ANOS 60 SEGUNDO CID
VELOSO
Cid Veloso,
ex-reitor da UFMG e ex-diretor da Faculdade de Medicina e do Hospital das Clínicas
da UFMG lança o livro ANOS 60 - OS MOVIMENTOS QUE MUDARAM O MUNDO (2015).
O tema é muito oportuno e o
autor o vê de um ângulo abrangente, principalmente a partir de sua rica
vivência. Esse movimento, em Minas, levou à primeira e única eleição direta do
reitor, por voto direto e paritário de docentes, funcionários e estudantes. O
reitor eleito foi exatamente o autor do livro, Cid Veloso.
Isso tudo contrasta
gritantemente com o descalabro atual no ensino médico e nos hospitais
universitários.
Anexo, um texto que
escrevi nos 30 anos da invasão da Faculdade.
RARO CASO EM QUE
O BRASIL NÃO IMITOU O PRIMEIRO MUNDO
João Amílcar Salgado
Fato da
maior importância histórica é que, na agitação estudantil de 1968, que varreu o
mundo inteiro, se aponta a ocupação da Sorbonne pelos estudantes rebelados, em
3-5-68, como o episódio central na Europa. Pois bem, no mesmo dia 3-5-68,
ocorreu a ocupação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais pelos estudantes rebelados. Além de coincidentes, os dois episódios
apresentam uma diferença fundamental, que atesta muito maior heroísmo no lado
brasileiro. Enquanto na França o regime político era uma democracia, no Brasil
os estudantes estavam enfrentando a violência e a crueldade de feroz ditadura.
3 DE MAIO DE 1968 NA FRANÇA.
No pátio da Sorbonne realiza-se a reunião de estudantes
que exigem o acesso aos anfiteatros. O reitor, Jean Roche, quebrando uma regra
secular, chama a polícia para entrar nas instalações universitárias. A polícia
interrompe a reunião, expulsa os estudantes e fecha as instalações. Vários
alunos são ali detidos. Muitos outros são detidos nessa noite em manifestações
no Quartier Latin, onde é levantada a primeira barricada, no Boulevard
Saint-Michel.
3 DE MAIO DE 1968 EM BELO HORIZONTE.
A Faculdade de Medicina da UFMG é tomada pelos
estudantes. O diretor Oscar Versiani Caldeira, num ímpeto de pusilanimidade e
ódio, autoriza a polícia a cercar e invadir o prédio. Isso
ocorre em 3 de maio de 1968. É o mesmo dia em que, na França, a Sorbonne foi
ocupada pelos estudantes. O diretor transtornado, em contraste com a atitude
pró-estudantes dos diretores das demais Faculdades, autorizou a entrada das
forças de repressão para desalojar os alunos. Só não houve resultado sangrento
em virtude da intermediação de três heróicos docentes: Amílcar Vianna Martins,
José de Noronha Peres e Carlos Ribeiro Diniz. Assim, a revolução estudantil de
1968, que, de modo inédito, explodiu, quase simultaneamente, em vários países:
França (Sorbonne), EUA, México (Tlateloco), Alemanha e Brasil, teve em Belo
Horizonte esse episódio digno de um livro exclusivo. E os nomes desses três
desassombrados cientistas devem ser lembrados com todo o carinho, por não terem
medido conseqüências, no instante em que, sem vacilação, decidiram
posicionar-se ao lado da juventude conflagrada. E o ex-expedicionário Amílcar
Martins – ali, esguio, determinado e grave, em meio ao gás lacrimogêneo, aos
estilhaços de vidro e ao som de tosses, gritos e bombas – se via no segundo
campo de batalha, depois do primeiro, na Itália. Sim, era-lhe o mesmo teatro de
luta, apesar da distância de décadas, pois o inimigo, sem dúvida, era também o
mesmo: o redivivo cadáver do nazi-fascismo!
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AMÍLCAR VIANA MARTINS |
Em
1979, eu estava na cidade de Puebla, México e fui honrado pelos estudantes de
medicina mexicanos com o convite para ver um documentário sobre o MASSACRE DE
TLATELOCO, ocorrido nesta cidade em 2-10-68, pouco antes das Olimpíadas de 68,
em que a repressão armada matou centenas de pessoas e feriu outras mais. A
ditadura vigente no Brasil não permitiu que esse documentário fosse visto pelos
brasileiros. Este episódio deve sempre ser lembrado juntamente com os episódios
da Sorbonne e de nossa Faculdade de Medicina. Em Puebla, no debate com líderes
daquele movimento, relatei o episodio da Faculdade. O padre e poeta Ernesto
Cardenal, ao falar, ressaltou minha observação comparativa entre as democracias
da França e do México e a ditadura brasileira.
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BELO HORIZONTE |
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CARLOS RIBEIRO DINIZ |
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ELENA PONIATOWSKA |
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JOSÉ NORONHA PERES |
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AJAX PINTO FERREIRA |
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PARIS |
Ver o livro NOITE DE TLATELOLCO da escritora mexicana Elena Poniatowska e ANOS
60 – OS MOVIMENTOS QUE MUDARAM O MUNDO, de Cid Veloso, ex-reitor da UFMG e
ex-diretor da Faculdade de Medicina da UFMG. Ajax Pinto Ferreira, médico e
professor da UFMG, preso na invasão da Faculdade, ministrou emocionada aula no
curso de História da Medicina em 2008,
nos 40 anos do episódio.