EM HOMENAGEM À EXCEPCIONAL MÉDICA
NEPOMUCENENSE ANDREIA LOURENÇONI, QUERIDISSIMA EX-ALUNA E PRIMA, RELEMBRO O
CENTENÁRIO DE NOSSA SANTA CASA
CRONOLOGIA
DA CRENOLOGIA SULMINEIRA
Em
2016 foi comemorado o centenário da Santa Casa de Nepomuceno e em Itajubá foi
realizado o 21º Congresso Brasileiro de História da Medicina e o 11º Congresso
Mineiro de História da Medicina. Fui o principal conferencista desses eventos e
para eles fiz a revisão da História da Medicina no Sul de Minas. Na “cronologia
da crenologia sulmineira”, salientei as figuras do Padre Manoel Gonçalves
Correa (1780), Midões (1818), Caminhoá (1890), Viotti (1883) e Monat 1894.
Por
volta de 1790, o PADRE MANOEL GONÇALVES CORREIA, filho da ilhoa Júlia Maria da
Caridade e do ilhéu Diogo Garcia, se desloca para o sertão de mato virgem, ao
oeste de sua região de origem, Rio das Mortes.
Manoel era irmão do fundador de Nepomuceno Mateus Luís Garcia. O
sacerdote instalou uma fazenda no "Monte Alegre", junto à fronteira
paulista. Lá ergueu uma ermida, para exercer seu ofício, a primeira igreja da
região, dedicada a Nossa Senhora do Carmo. A tradição diz que quando entrou no
lugar, antes ocupado por indígenas, ficou sedento e bebeu a água de um poço,
notando que a água era quente (água calda) e tinha gosto de enxofre. Outros
poços semelhantes existiam por ali e foram chamados de poços de águas caldas. A
vegetação incluía um capim viçoso, que alimentou o início do rebanho caracu, e
o arredor recebeu o nome de campos das águas caldas. Dos 14 filhos de
Júlia e Diogo, o padre ficou sem o sobrenome Garcia, e foi batizado com o nome
igual ao do avô. Seria uma promessa da mãe para que o filho viesse a ser padre.
Os demais filhos masculinos eram rapazes mulherengos e nada religiosos. Mesmo
assim, Manoel teria tido dezenas de filhos e com isso influenciou seu colega de
seminário, padre Feijó, para propor mudanças no celibato religioso. Manuel se
uniu a Joana Brito e com ela teve pelo menos o filho Francisco e as filhas
Francisca e Júlia, mas teria tido dezenas de outros filhos com outras mulheres.
O testamento do padre, contudo, não menciona filhos.
O português INÁCIO GOMES MIDÕES
teria sido aprovado em medicina em Lisboa e chegado até a físico-mor da cidade.
José Bonifácio o teria convidado a vir para o Brasil, inicialmente para São
Paulo. Pouco tempo depois veio para a cidade de Campanha onde, em 1818,
esperava ser nomeado cirurgião da câmara. A nomeação saiu para São João del
Rei, morando lá de 1819 a 1822, de onde voltou para Campanha. Atuou aí como
clínico e político, sendo vereador também em Cambuquira. Neste cargo passou a admirador e defensor das
águas virtuosas de Lambari. Em 1938 empreendeu a estrada entre Campanha e o
arraial de Lambari. O final da estrada veio a ser a Rua Direita e dela cresceu
a futura cidade-balneário.
O
médico baiano, nascido em Salvador, JOAQUIM MONTEIRO CAMINHOÁ foi um dos
maiores botânicos do Brasil, professor na atual Ufrj e entusiasta das águas de
Araxá, sobre as quais escreveu o livro AGUAS MINERAES DO ARAXÁ (1890).
Assim os dois notáveis médicos ligados a estas águas são o mineiro Antonio
Aleixo e Joaquim Caminhoá. Este era irmão do engenheiro Luís Caminhoá e primo
do notável arquiteto Francisco Caminhoá.
