João Amílcar Salgado

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 


FRANCISCO RIBEIRO DE CARVALHO - PERIPÉCIAS DE UM LAVRENSE QUE NÃO PODE SER ESQUECIDO

João Amílcar Salgado

Este incrível Francisco (1884-1956), merece um livro e um filme biográficos. Trata-se de um legendário farmacêutico e dentista lavrense, criado nas fazendas da Ponte Alta e da Serrinha. Quando ficou noivo da bela Cristina, o pedido ao futuro sogro foi feito nada mais nada menos que por seu fraterno amigo Rui Barbosa. Com a morte precoce do pai, a bela e rica viúva Irene foi pedida em casamento. Dois dos filhos, Francico e José, se opuseram. Houve ameaça ao futuro padrasto. Os meninos foram forçados por um tio a ficarem internos no Colégio Caraça, aonde chegaram vestidos de camisola e montados em muar. Não tolerando a rígida disciplina, Francisco foi muito jovem para Ouro Preto, onde vários parentes já estudavam.  Ali se tornou personagem de estudantadas e de rivalidades entre repúblicas, adquirindo o apelido de Chico Diabo. Nessa época, entre pouco antes e pouco depois, estudaram ali futuros personagens de expressão nacional, como Augusto de Lima, Artur Bernardes, Levindo Coelho e o genial Carlos Chagas. Entre os amigos que fez estão os irmãos Vargas, sendo o mais velho Viriato e o mais jovem Getúlio. Getúlio matou um estudante da republica rival e Francisco o escondeu na fazenda Serrinha. A cultura humanística que bebeu em Ouro Preto, fez do jovem rebelde um filantropo. Sua criatividade nesta área é impressionante.  Fundou em Lavras a primeira Cruz Vermelha de Minas, nela criou um curso de enfermagem, criou o grupo lavrense de escoteiros, criou a cruzada lavrense antituberculose, fundou o tiro-de-guerra do qual foi diretor e instrutor e, na pandemia espanhola, não só criou a enfermaria do quartel da polícia, como transformou o teatro da cidade de Ribeirão Vermelho em hospital. Como dentista cuidava dos dentes dos mais humildes, como farmacêutico usou o pão mofado para combater uma epidemia tifóide, sendo, portanto, precursor de Alexander Fleming. Com seu prestígio, ajudou seus amigos Pedro Xavier Gontijo, o padre Matias Lobato e o empresário Antonio Olímpio de Morais a transformar o distrito de Divinópolis em cidade. Foi a Londres num congresso da Cruz Vermelha e recebeu em Belo Horizonte homenagem de Alberto Henrique Rocha, presidente estadual da benemérita instituição. Getúlio Vargas nunca deixou de enviar-lhe cumprimentos de aniversário e concedeu-lhe, em 1932 a mais alta condecoração da Cruz Vermelha. A seu pedido, Vargas ordenou ao prefeito-interventor que preservasse a igreja colonial da praça da cidade.

Tomei conhecimento de Francisco por meio de seu sobrinho e meu primo Ataulpho da Costa Ribeiro, ilustrado psiquiatra, também historiador e fraternal amigo de Bi Moreira.  Por outro lado, sou biógrafo de Carlos Chagas e procurei saber sobre meus parentes que podem ter convivido com o futuro descobridor em Ouro Preto, um deles este notável Francisco, cujo nome completo deveria ser Francisco Carvalho da Costa Ribeiro e que recebeu vários sinônimos ao longo da vida: Francisco Ribeiro de Carvalho, Capitão Chico Ribeiro, Seo Chiquinho e Chico Diabo. Antes de falecer, Ataulpho me prometera escrever a biografia do tio, na qual incluiria aspectos sigilosos da família.

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