João Amílcar Salgado

terça-feira, 29 de outubro de 2024

 


IZAO CARNEIRO SOARES

Erudito e romântico cultor da história da medicina

João Amílcar Salgado

 

O médico Izao Carneiro Soares é exemplo definitivo da eficácia dos congressos de historia da medicina promovidos anualmente desde 1997. Sem isso não teríamos possibilidade de sequer ficarmos sabendo da existência e das atividades desta notável figura da medicina brasileira. Ele criou em Ribeirão Preto, SP, o museu Abrahão Brickmann e o Instituto Homeopático François Lamasson. Logo em nossos primeiros encontros percebemos nele a satisfação de verificar  a ausencia de preconceito dos historiadores da medicina para com a homeopatia. Ao contrário, observou que nosso apreço é igual por todas as correntes da medicina, senso lato.

De sua parte também ele conquistou a todos por sua erudição e por sua alma de artista. Só de ser homeopata, esperantista e museólogo seu perfil romântico está plenamente confessado. Seu trabalho sobre a biografia e a autobiografia de  Samuel Hahnemann é consulta obrigatória para qualquer estudioso da medicina européia do século 19. Teve acesso a preciosos documentos e visitou cada lugar da vida do fundador dessa corrente homeopática, que sempre deve ser estudada em comparação com outras correntes homeopáticas, sobretudo as não-européias. 

Outro dote deste homem incomum é o musical. Sua voz de cantor é similar à de Nelson Gonçalves, sendo fã incondicional de Noel Rosa. Em 1910, em Patos, MG, ele homenageou os cem anos do ex-estudante de medicina Noel, que sendo Rosa, tem parentes em Minas. O genial sambista chegou a morar com uma tia em Belo Horizonte, onde tentou curar sua tuberculose, que o matou aos 27 anos.

Isao nos propôs um estudo do possível parentesco  entre Noel Rosa e João Guimarães Rosa, sendo que Noel começou a estudar medicina no ano seguinte à formatura de João em 1930. Ouçam o doutor Isao cantando um samba de Noel, composto sob inflencia do curso de anatomia, no qual mistura artérias e veias:

 http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=non-AulSGwU#t=131

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 


MEU ASSESSOR QUILOMBOLA

Em meu estudo dos quilombos de Nepomuceno, os três que me marcaram desde a infância foram o da Bacia, o da Bárbara e o do Retiro. No primeiro, o retireiro chefe Bernardino era aquele que me enchia o copo de leite, ao pé da melhor vaca, a Tiana é a que me servia o “de cumê” e a jovem Pequena é que me pageava. Do segundo, eu ouvia, nas noites da Trumbuca, os atabaques comandados pelo chefe Lolão Do terceiro, vinha o cargueiro de jabuticabas gigantes que o Jagunço Chefe-de-Congado reservava com carinho pro Sô João Sargado. O verdadeiro Retiro me veio do Miguel e do Toninho. Adiante fui ficando cada vez mais dependente do Pedro Cirino de Oliveira, a ponto de promovê-lo a assessor permanente. O dia-a-dia da Bárbara, as plantas e os passarinhos – tudo isso ele me delatou. Adotei em plenitude sua reverência a seu avô, o sábio Lolão. Que conversas infindas não teria eu com esta figura maior da história de nossa Vila, a qual só não alcancei por capricho do destino.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

 


LANÇAMENTO NA UFMG DE “A PACIENTE BERENICE DA DOENÇA DE CHAGAS”

João Amílcar Salgado

 O lançamento do livro “A PACIENTE BERENICE DA DOENÇA DE CHAGAS” na UFMG, em 17/10/24, foi muito prestigiado e dele fez parte a homenagem a Jarbas Juarez, autor, junto com João Vinícius Salgado, de preciosas ilustrações da obra. Também foi demais elogiada a bela capa de autoria da arquiteta Ana Luiza Machado Salgado. Esta e sua irmã, a advogada Thaís Machado Salgado, duas lindíssimas netas do autor, deram um show de elegante recepção a todos, em apoio à professora e dirigente da OAP Magda Veloso e à jornalista Leila Lobo Faria.. O evento foi também alegre oportunidade de reencontro com colegas, amigos e parentes.  O livro pode ser adquirido pela Amazon e pela  Coopmed.

 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

 


PROJETO PÃO DO POVO ANTECEDIDO PELO PÃO DOS POBRES DE NEPOMUCENO

Em Nepomuceno, o doutor Juca (médico José Augusto de Oliveira Lima diplomado em 1911) integrou a Associação Beneficente PÃO DOS POBRES e foi o primeiro provedor da Santa Casa. O PÃO DOS POBRES foi fundado em 1908 por Francisca Custódio da Costa, Ana Idalina de Oliveira Lima, Alexandrina Custódio de Souza Costa, Maria de Paula Silva, Maria Elisa de São José de Lima, Clara Custódio da Veiga, Cristina de Resende Lima e Helena Alves do Espírito Santo. Daí resultaram a Santa Casa e logo a seguir as casinhas do Asilo, construídas em terreno doado pelo doutor Juca, atrás do qual ele doou lotes para famílias carentes e ainda construiu o campo de futebol dos “morenos”.  O asilo surgiu ali em torno da cruz erguida pelo padre João Tomás de Souza, em 1853.  A Santa Casa foi criada em 1916. O efetivador de fato do Pão dos Pobres foi o notável filantropo Joao Bernardes dos Reis. Sua incansável dedicação lhe valeu o apelido popular de João Pão. Em outubro de 2024, dois outros brasileiros Ricardo Frugoli e Carlos Augusto Monteiro são reconhecidos pela ONU por magníficas iniciativas ligadas ao pão.