POLICARPO
RODRIGUES VIOTTI e o baiano Henrique Monat, médicos de alto prestígio no
Império, fizeram célebres as águas de Caxambu. Viotti é de importância
particular para mim porque se casou com Ambrozina de Magalhães parente de meu
avô, da esposa de Carlos Chagas, Iris Lobo, e de Vital Brasil, além de avô de
meu ex-aluno Maurício Viotti, astro da psiquiatria mineira e amigo de meu filho
João Vinícius. Outras figuras ilustres da família são, entre outras, a
historiadora Emília Viotti e o polivalente Sérgio Viotti. Em 1909, Policarpo
brilhou no Congresso Médico de São Paulo discorrendo sobre as águas de Caxambu
e Poços de Caldas, sendo que obteve do governador e ministro Francisco Sales as
respectivas prefeituras, em 1904.
Já
da família de Monat me interessa saber se teve algo com partidários de Napoleão
arribados à Bahia para resgatá-lo em Santa Helena. O baiano HENRIQUE MONAT era
parente de Castro Alves e de Francisco de Castro e herdeiro da chamada “escola
tropicalista”. Foi um dos fundadores da urologia moderna no Brasil. Publicou
MÉTODO PRÁTICO DE FRANCES, e ESTUDO SOBRE SINÔNIMOS, PARÔNIMOS E ANTÔNIMOS.
Ficou célebre pelo livro CAXAMBU (1894), sobre as águas da cidade
sulmineira.
O
médico francês CHARLES BERTHAUD veio analisar as águas de Cambuquira
provavelmente por influência de Monat e/ou Viotti, montou um laboratório para
analisá-las e daqui não se afastou. Outro médico crenólogo é o historiador
Manoel Brandão, nativo da região desta cidade. Também deve ser lembrado o
engenheiro Américo Werneck, fluminense de origem mineira, que foi prefeito de Lambari,
defensor das águas locais.
As águas gasosas da futura estância de São
Lourenço eram conhecidas da população regional desde os primeiros anos do
século 19. Minavam em parte da enorme fazenda de JOÃO FRANCISCO VIANA (antes
terras do Mendanha), localizada na freguesia do Carmo de Pouso Alto, Termo de
Cristina.
As águas foram chamadas de 'Águas do Sítio do
Viana' e depois de 'Águas da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo, próxima ao
Rio Verde'. Os herdeiros e sucessores venderam as terras à família Veiga da
cidade de Campanha, que criou a Companhia de Águas Minerais São Lourenço, nome
em homenagem ao patriarca LOURENÇO XAVIER DA VEIGA (retrato anexo),
consanguíneo dos Veigas nepomucenenses. Em 1891 ergueu-se uma igreja ao
padroeiro e em 1905 a família vendeu a empresa a AFONSO NORONHA FRANÇA, sócio
do médico Joaquim da Nova, que a dotou de maquinário moderno e de bonde de
tração animal, para transporte da água engarrafada. Participaram decisivamente
dessa modernização Alfredo Capelache de Gusbert e Manoel Alves, este pai do
grande cirurgião mineiro João Batista de Resende Alves. Desde 1925 a cidade cresceu ao redor das
fontes. Em 1927, Antonio Carlos Andrada e Djalma Pinheiro Chagas criam a
prefeitura local. Três famílias são relacionáveis a São Lourenço: 1) foi
prefeito ali meu insigne ex-aluno José Celso Garcia, consanguíneo dos Garcias
de Nepomuceno (e dos primos destes, do lado Ferraz e Junqueira); 2) pertence ao
tronco dos Noronhas do sul de Minas o cientista José de Noronha Peres, meu
mestre, que quando faleceu era o maior virologista do país; 3) a família Xavier
conta com pelo menos dois nomes ligados à hidroterapia: Xavier da Veiga e Xavier
Chaves. Veja-se meu texto sobre a relação entre São Lourenço e a composição
musical Siboney, de Ernesto Lecuona.