João Amílcar Salgado

quinta-feira, 25 de abril de 2024

 


A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E NEPOMUCENO

João Amílcar Salgado

Em 1974, ocorreu a Revolução dos Cravos em Portugal, pela qual a ditadura vigente foi substituída pela atual democracia. A ditadura de inspiração nazista foi implantada em 1933 pelo extremista de direita e colonialista Antônio Salazar. Em 2024 comemoramos os 50 anos desse acontecimento feliz. A canção TANTO MAR do genial musicista brasileiro Chico Buarque, composta para homenagear o fato, tornou-se clássica. Nepomuceno entra indiretamente nesta história, através de meu encontro com o sociólogo Gilberto Freyre, dois anos depois, em Londres. Salazar, diante do declínio de seu poder, agarrou-se desesperadamente ao prestígio mundial de Freyre, alegando que sua sociologia justificava a manutenção das colônias lusas. Em minhas conversas com o sociólogo, cobrei dele sua insustentável amizade ao ditador.

 Meu argumento era de que ele decepcionou logo a mim que o tinha como ídolo de juventude. E mostrei a ele sua frase lapidar, citada em meu discurso de orador da turma de médicos pela UFMG, em 1960.  Gilberto Freyre a escreveu, quando fez parte da universidade revolucionária, criada, em 1935, pelo médico Pedro Ernesto, de esquerda, conhecida como UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL - por sua vez logo fechada por outro ditador, Getúlio Vargas.  A citação refere-se ao extraordinário Antônio da Silva Melo, outro ídolo, seu companheiro ali, tendo como reitor o inovador Baeta Viana, liderando seletíssimo corpo docente.  Ele a ouviu comovido:

“Vós [mestres homenageados] que, para usar palavras de Gilberto Freyre, em vez do lugar macio e de honra entre os triunfadores, prefer(is) ficar de pé ao lado dos estudantes, não para adula-los mas para adverti-los, de pé ao lado dos brasileiros de vinte anos e contra os falsos mestres de sessenta, os maus políticos de cinquenta, os ministros ineptos de quarenta, que cada dia acrescentam, sorrindo ou discursando, alguma coisa de nova e de definitiva à desorganização do ensino superior do país.”

 

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