João Amílcar Salgado

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 PELÉ É O PELÉ, PORQUE...

 

João Amílcar Salgado

 

Carlos Caiafa Filho diplomou-se médico na UFMG, em 1934. Vários de sua juventude acadêmica se tornaram celebridades na medicina e no futebol. Neste, citamos dois do Galo. O 1º é  o goleiro Perigoso, apelido esportivo de Osvaldo Costa, depois o maior dermatologista das Américas. O 2º é o Mário de Castro, apelidado Orion, um dos maiores artilheiros do clube,  ao lado de Guará, Reinaldo e Dario. Caiafa, sendo de família italiana, seria cruzeirense, mas sua amizade pela vida toda com o colega de turma Mário o fez galista fanático, inclusive conselheiro. 

Mais outro craque representa surpreendente ligação entre o Caiafa e a história atleticana. É nada menos que Dondinho, o pai de Pelé. Isso porque Carlos foi o primeiro treinador do Dondinho (João Ramos do Nascimento), na equipe da Congregação Mariana de Campos Gerais, entre 1936 e 1938. Em seu livro VIDA DE MENINO ANTIGO (1986), Caiafa Filho diz que o Dondinho antes era da turma rival de meninos, com a qual seu grupo entrava em briga de rua, quase a cada dia. Brigavam contra “a turma do Carlito do Euzébio (sobrinho do Padre Maurício), entre os quais estavam o Rodão, o João Rabelo, o Geraldo do Guilherme Surdo, o Benedito Rabelo, o Marcelo, o Gaguinho, o Dondinho (futuro pai do PELÉ), o Morais, o João Trancolino (o Dá Um Pé...) e outros de que não me lembro agora.”  O sonho do garoto Dondinho devia ser poder “chutar bola  no campinho do Largo da Matriz”, em frente à Casa Caiafa. Ali o Caiafinha “era o dono da bola, do campo, do time e até de alguns jogadores, como o Canhão da Flausina ...”, seu grande amigo.

Em Florença, eu estava na praça do Mercado Novo (do Porcelino), quando uma turma animada, que só conversa futebol, soube que eu era brasileiro – e me cercou. Na prosa, cheia de gargalhadas, quiseram saber se eu admirava o futebol italiano. Respondi que só duas gentes jogam o fino do futebol: os negros e os italianos. Perguntaram: o melhor negro é o Pelé e o melhor italiano é quem? Respondi que o Pelé é o Pelé porque acumula as virtudes de negros e italianos. Foi um entusiasmo só, queriam que eu desse entrevista à LA GAZZETTA DELLO SPORT, mas me esquivei, porque não poderia comprovar que entre os ascendentes do Dondinho, consta um imigrante italiano, tal como se comenta há décadas em Campos Gerais.

 



quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

 


SPRAY DE FUTEBOL

João Amílcar Salgado

Durante toda a copa do mundo de 2022, houve suspeito silêncio sobre a invenção do spray de futebol (spray demarcador de distância nas cobranças). Em cada disputa presenciamos seu uso.  Até a data desta competição, a imprensa tem registrado que o inventor desse spray é um mineiro de Ituiutaba, o Heine Allemagne Vilarinho Dias, que no ano de 2000, teve a ideia de usar uma espuma volátil e biodegradável, capaz de marcar o gramado de futebol por um minuto e logo  desaparece. Foi usado experimentalmente na Taça BH de Júniores de 2000 e, no mesmo ano, a CBF autorizou seu uso na Copa Joao Havelange. A FIFA finalmente aprovou seu uso em 2012. O direito à patente tem sido o pretexto para tal silencio. Se o Heine é o inventor, negar seu direito é um crime.

Estudo outras invenções principalmente as mineiras, começando por Santos Dumont. Outra também ocorrida em Minas é a invenção usurpada do jipe, que fiz questão de documentar em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2021).  Ali está  também minha invenção, com a colaboração do Sebastião Soares Leal, do Tarcísio Campos Ribeiro e do Luiz de Paula Castro. Trata-se do mais potente antiácido disponível, hoje com o nome de SIMECO-PLUS, depois de usurpado pela Wyeth. O novo governo deve tomar conhecimento e providências sobre tão fundamentais direitos.

