O LÍTIO
MINEIRO COMEÇA A SER EXPORTADO PARA A CHINA
João
Amílcar Salgado
Em 27/7/23, houve a primeira
exportação de lítio, produzido no Vale do Jequitinhonha, em Minas, para a
China, via Porto de Vitória, ES. A mina
de lítio fica entre as cidades de Itinga e Araçuaí. Em 2021 divulguei o texto “O Lítio e a Petrobrás”, que é o seguinte. A Argentina, o Chile e a Bolívia possuem, juntos, 60% das
reservas do planeta, dados são do US Geological Survey.
“Em 1989, propus a Mário Covas, junto com o Almir
Gabriel, o Cid Veloso e o Carlos Becker, que incluísse, em sua proposta
presidencial, obter da Bolívia que a Petrobrás explorasse suas jazidas de
lítio, hoje apelidado de petróleo branco. Pouco antes, tinha havido uma reunião
no Departamento de Química da UFMG, onde falei sobre a visita de Marie e Irene
Curie a nosso Instituto do Radium. Principiei lembrando que o primeiro livro
lusófono de química foi escrito pelo mineiro Vicente Silva Teles e que José Bonifácio
de Andrada, cuja família veio de Santos para Minas, foi o descobridor, em 1790,
do minério de lítio, a petalita, mas o nome lítio foi dado, pouco tempo depois,
pelo genial purificador Humphry Davy. Um dos químicos presentes me perguntou se
eu conhecia Gilbert Newton Lewis, descobridor, em 1912, de que o lítio poderia
ser fonte de energia elétrica. Respondi que talvez o tenha estudado para o
vestibular, mas seu nome se apagou com o tempo. Lembrei-me apenas que estudei o
lítio como o mais leve dos metais. Mas, num esforço de memória, perguntei: “não
seria Gilbert o tal dos elétrons pareados?” A partir de José
Bonifácio, passei a acompanhar a crescente importância do lítio como calmante
(1954) e, a seguir (1991), como miniaturizador das pilhas. Em 1980, nos EUA, um
cientista me perguntou se o Brasil tinha muita reserva de minério de lítio.
Confessei nada saber e ele disse que era bom eu saber, “porque, segundo
amigos meus japoneses, isso vai ser uma riqueza estratégica”. Chegando
aqui, verifiquei que em Araçuaí, Minas, o lítio era promissor, mas a Bolívia
era riquíssima dele, com reservas bastante quantificadas desde 1985. Foi então
que fiz a proposta a Covas. Os paulistas que acompanhavam o candidato nesta
caravana a Minas, um deles Franco Montoro, descartaram minha sugestão, por
causa do risco de que fosse ridicularizada. O risco de fato havia, pela
provável relação com o lítio que receitaram para amansar o Ulisses Guimarães. Covas, já governador, foi sigilosamente
informado por Severo Gomes de grossa corrupção em suas obras. Pediu que o
próprio Severo e Ulisses sigilosamente verificassem. Quando estão quase
esclarecendo tudo, o helicóptero dos dois desaparece no mar. Os tucanos
nasceram porque o partido do Ulisses estava corrompido e cada vez mais distante
da esquerda - e Ulisses morreu, porque confirmava o mesmo para os tucanos. Mais
tarde, verificamos quão fomos ingênuos naquele ano de 1989. A imprensa afinal
documentou aquilo que foi apelidado de “privataria tucana”, pela
qual Sergio Mota, José Serra e FHC ilustraram muito bem o aforismo do lavrense
Carlito Maia, de que “todo esquerdista começa a esquecer sua ideologia,
quando começa a contar dinheiro”.
Em 2021, continuávamos no mesmo, ou seja, às voltas
com a privataria da mesma Petrobrás, do Banco do Brasil
e da Caixa Federal. Hoje, no entanto, estamos esperançosos de que tudo seja
decentemente corrigido, desmentindo nosso Carlito Maia. Portanto, a notícia
acima deve ser demarcada, para que logo o minério seja beneficiado na própria
Minas Gerais, em memória de Carlos Drummond.