João Amílcar Salgado

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

 


RAW VERSUS VEIGA SALES

João Amílcar Salgado

O administrador científico Isaías Raw faleceu em 13/12/22, aos 95 anos. Em 2010 ele esteve nas manchetes, acusado de desleixo pelo incêndio escandaloso do Instituto Butantã. Sua biografia tem dois pontos em comum com Nepomuceno. O mais recente ocorreu quando ambos participamos de uma mesa num congresso de ensino da medicina na Unicamp. Estávamos preparando a sessão, quando ele me disse: “me indicaram você para meu auxiliar como moderador do debate, pois não estou suficientemente enfronhado nas questões programadas”. No final ele me agradeceu muito. No cafezinho a seguir, o procurei, mas já tinha saído. Era para conversar sobre o segundo ponto, que foi a disputa que ele travou com João Batista Veiga Sales, pela cátedra de bioquímica da Usp, em 1957.

O João é meu parente pelo lado Sales, filho da nepomucenense Mariana da Veiga e do lavrense José Salles Botelho. Essa disputa está envolta em mistério, pois meus amigos da Usp, Sérgio Almeida, Dalton Chamone, Luiz Décourt, Fúlvio Pileggi, Michel Jamra, Luiz Carlos Junqueira, Afonso DiDio, Oscar Resende Lima, Adib Jatene, Guilherme Rodrigues, Eduardo Krieger e os queridos conterrâneos Carlito e Jaime Pimenta, pouco me puderam informar. Mais dois outros meus amigos catedráticos da Usp, Sebastião Sampaio e Carlos Lacaz, segredaram-me algum pormenor, mas alegaram ser cedo para adiantar a íntegra – e ambos faleceram nesse silêncio. Outros três parentes sulmineiros, José Ribeiro do Vale, Adauto Barbosa Lima e Carlos Ribeiro Diniz poderiam contribuir, sendo que este me prometeu relato, desde que apenas oral, do ocorrido, mas a conversa com eles ficou sempre adiada. Ainda outro sulmineiro, o geneticista Newton Freire Maia, desafiou o grupelho de uspeanos obcecados pelos dólares da Rockefeller (ver seus livros). Por fim,  Sebastião Baeta e Olga Bohonoletz também adiaram nossa conversa.  Assim, o manto plúmbeo da ditadura, com imperdoável poder na cúpula direitista da Usp, parece ter influído na discrição de meu chefe João Galizzi e de demais condiscípulos baetianos, dos colegas da turma de 1937, da viúva Gelsa e de demais familiares do João Batista. Curiosamente, a morte do Raw quase coincidiu com a do Mariano, sobrinho dele. Tudo indica que os perversos obstáculos contra o brilhantíssimo Veiga Sales foram incrivelmente mesquinhos e evidentemente indignos daquela grande universidade. Sua estrondosa vitória nessa competição deve ser cultuada com imenso orgulho por nós todos nepomucenenses.

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