João Amílcar Salgado

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

 


O PESSOAL DA PONTE (do TITO)

João Amílcar Salgado

            Estávamos na fazenda da Lavrinha de meu tio Luiz Lourençoni. Minhas tias Rute, Bebete e Iracema alfabetizavam a redondeza. Os jovens filhos do Tito Meneiz também tinham aula ali. A Mariquita era amiga inseparável de minha irmã Maria. Vão chegando o Doca e o Helvécio e apontam os olhos desta, dizendo “gente, essa menina é muito bonita, com esse olho de gato”. A Mariquita corrige: “olho de gato, não – olho de gata”. A tia Rute era a maior amiga da Luzia da Ponte, o Deoclécio namorava nossa prima Carlota e eu era vidrado nas tranças da Maria Ângela, futura colega de aula no ginásio. Mais tarde, eu lembrava esta cena para a dona Alda, procurando acalmá-la pois já estava sendo levada pela Aparecida até a sala de cirurgia. O dr. Arnaldo ia retirar-lhe a vesícula, auxiliado pelo dr Rubem, sendo anestesistas o dr Décio e eu.  A morte tão inesperada da Mariquita fez a cidade inteira chorar. Minha irmã inconsolável chegou com um ramo do jardim da amiga e disse: “não quero nem olhar para isso” e o jogou perto do muro. Dias depois o ramo surpreendentemente brotou e ficou sendo a flor eternizada da Mariquita (Maria Isabel Menezes). .

 

domingo, 20 de agosto de 2023

 

HELVÉCIO MENEZES – SAUDOSO COMPANHEIRO TRANSBORDANTE DE HUMOR

João Amílcar Salgado

Hoje, 20/8/23, vimos na tv uma bela homenagem prestada pela prefeita Iza a seu pai, Helvécio, meu querido amigo de juventude. Era finíssimo humorista, virtude herdada pelo Helvécio Filho. Sim, minha gente, a bela e desenvolta burgomestra deu um show culinário com o prato paterno, da tradição Piraquara. Inclui ingredientes fundamentais, como a banha, e, nela banhados, o pé e a orelha suínos. Acrescidos de feijão branco, sem racismo. Junto com o queijo e o fumo Frade, são patrimônios da história da Vila, que os remetia, a partir do Congonhal e do Morembá, para o Rio, na porfia dos tropeiros.  A banha nunca foi má, mas difamada pelos industriais da soja. Quando li em Pedro Nava a defesa da feijoada como de origem mineira, lhe relatei esse passado. Ele se entusiasmou e hoje juro que o memorialista se deliciaria com a iguaria da Iza. E as mulheres nepomucenenses, estrelas de nosso café, também brilharam, nesta mesma reportagem, em sua emocionante iniciativa, digna dos mais pomposos de nossos aplausos.


quinta-feira, 3 de agosto de 2023

 


O LÍTIO MINEIRO COMEÇA A SER EXPORTADO PARA A CHINA

João Amílcar Salgado

Em 27/7/23, houve a primeira exportação de lítio, produzido no Vale do Jequitinhonha, em Minas, para a China, via  Porto de Vitória, ES. A mina de lítio fica entre as cidades de Itinga e Araçuaí. Em 2021 divulguei o texto “O Lítio e a Petrobrás”, que é o seguinte. A Argentina, o Chile e a Bolívia possuem, juntos, 60% das reservas do planeta, dados são do US Geological Survey.

“Em 1989, propus a Mário Covas, junto com o Almir Gabriel, o Cid Veloso e o Carlos Becker, que incluísse, em sua proposta presidencial, obter da Bolívia que a Petrobrás explorasse suas jazidas de lítio, hoje apelidado de petróleo branco. Pouco antes, tinha havido uma reunião no Departamento de Química da UFMG, onde falei sobre a visita de Marie e Irene Curie a nosso Instituto do Radium. Principiei lembrando que o primeiro livro lusófono de química foi escrito pelo mineiro Vicente Silva Teles e que José Bonifácio de Andrada, cuja família veio de Santos para Minas, foi o descobridor, em 1790, do minério de lítio, a petalita, mas o nome lítio foi dado, pouco tempo depois, pelo genial purificador Humphry Davy. Um dos químicos presentes me perguntou se eu conhecia Gilbert Newton Lewis, descobridor, em 1912, de que o lítio poderia ser fonte de energia elétrica. Respondi que talvez o tenha estudado para o vestibular, mas seu nome se apagou com o tempo. Lembrei-me apenas que estudei o lítio como o mais leve dos metais. Mas, num esforço de memória, perguntei: “não seria Gilbert o tal dos elétrons pareados?” A partir de José Bonifácio, passei a acompanhar a crescente importância do lítio como calmante (1954) e, a seguir (1991), como miniaturizador das pilhas. Em 1980, nos EUA, um cientista me perguntou se o Brasil tinha muita reserva de minério de lítio. Confessei nada saber e ele disse que era bom eu saber, “porque, segundo amigos meus japoneses, isso vai ser uma riqueza estratégica”. Chegando aqui, verifiquei que em Araçuaí, Minas, o lítio era promissor, mas a Bolívia era riquíssima dele, com reservas bastante quantificadas desde 1985. Foi então que fiz a proposta a Covas. Os paulistas que acompanhavam o candidato nesta caravana a Minas, um deles Franco Montoro, descartaram minha sugestão, por causa do risco de que fosse ridicularizada. O risco de fato havia, pela provável relação com o lítio que receitaram para amansar o Ulisses Guimarães.  Covas, já governador, foi sigilosamente informado por Severo Gomes de grossa corrupção em suas obras. Pediu que o próprio Severo e Ulisses sigilosamente verificassem. Quando estão quase esclarecendo tudo, o helicóptero dos dois desaparece no mar. Os tucanos nasceram porque o partido do Ulisses estava corrompido e cada vez mais distante da esquerda - e Ulisses morreu, porque confirmava o mesmo para os tucanos. Mais tarde, verificamos quão fomos ingênuos naquele ano de 1989. A imprensa afinal documentou aquilo que foi apelidado de “privataria tucana”, pela qual Sergio Mota, José Serra e FHC ilustraram muito bem o aforismo do lavrense Carlito Maia, de que “todo esquerdista começa a esquecer sua ideologia, quando começa a contar dinheiro”.

Em 2021, continuávamos no mesmo, ou seja, às voltas com a privataria da mesma Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Federal. Hoje, no entanto, estamos esperançosos de que tudo seja decentemente corrigido, desmentindo nosso Carlito Maia. Portanto, a notícia acima deve ser demarcada, para que logo o minério seja beneficiado na própria Minas Gerais, em memória de Carlos Drummond.