OLHOS NEGROS DA NEUSA VILELA SALGADO:
OLHOS NEGROS
João Salgado Filho
Olhos negros
Como noites
De procela,
Sem estrelas,
Sem luar...
Que maravilha
Os olhos dela!
Que lindos olhos!
Que meigo olhar!
Numa capela
Muito branquinha
A Virgem Santa,
A mãe de Deus
Os olhos tinha
Tais quais os seus...
Se indaga alguém:
- “Olhos de quem?”
Confesso a medo,
Quase em segredo:
- “Que maravilha
Os olhos lindos
De minha filha!”
[Publicado em 4/8/1946 no no
18 do jornal 29 De Outubro, Nepomuceno.
A Neusa, inspiradora do poema, tinha cinco anos]
Minha irmã sempre foi de uma
meiguisse infinita. Meu pai a apelidou de Caçulinha. Alguém perguntava seu nome
e ela respondia: “Caiolinha”, toda orgulhosa. Passava as horas vigiando seu
tabuleiro de magníficas mangas de nossos pomares. Todos contribuíamos para sua
coleção. Ela não conseguia comer tanta manga. Gritava: “mãe, o Zeca tá robano
minhas mangas”. Ou então: “mãe, a Ia tá me chamando de Chaniquinha”. Seu feitiço
de andaluza teve uma explicação: se a Ia era sueva, como o avô João, a Neusa
era sevilhana, como a avó Chanica. Acontece que tínhamos uma prima anã,
exatamente a Chaniquinha. Chamar a garotinha no diminutivo era choro soluçado e
com beicinho, na certa.
[NESTE DIA DAS MÃES HOMENAGEM À NEUSA, MÃE
MARAVILHOSA]

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