João Amílcar Salgado

sábado, 18 de janeiro de 2014

IZAO CARNEIRO SOARES
Erudito e romântico cultor da história da medicina
            O médico Izao Carneiro Soares é exemplo definitivo da eficácia dos congressos de historia da medicina promovidos anualmente desde 1997. Sem isso não teríamos possibilidade de sequer ficarmos sabendo da existência e das atividades desta notável figura da medicina brasileira. Ele criou em Ribeirão Preto, SP, o museu Abrahão Brickmann e o Instituto Homeopático François Lamasson. Logo em nossos primeiros encontros percebemos nele a satisfação de verificar  a ausencia de preconceito dos historiadores da medicina para com a homeopatia. Ao contrário, observou que nosso apreço é igual por todas as correntes da medicina, senso lato. De sua parte também ele conquistou a todos por sua erudição e por sua alma de artista. Só de ser homeopata, esperantista e museólogo seu perfil romântico está plenamente confessado. Seu trabalho sobre a biografia e a autobiografia de  Samuel Hahnemann é consulta obrigatória para qualquer estudioso da medicina européia do século 19. Teve acesso a preciosos documentos e visitou cada lugar da vida do fundador dessa corrente homeopática, que sempre deve ser estudada em comparação com outras correntes homeopáticas, sobretudo as não-européias. 
Outro dote deste homem incomum é o musical. Sua voz de cantor é similar à de Nelson Gonçalves, sendo fã incondicional de Noel Rosa. Em 1910, em Patos, MG, ele homenageou os cem anos do ex-estudante de medicina Noel, que sendo Rosa, tem parentes em Minas. O genial sambista chegou a morar com uma tia em Belo Horizonte, onde tentou curar sua tuberculose, que o matou aos 27 anos.
Isao nos propôs um estudo do possível parentesco  entre Noel Rosa e João Guimarães Rosa, sendo que Noel começou a estudar medicina no ano seguinte à formatura de João em 1930. Ouçam o doutor Isao cantando um samba de Noel, composto sob inflencia do curso de anatomia, no qual mistura artérias e veias:


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

BODAS DE OURO DE PEDRINHO E IVANILDE
O Zé Dingo era um alfaiate popular em Nepomuceno pelo seu fraseado brincalhão. Hoje é frequentemente lembrado por causa de dois de seus filhos: a Mariana e o Pedrinho. A Mariana teve poliomielite, doença que causou pânico na Vila e trauma à menina de quatro anos, que era muito bonita. Todas as consequências de sua paralisia ela própria relata em livro que tem importância tanto como depoimento humano, como parte da história da cidade e ainda por ser uma página da historia da medicina brasileira. Enquanto a Mariana herdou as habilidades do pai em confecções de tecido, tornando-se reconhecida pioneira da alta costura em Belo Horizonte, o Pedrinho herdou dele o senso de humor, que refinou com intensa hilaridade e pela memória de fatos, paisagem e tipos nepomucenenses.
A alcunha Dingo integra a lista de apelidos curiosos de Nepomuceno. Parece que o povo preferiu chama-lo assim porque, sendo filho do Joaquim Inácio da Silva, foi registrado com o sobrenome Santos da mãe (Mariana Umbelino dos Santos), ficando com o nome formal de José dos Santos. Na Vila devia haver vários josés dos santos, então foi mais prático tratar o jovem de Dingo. O estudo de sua ascendência permite verificar que poderia receber os sobrenomes Prado, Anastácio, Barbosa ou Vilela. As terras nepomucenenses, após a eliminação dos quilombos, chegaram a ser virtualmente concedidas à família Prado, como recompensa oferecida pelo governo da província pela missão cumprida. Os Prado, entretanto, só se interessavam por lavras de ouro e rapidamente se desfizeram do gigantesco latifúndio.
A esposa do Zé Dingo era a Felicinha, queridíssima por toda a gente da Vila. Seu nome era Felícia Alcântara, filha do casal Pedro e Filomena Vital e a mãe desta era a dona Claudina, que o povo tratava por Sá Colodina.  Filomena é irmã da Maria Bárbara, que veio a casar-se com o ex-ourives Manoel Cardoso, daí resultando a estimada família dos Cardoso. Manoel foi trazido de Campo Belo pelos campobelenses capitão Menezes e Conego Menezes. Estes o guindaram de ourives a tabelião. Nos limites entre Nepomuceno e Campo Belo já preexistia um ramo dos Cardoso, que resultaria na abastada descendência dos Cardoso Garcia.  
Já o Pedrinho se casou com a Ivanilde, que, por celestial coincidência, descende de Ribeiros de Entre-Rios de Minas, mostrando que a guapa moçada do casal (Tamara, José, Marcos, Ariadne e Ivana) é consanguínea dos Ribeiro, dos Lima e dos Costa da Vila. Assim como a Mariana se tornou escritora, o Pedrinho poderia também ser autor de um livro, o qual seria precioso acervo do famoso humorismo nepomucenense. Seus primos José Ramilc Vilela e Maria Ilcram Vilela estão dispostos a digitalizar seu anedotário, com o apoio entusiasmado da bela e inteligente Ana Paula, filha da Mariana.