 

domingo, 25 de dezembro de 2022

 


O BAIACU E OS MORTOS-VIVOS

João Amílcar Salgado

Em 1982, o etnobotânico Wade Davis descobriu a tetrodotoxina, veneno do peixe baiacu, milhares de vezes mais letal que o cianeto. Ela faz o corpo parecer morto, o que gerou a lenda haitiana dos zumbis e a série de filmes de mortos ambulantes. Terapeutas nativos do Haiti usam a mistura dessa toxina com ervas alucinógenas, o que deixa a pessoa morta-viva em 25 minutos. O principal texto de Wade é  A SERPENTE E O ARCO-IRIS (1986). O peixe venenoso voltou às manchetes, porque raro baiacu oceânico foi achado, neste final de 2022, numa praia britânica da Cornualha, por Constance Morris, especialista em animais marinhos. Meu neto pescou um baiacu em Arraial d´Ajuda e, depois de ouvir-me, perguntou: “Tudo bem, estou contaminado, mas em quantas horas serei um zumbi?”.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 


RAW VERSUS VEIGA SALES

João Amílcar Salgado

O administrador científico Isaías Raw faleceu em 13/12/22, aos 95 anos. Em 2010 ele esteve nas manchetes, acusado de desleixo pelo incêndio escandaloso do Instituto Butantã. Sua biografia tem dois pontos em comum com Nepomuceno. O mais recente ocorreu quando ambos participamos de uma mesa num congresso de ensino da medicina na Unicamp. Estávamos preparando a sessão, quando ele me disse: “me indicaram você para meu auxiliar como moderador do debate, pois não estou suficientemente enfronhado nas questões programadas”. No final ele me agradeceu muito. No cafezinho a seguir, o procurei, mas já tinha saído. Era para conversar sobre o segundo ponto, que foi a disputa que ele travou com João Batista Veiga Sales, pela cátedra de bioquímica da Usp, em 1957.

O João é meu parente pelo lado Sales, filho da nepomucenense Mariana da Veiga e do lavrense José Salles Botelho. Essa disputa está envolta em mistério, pois meus amigos da Usp, Sérgio Almeida, Dalton Chamone, Luiz Décourt, Fúlvio Pileggi, Michel Jamra, Luiz Carlos Junqueira, Afonso DiDio, Oscar Resende Lima, Adib Jatene, Guilherme Rodrigues, Eduardo Krieger e os queridos conterrâneos Carlito e Jaime Pimenta, pouco me puderam informar. Mais dois outros meus amigos catedráticos da Usp, Sebastião Sampaio e Carlos Lacaz, segredaram-me algum pormenor, mas alegaram ser cedo para adiantar a íntegra – e ambos faleceram nesse silêncio. Outros três parentes sulmineiros, José Ribeiro do Vale, Adauto Barbosa Lima e Carlos Ribeiro Diniz poderiam contribuir, sendo que este me prometeu relato, desde que apenas oral, do ocorrido, mas a conversa com eles ficou sempre adiada. Ainda outro sulmineiro, o geneticista Newton Freire Maia, desafiou o grupelho de uspeanos obcecados pelos dólares da Rockefeller (ver seus livros). Por fim,  Sebastião Baeta e Olga Bohonoletz também adiaram nossa conversa.  Assim, o manto plúmbeo da ditadura, com imperdoável poder na cúpula direitista da Usp, parece ter influído na discrição de meu chefe João Galizzi e de demais condiscípulos baetianos, dos colegas da turma de 1937, da viúva Gelsa e de demais familiares do João Batista. Curiosamente, a morte do Raw quase coincidiu com a do Mariano, sobrinho dele. Tudo indica que os perversos obstáculos contra o brilhantíssimo Veiga Sales foram incrivelmente mesquinhos e evidentemente indignos daquela grande universidade. Sua estrondosa vitória nessa competição deve ser cultuada com imenso orgulho por nós todos nepomucenenses.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022


