobrenome histórico de nobres ibéricos e deveria ser referido com a cerimônia desfrutada por qualquer fidalgo, apesar de seus escândalos. Vejam meus textos sobre os Correas, Afonsos e Garcias, nos quais me refiro a Afonso 6º (fratricida), o primeiro monarca espanhol, e Afonso Henriques, trineto bastardo daquele e o primeiro monarca luso.

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