ZEZÉ
DA VANGE (JOSÉ ANÍBAL VILELA SALGADO, ZECA)
João Amílcar Salgado
O Zezé da Vange foi uma criança
muito bonita e se revelou logo excepcional observador. Ficou muito cedo
emparedado entre a notoriedade dos irmãos precedentes, nascidos apenas três e
um ano antes dele. Teve uma saída: ser o mais levado da ninhada. Para complicar
seus primeiros passos, ouviu o pessoal da casa dizer algo ininteligível para alguém
tão novo: que o Aníbal não era irmão, mas filho do Amílcar. Traumáticas também
eram as notícias de bombardeios e mortes da guerra mundial. Com isso, se via num
alarme sem fim. Contudo não fugiu à vocação educacional da família, pois se
tornou também professor, e muito ameno professor. Suas façanhas ficaram
inesquecíveis. Seu pai olhou pela rua, quando disse ao João Meneis: “olha
aquele menino lá no alto do poste, ele vai cair ou tomar um choque, será que a
mãe ou alguém ali não está vendo?” O Meneis foi acudir e voltou para dizer: “aquele
é o seu filho, o Zezé...” O primeiro foguetório ouvido pelo garoto aconteceu
num São Sebastião. Ele gritou: “a guerra chegou!” e sumiu, sendo achado debaixo
da cama de uma casa humilde. Ele viu nas revistas Em Guarda e O
Cruzeiro fotos da guerra e passou a achar que qualquer fordeco era um
tanque. Chamava os fordecos de “truas” e, quando avistava algum, dizia: “tô com
medo do trua”. O tio Demétrio chegou no trua da família para nos levar à
fazenda da tia Zulmira. Foi uma luta fazê-lo subir no veículo, aos gritos de “trua-não,
mãe!”. O doutor Rubem foi passando, riu
muito e veio carinhosamente ajudar sua prima.
Na adolescência passou a ser o galã
da juventude. A beldade Marilene foi a primeira a se apaixonar por ele. Elogiado
pelo corpo musculoso, foi estimulado a diplomar-se na UFMG em educação física,
ao mesmo tempo em que se fez atleta do Minas Tênis, faixa preta de judô. O treinador
no clube, o professor Albano, seu fã, quis levá-lo ao exterior, mas o auspicioso
campeão preferiu as muitas namoradas da Vila e da Capital. E foi na Vila que
aconteceu uma de suas maiores proezas esportivas: a luta contra o gentilíssimo
garçon do clube, Zito do Zé Gordo, que o povo presenciou no meio do footing
da rua Direita - descrita no livro O RISO DOURADO DA VILA. Houve dois juízes
para a luta, primos do vencedor: o Marcli e o Toninho Reis. O Zeca tornou-se muito querido de todos os
seus ex-alunos. O que mais estes gostam de comentar saudosamente, é que ele foi
o único professor de educação física a dar aula sentado e chupando laranja.
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