Ricardo por seu projeto PAO DO POVO DA RUA alcançou o prêmio FoodHero 2024 da ONU, em Roma, por ter inventado e distribuir um pão que é macio, inclusive para desdentados, prolongadamente gostoso e excepcionalmente nutritivo. Já Carlos ficou célebre por seu estudo sobre a classificação alimentar em 4 grupos: 1) alimentos in natura e minimamente processados, 2) ingredientes culinários processados, 3) alimentos processados e 4) alimentos ultraprocessados.

O PÃO DOS POBRES nepomucenense está diretamente relacionado ao parentesco das principais famílias com a família ALVES BULHÕES  TAVEIRA, tronco luso do franciscano SANTO ANTÔNIO (nascido Fernando), o santo do pão. A Vila é o maior reduto de TONINHOS até agora conhecido.

 

domingo, 13 de outubro de 2024

 


ARMÍNIO FRAGA E CARLOS AMÍLCAR SALGADO

João Amílcar Salgado

O avô do economista Armínio Fraga tinha o mesmo nome do neto. Era dermatologista e irmão do famoso professor Clementino Fraga, colega e amigo de Carlos Chagas, citado por Pedro Nava. Assim o economista é sobrinho neto do Clementino e primo do Clementino Filho, colega e amigo do João Amílcar Salgado.  Armínio, cidadão ianque e brasileiro, é apontado como o mais respeitado economista do Brasil. Na foto, Armínio, Carlos, Paulo Rebello, Eliete Bouskela e Fábio Baccheretti.  Evento promovido pelo professor e pesquisador Rudi Rocha, da FGV e do IEPS. O primeiro Clementino Fraga consta do livro A PACIENTE BERENICE DA DOENÇA DE CHAGAS (2024), ora em lançamento.

sábado, 12 de outubro de 2024

 


HIROSHIMA E O PRÊMIO NOBEL DA PAZ

João Amílcar Salgado

Em outubro de 1985 o grupo  MÉDICOS INTERNACIONAIS PARA A PREVENÇÃO DA GUERRA NUCLEAR (IPPNW) recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Foi organizado em 1980, sob a liderança de dois cardiologistas, o lituano (naturalizado estadunidense, inventor do desfibrilador)  Bernhard Lown e o mais distinto clínico russo-soviético Evgeny Chazov. David S, Greer, cofundador desse grupo, pioneiro em geriatria e pedagogo, esteve em Belo Horizonte, onde me ouviu sobre nossa inovaçao do ensino médico. Ficou surpreso diante da riqueza de nosso Centro de Memória: com grande interesse,  me pediu explicação sobre cada ítem. Agora, em outubro de 2024, a Confederação Japonesa de Organizações de Sofredores de Bombas Atômicas e de Hidrogênio, também recebeu o Prêmio Nobel da Paz. O líder sobrevivente Toshiyuki Mimaki, em prantos, dificilmente acreditou no anúncio da premiação. Lamentavelmente o sobrevivente que veio viver no Brasil, Takashi Morita, faleceu, aos cem anos, dois meses antes. Podemos ler sua história no livro A ÚLTIMA MENSAGEM DE HIROSHIMA: O QUE VI E COMO SOBREVIVI À BOMBA ATÔMICA (2017). Nasceu em 1924 na própria Hiroshima e foi membro da Kempeitai, temida Polícia Militar do Exército Imperial do Japão.

Podemos ler também de Bernard Lown A ARTE PERDIDA DE CURAR (1996).

 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

 


O ESPECTRO TRINITÁRIO NA HISTÓRIA HUMANA É BEM AMPLO

João Amílcar Salgado

No estudo de minha proposta para a equipe mínima de três médicos, para atender pequenas cidades, fiz o levantamento da ocorrência trinitária na história humana. Isso faria parte de meu doutorado, mas foi suprimido por questão de referenciação bibliográfica.  A ideia da miniequipe busca superar a competição pela cooperação.

O xamã é o médico inaugural da espécie humana, tendo sido a medicina apenas uma de suas atribuições, enquanto o filho do xamã é o primeiro médico exclusivamente médico. Esta relação pai-filho, na origem da medicina, está presente em todas as sociedades primitivas, inclusive entre os indígenas da América, por meio do trio XAMÃ-CACIQUE-PAGÉ A partir da África faraônica, temos TOT-RA-IMOTEPE, ILU-NINAZU-NINGISHZIDA, BRAMA-VINSHNU-KRISHNA, ZEUS-HÉLIO-ASCLÉPIO, JÚPITER-APOLO-ESCULÁPIO, JEOVÁ-ABRÃO-ISAQUE, TAO-FUHSI-SHENNUNG, OXALÁ-NANÁ-OBALUAÊ.

Por outro lado, o cooperativismo surgiu na Inglaterra em 1844, quando trabalhadores criaram um armazém para alimentos adquiridos em maior quantidade. No Brasil, em 1889, foi fundada a cooperativa dos funcionários de Ouro Preto para aquisição conjunta de produtos da roça. Em 1927, imigrantes japoneses fundam a grande Cooperativa Agrícola de Cotia, SP. O decreto federal 5893, de 1943, regula as cooperativas, estabelecendo que são sociedades de pessoas e não de capitais, não sujeitas à falência. Em 1951, é criado o Banco Nacional de Crédito Cooperativo, junto ao Ministério da Agricultura. JK certo de que seria reeleito em 1965, planejou para esse banco a função de sustentáculo de uma revolução agrícola, a partir do centro-oeste. Nos últimos dias de sua presidência, destinou deste banco os recursos para a instalação da COOPMED. Uma cooperativa criada pelos estudantes para editar livros universitários ficou então com o estranho vínculo inicial ao Ministério da Agricultura.  Eu, que fui ativista disso tudo, hoje sou sócio de duas cooperativas de café: Cooxupé e Cocatrel.