João Amílcar Salgado

quarta-feira, 29 de junho de 2022

 


INCÊNDIO NA SANTA CASA DE BH

João Amílcar Salgado

Em 1971, Delcides Baumgratz era dirigente do Hospital das Clínicas da UFMG e responsável pelo curso de administração hospitalar. Sugeriu para minha monografia final o tema salubridade hospitalar.  Na apresentação comecei dizendo que, por sua finalidade, cabia ao hospital ser a instituição mais salubre de todas. E não era bem isto o que ocorria. Esta monografia e meu discurso de orador da turma, segundo César Barros Vieira, estavam na vanguarda da abordagem ecológica da questão. Um aspecto que apontei foi o risco de incêndio e outras tragédias, na escolha da ocupação dos andares em hospitais verticais, principalmente em mega-edificações. Mostrei que em nosso hospital o critério para localização do CTI - o primeiro completo no Brasil - foi o prestígio do professor que exigiu o 4º andar, local de sua cátedra, em vez do andar aconselhável, que era o 2º. O pior é que o andar mais alto era ocupado pela ortopedia, em vez do 3º.  Os catedráticos respectivos, adeptos da ditadura (estávamos sob o arbítrio do ditador Médici), desaprovaram meu texto, tachado de inconveniente, o que causou seu abafamento, inclusive o veto à publicação em periódico.  Ontem, 27/6/22, ocorreu o incêndio do CTI de nossa Santa Casa, com trágicas cenas e três mortos. Encontra-se localizado no 10º andar do gigantesco edifício.

Entre alguns historiadores, consta que Ademar de Barros era governador de São Paulo e exigiu que o hospital da USP fosse a réplica da Charité de Berlim, onde estudou – e esta é o primeiro hospital universitário de clínicas do mundo. A Charité tinha sido a Santa Casa da cidade, fato indicado em seu nome. Daí que a Santa Casa de BH decidiu ser reerguida como outra réplica.  E a moda faraônica se estendeu à UFMG e à UFRJ (ilustração anexa). O maior arquiteto hospitalar do Brasil é o mineiro Jarbas Karman, que discorda de mega-edificações, sendo o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, exemplo de sua lavra.

 

 

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