FRANCISCO
RIBEIRO DE CARVALHO - PERIPÉCIAS DE UM LAVRENSE QUE NÃO PODE SER ESQUECIDO
João Amílcar Salgado
Este incrível
Francisco (1884-1956), merece um livro e um filme biográficos. Trata-se de um
legendário farmacêutico e dentista lavrense, criado nas fazendas da Ponte Alta
e da Serrinha. Quando ficou noivo da bela Cristina, o pedido ao futuro sogro
foi feito nada mais nada menos que por seu fraterno amigo Rui Barbosa. Com a
morte precoce do pai, a bela e rica viúva Irene foi pedida em casamento. Dois
dos filhos, Francico e José, se opuseram. Houve ameaça ao futuro padrasto. Os
meninos foram forçados por um tio a ficarem internos no Colégio Caraça, aonde
chegaram vestidos de camisola e montados em muar. Não tolerando a rígida
disciplina, Francisco foi muito jovem para Ouro Preto, onde vários parentes já
estudavam. Ali se tornou personagem de
estudantadas e de rivalidades entre repúblicas, adquirindo o apelido de Chico
Diabo. Nessa época, entre pouco antes e pouco depois, estudaram ali futuros
personagens de expressão nacional, como Augusto de Lima, Artur Bernardes,
Levindo Coelho e o genial Carlos Chagas. Entre os amigos que fez estão os
irmãos Vargas, sendo o mais velho Viriato e o mais jovem Getúlio. Getúlio matou
um estudante da republica rival e Francisco o escondeu na fazenda Serrinha. A
cultura humanística que bebeu em Ouro Preto, fez do jovem rebelde um
filantropo. Sua criatividade nesta área é impressionante. Fundou em Lavras a primeira Cruz Vermelha de
Minas, nela criou um curso de enfermagem, criou o grupo lavrense de escoteiros,
criou a cruzada lavrense antituberculose, fundou o tiro-de-guerra do qual foi
diretor e instrutor e, na pandemia espanhola, não só criou a enfermaria do
quartel da polícia, como transformou o teatro da cidade de Ribeirão Vermelho em
hospital. Como dentista cuidava dos dentes dos mais humildes, como farmacêutico
usou o pão mofado para combater uma epidemia tifóide, sendo, portanto,
precursor de Alexander Fleming. Com seu prestígio, ajudou seus amigos Pedro
Xavier Gontijo, o padre Matias Lobato e o empresário Antonio Olímpio de Morais
a transformar o distrito de Divinópolis em cidade. Foi a Londres num congresso
da Cruz Vermelha e recebeu em Belo Horizonte homenagem de Alberto Henrique
Rocha, presidente estadual da benemérita instituição. Getúlio Vargas nunca
deixou de enviar-lhe cumprimentos de aniversário e concedeu-lhe, em 1932 a mais
alta condecoração da Cruz Vermelha. A seu pedido, Vargas ordenou ao prefeito-interventor
que preservasse a igreja colonial da praça da cidade.
Tomei
conhecimento de Francisco por meio de seu sobrinho e meu primo Ataulpho da
Costa Ribeiro, ilustrado psiquiatra, também historiador e fraternal amigo de Bi
Moreira. Por outro lado, sou biógrafo de
Carlos Chagas e procurei saber sobre meus parentes que podem ter convivido com
o futuro descobridor em Ouro Preto, um deles este notável Francisco, cujo nome
completo deveria ser Francisco Carvalho da Costa Ribeiro e que recebeu vários
sinônimos ao longo da vida: Francisco Ribeiro de Carvalho, Capitão Chico
Ribeiro, Seo Chiquinho e Chico Diabo. Antes de falecer, Ataulpho me prometera
escrever a biografia do tio, na qual incluiria aspectos sigilosos da família.
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