INCÊNDIO
NA SANTA CASA DE BH
João Amílcar Salgado
Em
1971, Delcides Baumgratz era dirigente do Hospital das Clínicas da UFMG e
responsável pelo curso de administração hospitalar. Sugeriu para minha monografia
final o tema salubridade hospitalar. Na apresentação comecei dizendo que, por sua
finalidade, cabia ao hospital ser a instituição mais salubre de todas. E não
era bem isto o que ocorria. Esta monografia e meu discurso de orador da turma,
segundo César Barros Vieira, estavam na vanguarda da abordagem ecológica da questão.
Um aspecto que apontei foi o risco de incêndio e outras tragédias, na escolha da
ocupação dos andares em hospitais verticais, principalmente em
mega-edificações. Mostrei que em nosso hospital o critério para localização do
CTI - o primeiro completo no Brasil - foi o prestígio do professor que exigiu o
4º andar, local de sua cátedra, em vez do andar aconselhável, que era o 2º. O
pior é que o andar mais alto era ocupado pela ortopedia, em vez do 3º. Os catedráticos respectivos, adeptos da
ditadura (estávamos sob o arbítrio do ditador Médici), desaprovaram meu texto,
tachado de inconveniente, o que causou seu abafamento, inclusive o veto à
publicação em periódico. Ontem, 27/6/22,
ocorreu o incêndio do CTI de nossa Santa Casa, com trágicas cenas e três mortos.
Encontra-se localizado no 10º andar do gigantesco edifício.
Entre
alguns historiadores, consta que Ademar de Barros era governador de São Paulo e
exigiu que o hospital da USP fosse a réplica da Charité de Berlim, onde estudou
– e esta é o primeiro hospital universitário de clínicas do mundo. A Charité tinha
sido a Santa Casa da cidade, fato indicado em seu nome. Daí que a Santa Casa de
BH decidiu ser reerguida como outra réplica.
E a moda faraônica se estendeu à UFMG e à UFRJ (ilustração anexa). O
maior arquiteto hospitalar do Brasil é o mineiro Jarbas Karman, que discorda de
mega-edificações, sendo o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, exemplo de
sua lavra.
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