A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E NEPOMUCENO
João Amílcar Salgado
Em 1974, ocorreu a Revolução dos
Cravos em Portugal, pela qual a ditadura vigente foi substituída pela atual
democracia. A ditadura de inspiração nazista foi implantada em 1933 pelo
extremista de direita e colonialista Antônio Salazar. Em 2024 comemoramos os 50
anos desse acontecimento feliz. A canção TANTO MAR do genial musicista
brasileiro Chico Buarque, composta para homenagear o fato, tornou-se clássica.
Nepomuceno entra indiretamente nesta história, através de meu encontro com o
sociólogo Gilberto Freyre, dois anos depois, em Londres. Salazar, diante do
declínio de seu poder, agarrou-se desesperadamente ao prestígio mundial de
Freyre, alegando que sua sociologia justificava a manutenção das colônias
lusas. Em minhas conversas com o sociólogo, cobrei dele sua insustentável amizade
ao ditador.
Meu argumento era de que ele decepcionou logo
a mim que o tinha como ídolo de juventude. E mostrei a ele sua frase lapidar,
citada em meu discurso de orador da turma de médicos pela UFMG, em 1960. Gilberto Freyre a escreveu, quando fez parte
da universidade revolucionária, criada, em 1935, pelo médico Pedro Ernesto, de
esquerda, conhecida como UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL - por sua vez logo
fechada por outro ditador, Getúlio Vargas.
A citação refere-se ao extraordinário Antônio da Silva Melo, outro
ídolo, seu companheiro ali, tendo como reitor o inovador Baeta Viana, liderando
seletíssimo corpo docente. Ele a ouviu
comovido:
“Vós [mestres homenageados] que,
para usar palavras de Gilberto Freyre, em vez do lugar macio e de honra entre
os triunfadores, prefer(is) ficar de pé ao lado dos estudantes, não para adula-los
mas para adverti-los, de pé ao lado dos brasileiros de vinte anos e contra os
falsos mestres de sessenta, os maus políticos de cinquenta, os ministros
ineptos de quarenta, que cada dia acrescentam, sorrindo ou discursando, alguma
coisa de nova e de definitiva à desorganização do ensino superior do país.”
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