Em 15-12-13 deu-se a inesquecível festa das bodas-de-ouro de Pedro e Ivanilde, evento transbordante de emoção e de confraternização, atestadas pela foto anexa.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

LANÇADO EM PALMAS, TOCANTINS, O LIVRO ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS - NO 18º  CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTORIA DA MEDICINA.
O CONGRESSO DESTE ANO (6 a 9-11) FOI REALIZADO EM PALMAS, ENTRE OUTRAS RAZÕES, PELO FATO DE QUE NA CIDADE DE PORTO NACIONAL, VIZINHA A PALMAS, ACONTECEU A MAIS NOTÁVEL EXPERIENCIA DE MEDICINA COMUNITÁRIA DO BRASIL, GRAÇAS AO CASAL EDUARDO E HELOÍSA MANZANO.

            Os dois venerandos heróis compareceram a um emocionado encontro com os historiadores da medicina de todo o pais. Os congressistas tiveram oportunidade não só de ouvir deles sua façanha, como de visitar o local onde esta se deu.  O livro ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS, de João Amílcar Salgado, mostra que a crise atual da saúde entre nós, poderia ter sido evitada se o exemplo do casal Manzano tivesse sido amplamente seguido.

            Por outro lado, a presença de tais historiadores no jovem Estado do Tocantins, acaba sendo simbólica, como um apelo a que a  seriedade e a lucidez sejam retomadas, conforme já presentes no passado da medicina e da saúde, no país. Esta região, composta de contingentes de todos os confins da nação, está pujante de promessas de que ali se desenvolva, com harmonia e paz, os fundamentos de um país futuro - tão sonhado e tão merecido pela grande maioria brasileira..

sábado, 19 de outubro de 2013


NO DIA DO MÉDICO DIA 18-10-13 FOI LANÇADO O LIVRO ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS DO CONHECIDO ESPECIALISTA EM PEDAGOGIA MÉDICA JOÃO AMÍLCAR SALGADO DA UFMG. O LIVRO ESTÁ DISPONÍVEL NAS LOJAS DA COOPMED E NA COOPMED VIRTUAL

sábado, 24 de agosto de 2013

JOÃO GALIZZI
Retilíneo em ciência e ética; paladino da melhor relação médico-paciente

