PAULO MAIA É UM AMIGO DE RARA CULTURA, QUE FAZ
IMPORTANTE REGISTRO SOBRE PERSONAGENS HISTÓRICAS QUE CLAMAM POR SEREM MAIS
CONHECIDAS
JOÃO AMÍLCAR SALGADO
“Em 24/9/1978, na penúltima semana de seu breve
pontificado de 33 dias, Albino Luciani, o "Papa sorriso", tomou posse
da Basílica de São João de Latrão, cátedra e diocese do bispo de Roma. Em seu
discurso, lembrou que estavam se completando 30 anos da morte de Bernanos, e
narrou um trecho do "Diálogo das Carmelitas", do escritor francês que
viveu alguns anos de exílio em Barbacena, MG, fugindo do nazismo.
As dezesseis freiras carmelitas de Compiègne foram
condenadas à morte em julho de1794, durante a revolução francesa, por
"fanatismo religioso". Uma delas, camponesa simplória, perguntou ao
juiz o que significava "fanatismo". " - Mulher tola - gritou o
carniceiro revolucionário - fanatismo é esse agarramento idiota que vocês têm
ao tal Jesus Cristo!". Exultante, a condenada se voltou para as outras:
"Que alegria, irmãs! Vamos morrer pela fé que temos no nosso
Senhor!". Na manhã seguinte, as monjas foram levadas da prisão da
Conciergérie à guilhotina, numa carreta com grades, o mesmo tratamento já
dispensado a Maria Antonieta, rainha de França e de Navarra, em outubro do ano
anterior. Foram decapitadas uma a uma, e a madre superiora, a última,
profetizou: "Tanta violência vai dar em nada. Só o amor pode tudo".
De fato, os sedentos de sangue da revolução acabaram cortando as cabeças uns
dos outros, "como Saturno a devorar seus filhos", e seu movimento
resultou na ditadura militar de Napoleão Bonaparte e, afinal, na restauração da
monarquia absoluta.
A casa onde Georges Bernanos
morou em Barbacena é preservada como museu no atual bairro Vilela. Ali ele
escreveu, em "Le Chemin de la Croix des Âmes" (O caminho da Cruz das
Almas): "Je n’ai jamais rien
prédit, mais je veux aujourd’hui, comme d’habitude, dire tout haut ce que
chacun pense tout bas". (Nunca predisse nada, mas hoje quero, como de
hábito, dizer bem alto o que todos pensam baixo demais).”