João Amílcar Salgado

sábado, 14 de agosto de 2021

 



A LEGENDA DO CHAPÉU SUL-MINEIRO

João Amílcar Salgado

Três personalidades ligadas a Nepomuceno são legendárias no uso do chapéu: Francisco Negrão de Lima, João Salgado Filho e Santos Dumont. Por sinal, Chico e João foram amigos desde seu tempo de universitários. Influenciado por eles, sou adepto de chapéus. Com isso ganhei um prêmio extra.  Usando o chapéu, fui eleito, por um grupo de brincalhões de Ipanema, sósia de outro adepto: Tom Jobim. Demais, como historiador, tive a grande alegria de saber que o Sul de Minas inaugurou o chapéu europeu no Brasil.

            Desde os primórdios humanos, nossas cabeças receberam proteção contra o sol e contra o frio.  Por sua ligação com o cultivo do milho, nasceu no México o chapéu de palha. No Brasil,  Minas foi cedo o lugar natural do chapéu de palha, enquanto o Nordeste é o do chapéu de couro cru. Com a vinda da côrte imperial, todos aqueles que queriam parecer importantes copiavam a indumentária dos nobres e não havia fábrica de chapéu europeu aqui. O mineiro João Antônio de Lemos, o Barão do Rio Verde, inaugurou a industrialização de chapéus no Brasil, em 1825, em São Gonçalo do Sapucaí, com tecnologia francesa. Enviou seu filho Lúcio para, disfarçado de operário da melhor fábrica do mundo, em Paris, copiasse os procedimentos, sendo, portanto, pioneiro também na espionagem industrial.  Os herdeiros suspenderam a confecção no final do século 19. Nesta época ocorria a construção do Canal de Panamá. Desde 1904, intensifica-se a moda do chapéu de palha equatoriana, já elogiado em 1824, que então passa a ser denominado do Panamá. Sua elegância conquistou - desde aí até o presente - personalidades políticas, cientificas e artísticas mundiais, como Santos Dumont, Churchill e principalmente os astros do cinema. O chapéu passou assim a cobrir a cabeça de gente como Valentino, Humphrey Bogart e Clark Gable e músicos, como Carlos Gardel, Tom Jobim, Sinatra, Michael Jackson e Waldick Soriano, além de compor o traje da máfia e da malandragem carioca.

            O Barão foi colega de Antônio Gomide na Constituinte de 1823 e era amigo de José Bonifácio. Em sua consanguinidade, figuram a primeira-dama Sarah Kubitschek (prima dos Negrão de Lima), Amélia Lemos (esposa do líder nacionalista Gabriel Passos e irmã da Sarah), Nassim Calixto Silveira (renome mundial em glaucoma), o competente neurologista e professor Sérgio Lemos (meu ex-aluno), Madre Teresa Vilela (nome de hospital belorizontino), Randas Vilela Batista  (o cardiocirurgião da “Operação de Batista”), Gabriel Vilela (genial teatrólogo), a recente amiga Mayli Brasil de Andrade, bem como múltiplos Vilelas de Carmo do Rio Claro, Passos, Prata, Ituiutaba, Campo Belo, Boa Esperança, Lavras,  Nepomuceno - e vizinhança. O Barão foi assassinado em 1864, aos 76 anos, pelo médico seu parente Joaquim Gomes de Souza, casado com sua sobrinha Adelaide e acometido de quadro psicótico. Fiz o estudo desse rumoroso caso, sendo Joaquim condenado à morte, que passou a prisão perpétua e enfim à reclusão psiquiátrica. Estudei também a polêmica entre médicos e homeopatas, os primeiros acusados pelos segundos de causadores iatrogênicos da morte do mencionado Lúcio, filho do Barão, que acabava de chegar da Europa.  Nessas pesquisas fui apoiado pelos historiadores Roberto Macedo e Celeste Noviello e pelos colegas médicos e fraternais amigos Marcio Ibraim, Romeu Ibraim, Maurício Noviello, Nassim Calixto e Cláudio Almeida de Oliveira.

 

[APERITIVO PARA O LANÇAMENTO DA 2ª ED. DE “O RISO DOURADO DA VILA”, onde são citados,  referente a Passos, Tião e Garon Maia, José Amorelli, Selton e Danton Melo, João Mulato e Mário Palmério]

 

           

 

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