João Amílcar Salgado
João Galizzi, Romeu Cançado e J. B. Greco estão definitivamente na história da medicina brasileira como líderes dos discípulos que passaram, a partir do final da década de 30, a aplicar na clínica médica os princípios científicos de seu mestre, o bioquímico Baeta Viana.  Esta corrente representou um salto de qualidade na assistência médica, não só em Minas mas no Brasil, inclusive com a pioneira interiorização da tecnologia laboratorial simplificada.  Galizzi foi catedrático de Clínica Propedêutica na Faculdade de Medicina da UFMG, onde suas lições de Semiologia Médica, ministrada com o auxílio de seguidores fieis, formou multiplicadores docentes e não-docentes, em sucessivas gerações,  todos testemunhas de que nessa disciplina foi recebida a estrutura nuclear de suas reconhecidas competências.
Essa capacitação nuclear foi depois estudada na busca de critérios de avaliação educacional para além da prova-de-múltipla-escolha - e que fossem coerentes com a inovação educacional implantada em 1975. Daí surgiram os requisitos da relação estudante-paciente efetiva e do conceito de realidade curricular. De tudo isso se concluiu que o curso anual ministrado pela equipe do professor João Galizzi foi a principal trincheira de qualidade que evitou a derrocada completa do ensino de cinco anos, adotado de 1965 a 1975.  Afinal se determinou que do período formal de cinco anos resultava um sofrível currículo real de menos de dois anos.
            Tais estudos só foram feitos pela disponibilidade de subsídios coligidos por  gente da equipe do professor João Galizzi. Foi um grupo coeso que, acrescido de outros entusiastas, se constituiu em raro aglomerado de clínicos interessados em pedagogia médica. Esse fato merece ênfase, pois o ensino da medicina vinha sendo monopolizado por vários especialistas, com notória ausência de internistas, o que não passou de grave erro. No caso, sanitaristas, psiquiatras, legistas e pedagogos-não-médicos cederam lugar a clínicos e cirurgiões, logo transformados em coordenadores do processo de desenvolvimento curricular, entre 1972-85. Essa experiencia influenciou toda a educação médica brasileira, sendo considerada uma das quatro vanguardas internacionais no ensino pós-flexneriano.
Outra característica marcante da equipe galizzeana foi o intercâmbio com centros de ciência médica no país e principalmente estrangeiros.  O deslocamento de seus integrantes teve a peculiaridade multilateral de buscar indistintamente fontes inovadoras,  no ensino, na pesquisa e na clínica, tais como na Grã-Bretanha, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, países vizinhos da América do Sul, México e Cuba. Sou testemunha do prazer inexcedível que um pai pode sentir, quando, no Hospital Royal Free de Londres, nosso Galizzi ouviu as melhores referencias a João Galizzi Filho, externadas por Sheila Sherlock, a maior hepatologista do mundo. Não foram elogios de conveniência, pois seu filho retornou ao Brasil para ser o maior hepatologista brasileiro. A propósito, lembro que o professor Derek P. Jewell nos convidou para participar de uma reunião clínica. No final me perguntou como era o ensino em nossa faculdade, pois já estava impressionado com os Galizzi, pai e filho, e agora também, na discussão daquele caso, com mais dois:  Luiz de Paula Castro e eu.
A produção científica ligada a João Galizzi também é amplamente sabida. Em sua Cadeira veio trabalhar o gastrenterologista alemão Rudolf Schindler, a maior autoridade mundial em endoscopia digestiva alta e criador do gastroscópio flexível. Em conseqüência, o grupo de cientistas que no Hospital das Clínicas hoje pesquisa a úlcera péptica e doenças correlatas é líder no Brasil e reconhecido internacionalmente. Por outro lado, foi em seu Serviço que se fez estudo completo  da primeira doente descrita da doença de Chagas, reencontrada em 1961, o qual integra seleto conjunto de contribuições ao conhecimento da patologia regional brasileira. Ao mesmo tempo, um sonho de João Galizzi e de sua equipe deixou de ser realizado: a redação daquele que seria o melhor livro de Semiologia Médica do país foi interrompida nos capítulos iniciais. O perfeccionismo do mestre causou a suspensão do projeto.
Demais, no meio universitário brasileiro, João Galizzi foi por décadas respeitadíssima referência no rigor da linguagem médica e na estrita observância ética, seja no ensino e na pesquisa, seja na atenção clínica. Assim, este cavalheiresco artífice da melhor relação médico-paciente, este campeão da compostura profissional - além de co-fundador de associação de classe e de associação especializada - foi o milagroso conciliador entre o ceticismo metódico derivado de Baeta Viana e a mais permanente tradição hipocrática, sendo que desta extraiu surpreendente e popular didática aforismática.  Conciliação que, na devoção à música, se repetiu entre Wagner e Bach, no que, aliás, foi honrosamente precedido por Schweitzer.

Finalmente cumpre dizer que, por trás do varão clássico tão querido de estudantes e colegas, sempre foi possível percebê-lo curioso de sua circunstância existencial. Esta fez dele o homem culto incapaz de esconder o entrechoque da ascendência luso-mineira com a herança greco-latina – ainda mais com a obrigação de ser herói, ao lado de Aleijadinho, da cidade de Congonhas. Tal inquietude fez também dele uma das influências decisivas na criação e no enriquecimento do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, a última mas não a menos importante das irradiações de sua invulgar personalidade.

terça-feira, 30 de julho de 2013

QUE FOI FEITO DO SUS?
 EM OUTRAS PALAVRAS, QUEM MANDA NO SUS?