 

OLHO DE VIDRO

João Amílcar Salgado

Hoje, 13/12/22, é dia de Santa Luzia. Nesta data, no século 19, aconteceu o caso do OLHO DE VIDRO. Este é o apelido de um comandante que agendou um treinamento de equitação para 13/12. Os soldados pediram-lhe que respeitasse a Santa. Ele respondeu que essa devoção não lhe dizia respeito. Como era exímio chicoteador, reafirmou sua autoridade, iniciando o treino com uma exibição de seu chicote de luxo, do alto de seu belo cavalo.  Justo no primeiro lance, a ponta do chicote vazou-lhe um dos olhos, substituído por uma prótese.

José Viera Fazenda (1847-1917) relata o episódio no capítulo O CHAFARIZ de seu texto ANTIQUALHAS E MEMÓRIAS DO RIO DE JANEIRO. Ele foi o primeiro grande  historiador da cidade do Rio de Janeiro. Era médico e historiador, neste e noutros aspectos muito parecido comigo. Abolicionista, diplomou-se aos 24 anos e clinicava sem cobrar. Foi um elogiado intendente da cidade no mandato 1895-6. A partir de 1896, publicou suas pesquisas no jornal A NOTÍCIA, depois reunidas, de 1919 a 1924,  na REVISTA DO INSTITUTO HISTORICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO, sob o título citado, e reeditadas em livro em 2011.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

 

O MISTÉRIO DE EZEQUIEL

       

João Amílcar Salgado

O ilustre psiquiatra Jairo Furtado Toledo escolheu um profeta de Aleijadinho para ser o logotipo do 6o Congresso Brasileiro de História da Medicina de 2001. Luiz Savassi Rocha, ao ler meu texto sobre o psiquiatra Rosa, lembrou que Karl Jaspers é autor de estudo sobre possível esquizofrenia do profeta Ezequiel. Daí, concluímos que Guimarães Rosa insinuara a insanidade do profeta, ao escolher o nome de chefe Zequiel para uma personagem com sintomas pertinentes. Se o congresso era na cidade psiquiátrica de Barbacena e um psiquiatra escolhera aquele logotipo, perguntamos a este a razão da escolha.  Toledo respondeu que a escolha se deu por acaso, ou melhor, por razões estéticas.  Disse mais: até aquele momento, não sabia que aquele profeta era o Ezequiel e muito menos que Ezequiel era suspeito de doença mental.

        O chefe Zequiel surge em 1956 na novela BURITI, incluída no livro CORPO DE BAILE. Em 1983, o montesclarence Carlos Alberto Prates Correia dirige o filme NOITES DO SERTÃO, no qual Zequiel é vivido pelo cantor mineiro-adotivo Milton Nascimento. Em 2001, acontece o relatado mistério do profeta Ezequiel.

O profeta Ezequiel foi um sacerdote hebreu, levado como escravo para a Babilônia, pelo rei Nabucodonosor, em cerca de 597 a.C. Ele profetizou a conjunção de fome, epidemias e guerra no Oriente Médio, quadro muito parecido com a atual fome no mundo e no Brasil, a pandemia de covide, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a denúncia de numerosos trabalhadores submetidos a condições similares à escravidão.

 



quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

 


FERNANDA AO VÔÃO

João Amílcar Salgado

EM  26/11/22, HOUVE A HOMENAGEM AOS AVÓS NO COLÉGIO SANTO  AGOSTINHO, EM BH.

PARA SEU AVÔ VÔÃO, FERNANDA, JÁ CONHECIDA COMO DESENHISTA, SE FEZ ESCRITORA E POETA:

ESCREVEU O LIVRO A HISTÓRIA DE JOÃO E O POEMA ACRÓSTICO AO VOÃO.