João Amílcar Salgado

domingo, 8 de dezembro de 2024

 ASSASSINATO

 EM NOVA IORQUE

João Amílcar Salgado



O principal executivo de um dos maiores planos de saúde dos EUA, Brian Thompson, foi assassinado em Nova Iorque, em 4/12/2024. Nas cápsulas dos projéteis mortais estavam escritas palavras que são o título do livro DELAY, DENY, DEFEND (2010), escrito pelo jurista (já falecido) Jay Feynman. Quando esta obra foi publicada, causou enorme repercussão por documentar fortíssima denúncia contra empresas de seguro de saúde (HMO), denunciação, aliás, iniciada pelo notável documentário SICKO de Michael Moore, de 2007. Thompson, de 50 anos, geria a UNITED HEALTHCARE, fundada em 1977, que, no último trimestre, faturou 100 bilhões de dólares de 51 milhões de clientes.

Este homicídio me impactou especialmente porque, em 1986, estive nos EUA, onde entre minhas indagações estavam a dimensão e o papel dos planos de saúde, naquela época em expansão. Demais, dois anos antes, houve o escândalo do caso Baby Fae na faculdade  Loma Linda dos adventistas, enquanto, entre nós, iniciara-se a Golden Cross, plano de saúde pioneiro, inspirado na assistência a ribeirinhos, prestada por adventistas em Pirapora – daí competidora de nosso internato rural. Apesar da trajetória controversa da Golden Cross, nada impediu que seu fundador Milton Soldani Afonso, batizado adventista ao 15 anos, se transformasse, de menino nova-limense vendedor de doces, em um dos maiores bilionários do país. Antes de Baby Fae, eu próprio iniciei um livro sobre ética dos transplantes, a convite de Aparício Silva de Assis, que foi frustrado por tentativa de censura contra o esboço de meu texto.

Nos EUA, solicitei entrevista com algum dirigente da Kaiser, fora da agenda. Uma médica, que tinha estado em nosso país, se prontificou a conversar, mas pediu sigilo. Perguntei se ela conhecia a Golden Cross e ela disse que sim e que a Kaiser acompanhava a pequena Golden Cross como estratégia para desembarcar no Brasil. Falei sobre a compra de faculdades de medicina e ela comentou que, quando chegasse ao Brasil, sua organização poderia comprar de uma só vez todas as faculdades privadas e forçar o governo a privatizar as públicas.

{Em tempo: o sobrenome Feynman coincide significar originalmente Salgado}. 


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