Tenho sido cobrado pelo caos na saúde, em razão de ter participado, com forte engajamento, na luta pela aprovação do SUS na constituinte de 1988. Ora, o SUS é uma decisão simples sobre um sistema simples de cuidado da saúde, adotado com sucesso por vários países. Hoje, no Brasil,  é um caos – resultante da pusilanimidade e da incompetência dos que deveriam estruturá-lo, somada à incompetência e da má fé dos que, depois deles,  foram encarregados de administrá-lo.
Em meu livro que deverá sair ainda este ano, intitulado ENSINO DA MEDICINA no Brasil e em Minas, analiso o caos atual na saúde. Esta análise também não é complexa e pode ser divulgada, resumidamente, como segue.

Quem manda no SUS
O Sistema Nacional de Saúde deveria ter sido implantado, logo depois da Constituição  de 1988, por meio de uma estrutura nada complicada,  que deveria partir do Conselho Nacional de Saúde, passando pelo Ministério, e deste pelos Conselhos Estaduais e pelas Secretarias Estaduais, e destes pelos Conselhos Municipais e pelas Secretarias Municipais.

Os secretários estaduais da época se apressaram em criar um órgão espúrio, o Conselha Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Esta foi a providência antecipada para que aquele sistema, em vez de tecnicamente estruturado, passasse a atender demandas da politicalha regional.  Foi tão eficiente em inviabilizar o lado bom do sistema, que logo foi criado mais outro órgão espúrio, o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saude (CONASEMS).  Este também induz o sistema a funcionar, em vez do modo correto, de modo a atender  demandas diretas da politicalha municipal.

A indústria de saúde viu com bons olhos estas organizações para-sistêmicas. Elas, de um lado,  se prestariam às suas demandas comerciais e, de outro, enfraqueceriam a rigidez técnica do sistema. A principal medida, porém da indústria, não seria a pressão para a criação de conselhos para-sistêmicos referentes a seus interesses. Seria a pressão para a criação de algo mais eficaz e acima da politicalha eleitoreira. Conseguiram a estruturação de agencias que, sob o disfarce de instrumentos reguladores do funcionamento do sistema, representassem diretamente os interesses econômicos e de marketing de produtos e serviços, ou seja, agências contra-sistemicas. Assim, as agencias novas e outras pre-existentes, como a ANVISA, o CFM, os CRMs e a ANS, foram direcionadas a esse fim. De modo semelhante,  as associações corporativas dos profissionais da saúde pré-existentes ou neo-existentes foram rapidamente constrangidas a esse mesmo fim contra-sistêmico, por meio do financiamento de suas convenções e outros meios de suborno aberto ou disfarçado.

                O objetivo final é neutralizar o dispositivo constitucional,  sistêmico por definição, de tal modo que o controle de fato do que deveria ser o sistema nacional úncio de saúde fica nas mãos de um anti-sistema constituído pela indústria de saúde, composta pela indústria químico-farmacêutica, indústria de equipamentos de saúde, indústria de alimentos, indústria de insumos laboratoriais de saúde, indústria de venenos agropecuários, domésticos e ambientais, indústria de serviços (os chamados planos de saúde, os hospitais privados e filantrópicos, e outros), a indústria publicitária e/ou de marketing da saúde e ainda a indústria de educação em saúde (principalmente a criação irresponsável de faculdades de medicina).
                Sem muito esforço, é possível desenhar três diagramas análogos,  para mostrar como o sistema nacional de educação, que deveria ser verdadeiramente universal e totalmente gratuito, isto é, direito tácito de todos os cidadãos,  foi e está sendo progressivamente alienado da esfera pública, em favor da esfera privada, clamorosamente entregue a gigantescos interesses privados.
                Todo o caos, nos dois sistemas - de saúde e de educação -, traz um tremendo efeito que não é colateral, mas principal: é a perfeita trama para o mais desbragado carnaval de corrupção.
*
            E há mais: o caos culmina com a susificação dos chamados planos de saúde ...  que não são planos nem são de saúde!

