PELÉ É O PELÉ, PORQUE...
João Amílcar Salgado
Carlos Caiafa
Filho diplomou-se médico na UFMG, em 1934. Vários de sua juventude acadêmica se
tornaram celebridades na medicina e no futebol. Neste, citamos dois do Galo. O
1º é o goleiro Perigoso, apelido
esportivo de Osvaldo Costa, depois o maior dermatologista das Américas. O 2º é
o Mário de Castro, apelidado Orion, um dos maiores artilheiros do clube, ao lado de Guará, Reinaldo e Dario. Caiafa,
sendo de família italiana, seria cruzeirense, mas sua amizade pela vida toda
com o colega de turma Mário o fez galista fanático, inclusive conselheiro.
Mais outro
craque representa surpreendente ligação entre o Caiafa e a história atleticana.
É nada menos que Dondinho, o pai de Pelé. Isso porque Carlos foi o primeiro
treinador do Dondinho (João Ramos do Nascimento), na equipe da Congregação
Mariana de Campos Gerais, entre 1936 e 1938. Em seu livro VIDA DE MENINO
ANTIGO (1986), Caiafa Filho diz que o Dondinho antes era da turma rival de meninos,
com a qual seu grupo entrava em briga de rua, quase a cada dia. Brigavam contra
“a turma do Carlito do Euzébio (sobrinho do Padre Maurício), entre os quais
estavam o Rodão, o João Rabelo, o Geraldo do Guilherme Surdo, o Benedito
Rabelo, o Marcelo, o Gaguinho, o Dondinho (futuro pai do PELÉ), o Morais, o
João Trancolino (o Dá Um Pé...) e outros de que não me lembro agora.” O sonho do garoto Dondinho devia ser poder “chutar
bola no campinho do Largo da Matriz”,
em frente à Casa Caiafa. Ali o Caiafinha “era o dono da bola, do campo, do time e até
de alguns jogadores, como o Canhão da Flausina ...”, seu grande amigo.
Em Florença,
eu estava na praça do Mercado Novo (do Porcelino), quando uma turma animada,
que só conversa futebol, soube que eu era brasileiro – e me cercou. Na prosa,
cheia de gargalhadas, quiseram saber se eu admirava o futebol italiano.
Respondi que só duas gentes jogam o fino do futebol: os negros e os italianos.
Perguntaram: o melhor negro é o Pelé e o melhor italiano é quem? Respondi que o
Pelé é o Pelé porque acumula as virtudes de negros e italianos. Foi um
entusiasmo só, queriam que eu desse entrevista à LA GAZZETTA DELLO SPORT,
mas me esquivei, porque não poderia comprovar que entre os ascendentes do
Dondinho, consta um imigrante italiano, tal como se comenta há décadas em
Campos Gerais.