João Amílcar Salgado

domingo, 12 de maio de 2024

 


OLHOS NEGROS DA NEUSA VILELA SALGADO:

 

OLHOS NEGROS

João Salgado Filho

 

Olhos negros

Como noites

 De procela,

Sem estrelas,

 Sem luar...

 

Que maravilha

 Os olhos dela!

Que lindos olhos!

Que meigo olhar!

 

Numa capela

Muito branquinha

A Virgem Santa,

A mãe de Deus

Os olhos tinha

Tais quais os seus...

 

Se indaga alguém:

- “Olhos de quem?”

Confesso a medo,

Quase em segredo:

- “Que maravilha

 Os  olhos lindos

De minha filha!”

 

 

[Publicado em 4/8/1946 no no 18 do jornal 29 De Outubro, Nepomuceno.

 A Neusa, inspiradora do poema,  tinha cinco anos]

 

Minha irmã sempre foi de uma meiguisse infinita. Meu pai a apelidou de Caçulinha. Alguém perguntava seu nome e ela respondia: “Caiolinha”, toda orgulhosa. Passava as horas vigiando seu tabuleiro de magníficas mangas de nossos pomares. Todos contribuíamos para sua coleção. Ela não conseguia comer tanta manga. Gritava: “mãe, o Zeca tá robano minhas mangas”. Ou então: “mãe, a Ia tá me chamando de Chaniquinha”. Seu feitiço de andaluza teve uma explicação: se a Ia era sueva, como o avô João, a Neusa era sevilhana, como a avó Chanica. Acontece que tínhamos uma prima anã, exatamente a Chaniquinha. Chamar a garotinha no diminutivo era choro soluçado e com beicinho, na certa.

 

[NESTE  DIA DAS MÃES HOMENAGEM À NEUSA, MÃE MARAVILHOSA]

 

 

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