Nos dias em que o presente texto estava sendo redigido, ocorreu uma cena muito significativa, no salão de espera de uma clínica oftalmológica. A sala de espera, ampliada para salão de espera, estava repleta de clientes. Nenhum deles era do SUS. Todos eram contribuintes de “planos de saúde”. Um senhor, com um curativo ocular, perdeu a paciência por causa da longa espera. Começou a reclamar alto e depois a esbravejar. Como os funcionários não conseguiram acalmá-lo, chamaram um médico co-proprietário da clínica. Depois de ouvir o desabafo do  paciente, o doutor disse que ele estava cheio de razão. Mas completou, com a seguinte ressalva: “O senhor está certíssimo em querer ser bem atendido, mas está havendo uma confusão aqui - com o senhor e também com todos os que estão neste salão. A confusão é a seguinte: o senhor pensa que saiu do SUS, mas não saiu. “

quarta-feira, 29 de maio de 2013

WILSON BERALDO
Wilson Teixeira Beraldo, nascido em Silvianópolis,  Minas, da turma de 1943 da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, é autor da maior descoberta científica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e a segunda, depois da descrição da doença de Chagas, realizada pela ciência brasileira. Durante o curso médico foi estagiário do célebre professor José Baeta Viana. Após regressar dos EUA, em 1926, Viana criou um  laboratório nos porões  da Faculdade. Nele, em vez de aulas teóricas, treinava os estudantes e principalmente os estagiários em química fisiológica (bioquímica).  A partir daí encaminhava todos os seus discípulos, disseminando pelo país verdadeira dinastia de mestres e pesquisadores.  Na vez de Beraldo, entretanto, coincidiu que, pela primeira vez, não havia lugar aonde encaminhar aquele jovem. Em verdade, muitos dirigentes científicos e universitários temiam ajudar Viana, adversário aberto do ditador Vargas.
 Esta má circunstância do momento pode ter sido decisiva para  que Beraldo fizesse a maior descoberta científica feita por discípulos do mestre.  Até que aparecesse uma oportunidade melhor, ele foi, então, trabalhar humildemente num laboratório farmacêutico (Bristol), em São Paulo. Achando-o ali, o grande nutrólogo Dutra de Oliveira sugeriu que procurasse abrigo, mesmo que como assistente voluntário, no laboratório paulista do carioca Henrique da Rocha Lima. Este tinha obtido em Hamburgo, na Alemanha, em 1916,  grande vitória para a ciência brasileira, quando descobriu a primeira riquétsia.
Acolhido por Lima, Beraldo foi escalado para a equipe afim do farmacologista, também carioca, Maurício Rocha-e-Silva, que havia chegado da Grã-Bretanha, entusiasmado com as esperanças trazidas pelo método de identificação da histamina. Maurício, por sua vez, sugeriu ao Beraldo dominar o método e escolher um setor do organismo humano onde pudesse procurá-la.  
Wilson Beraldo,  mineiramente, meditou e concluiu que, no primeiro mundo, as mínimas partes do corpo humano já estavam em pleno mapeamento e ele iria chover no molhado. Como a jararaca é uma cobra que só existe aqui, ele resolveu humildemente dizer ao mundo científico se havia ou não histamina na saliva da serpente (preparada por Gastão Rosenfeld, no laboratório Butantã, criação de outro mineiro, Vital Brazil). Rocha-e-Silva certamente achou que aquela ideia só poderia sair da cabeça de um caipira do sul de Minas, mas, como coisa de principiante, estava bem.
Acontece que Beraldo, ao procurar a histamina (que se comporta como uma taquicinina sobre o intestino animal), verificou que no veneno da jararaca, em vez de taquicinina, havia uma BRADICININA - e assim foi descoberta, em 1948, uma das mais importantes substâncias da fisiologia animal.  
Mais tarde os sucessores de Rocha-e-Silva e Beraldo, prosseguiram o estudo de cininas e outras substâncias fisiológicas na própria jararaca e, assim, Sérgio Ferreira descreveu o captopril, o inibidor da conversão da angiotensina I em angiotensina II, abrindo revolucionário capítulo no tratamento da hipertensão arterial. Coincidentemente, a angiotensina é outra descoberta latinamericana, feita pelo argentino Eduardo Braun Menendez, em 1939. 
Beraldo, apenas uma vez, concordou em relatar a cena da descoberta.  Foi quando deu uma aula de História da Medicina no Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais. Relatou que, procurando pela histamina na preparação que acabara de montar, observou o efeito bradi em vez de taqui, na curva registrada. Rocha-e-Silva entrou no laboratório e, enquanto colocava a gravata e o paletó, advertiu Beraldo de que Rocha Lima ia iniciar a reunião e não admitia atraso. Beraldo disse: veja o que está sendo registrado. – Depois eu olho, você ainda está de avental. – Então olhe, por favor, enquanto visto o paletó. A contra gosto o instrutor olhou, tornou a olhar – e ele mesmo foi se despindo do paletó e se livrando da gravata...