CARLOS AMÍLCAR SALGADO DISCUTE A QUESTÃO DAS FILAS.
João Amílcar Salgado
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
quarta-feira, 28 de agosto de 2024
JOSÉ
RÓIS
O esporte mata, exceto andar e dançar
José Róis nasceu patafufo, portador de
nascença da síndrome do cérebro inquieto. Formou-se em medicina na hoje
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Sua mente especial o fez diferente da maioria dos humanos, causando de
muitos a admiração e de poucos a hostilidade. Ainda estudante de medicina, não
teve dúvida de que seria cientista e foi iniciar-se no laboratório de Paulo da
Silva Lacaz, enquanto absorvia o modo de pensar de Antônio da Silva Melo.
Corretamente, deduziu que só poderia ser bom médico se dominasse cabalmente o
conjunto maciço da fisiologia humana. Daí que, na faculdade, incomodou quanto
docente topava e depois, na clínica, todo colega com quem trocava idéia. Todos
esses negavam àquele peremptório debatedor tamanha cópia de conhecimentos sobre
o funcionamento orgânico. E não possuindo conhecimento igual, atribuíam ao José
Róis capacidade infinita para mentir. Carregou isso pela vida afora, até que
descobriu o Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, onde encontrou
vários estudiosos que, somados, lhe configuraram um interlocutor à altura, ou
seja, não o taxaram de mentiroso e, para sua grande alegria, o levaram a sério.
De suas várias
façanhas, minha preferida é a denuncia que sofreu por entrevista dada ao Diário
da Tarde. Ele cuidou de vários pacientes diabéticos que antes tinham sido
tratados pelos melhores clínicos. Logo de início modificava-lhes as restrições
dietéticas. Todos os tratamentos de
diabete na época seguiam a orientação de Baeta Viana que era fanático por
Elliott Proctor Joslin, homem de Harvard e Yale, pioneiro e herói mundial do
auto-cuidado da diabete, desde 1898 até 1962. Os críticos posteriores de Joslin
espalharam a piada de que, com o Joslin, o paciente não morria de diabete, mas
de aterosclerose, que era acelerada pela dieta antidiabética do dogmático
diabetólogo. Pois bem, muito antes disso, Joslin já era criticado em Minas pelo
Róis. Os baetistas ficaram indignados com aquele “não-aluno” do Baeta, mas a
coisa culminou quando um jornalista, filho de uma cliente de Róis, observando a
melhora da mãe, julgou a doutrina deste digna de uma reportagem. Para azar do Róis, o repórter era
sensacionalista e não resistiu à tentação de estampar a seguinte manchete: DIABÉTICOS
– AÇÚCAR NELES!
Ora, o presidente do
Conselho Regional de Medicina era justamente o professor Oromar Moreira,
fanático ao mesmo tempo por Viana e por Joslin. Abriu incontinente o processo
contra o Róis. Este recebeu várias correspondências assinadas por Moreira,
pedindo que se defendesse por escrito. Róis sempre respondia que preferia
defender-se em plenário. Passaram-se meses e o Conselho acabou concordando em
ouvi-lo em plenário, tendo o cuidado de convocar dois endocrinologistas ad-hoc, para que a argüição fosse arrasadora. De seu
lado, Róis estava indo para o julgamento apenas com dois livros, o tratado de
Best & Taylor de fisiologia e o tratado de Goodman & Gilman de
farmacologia. Em meio ao trajeto, aproxima-se de uma banca de jornais, onde ao
acaso encontra o último número da revista Seleções. Para seu prazer, lê:
DIETA MAIS LIBERAL PARA DIABETE. Quase sorridente, Rois adquire a
revista e parte para enfrentar o tribunal.
O presidente do
Conselho mostra-lhe o jornal e pergunta se ele confirma ser autor daquela
entrevista. Róis confirma ser o entrevistado, mas diz que o título da mesma foi
colocado depois da entrevista, sendo que os dizeres da manchete não
correspondem ao conteúdo. Acrescenta que, se o Conselho quiser processar o
jornalista ou o jornal pela manchete infeliz, ele apóia a ação. Desconcertados
com esta posição e com a tranqüilidade mineiríssima do réu, os conselheiros
lançam uma última cartada: pedem que exponha oralmente o conteúdo. Róis diz que
ia falar longamente, mas resolvera à última hora apenas ler um resumo. E passa a ler, como se fosse seu, o texto da
revista Seleções. Lê alguns parágrafos e dá por finalizada sua
exposição. Um endocrinologista pergunta, exaltado, se ele sabe quantos
diabéticos morrerão em função de tal orientação? Róis responde com outra pergunta: quantos
seriam os leitores de minha entrevista?
- Que seja um, haverá crime!, disse, indignado o especialista.
Nosso herói então exibe a capa da revista e
diz: diante do que ouvi e diante da multidão de leitores desta revista que
está em minhas mãos, só aceito ser processado depois que os senhores abrirem
processo contra os tradutores brasileiros e contra os editores da matriz nos
EUA, e mais: desde já, delego minha defesa aos advogados do Reader´s Digest.
Róis foi um pesquisador
nato, sempre heterodoxo em relação aos
clichês estabelecidos. Escrevia bem e não tinha acesso às publicações
convencionais. Exercitava seu cérebro inquieto com o xadrez e era adepto do
esperanto. Admirava persistentemente o oftalmologista Zamenhof, que criou este
idioma maravilhosamente simples, para veículo de paz e educação. Por meio dele,
José Róis expunha a um público limitadíssimo suas ideias sempre originais,
veiculadas em revista médica
esperantista. Seu forte era o pensamento
lógico, mas tudo indica que, se tivesse tido acesso a laboratórios, teria tido
sucesso em colocar seus dons e seu conhecimento biológico a serviço de
significativa produção científica. Quantas pessoas desse tipo o Brasil
desperdiça em seu imenso território?
Conheci o Róis
tardiamente, quando meu amigo Gilberto Vasconcelos me telefonou de Juiz de Fora
e perguntou se eu lera um livro sensacional intitulado O ESPORTE MATA e
quis saber se eu o receberia junto com o autor do livro. Mais tarde Róis, o
autor, confessaria que sua chegada ao Centro de Memória da Medicina de Minas
Gerais foi grata surpresa, pois o recebemos de braços abertos, culminando com o
convite para uma aula de mesmo título no curso de história da medicina. Ele
supunha hostilidade da medicina acadêmica e nada disso aconteceu. O livro não
era novo, mas o Gilberto e eu o recolocamos em discussão pelo tablóide CAROS
AMIGOS e pelo canal esportivo de televisão ESPN BRASIL.
Com isso Róis foi entrevistado pelo Jô Soares,
quando, no palco, caminhou com o humorista, para que demonstrasse como era
mesmo caminhar sem correr.
Coincidiu que exatamente nesta ocasião morreu um jogador de futebol
diante de todo o público brasileiro adepto do futebol, em cenas fortes
flagradas pela televisão. Em entrevista
àquele canal eu disse que o alerta de Róis contrariava os interesses de milhões
de dólares investidos na crescente indústria esportiva, mas, em compensação, a
morte real desse jogador e de outros passaria a dar lucros aos fabricantes de
desfibriladores e outros equipamentos de socorro. Ver https://www.youtube.com/watch?v=fUZDmtSwcc4
Quase toda manhã, na
esquina do Colégio Arnaldo, eu via o Róis, de mãos dadas com sua esposa,
atravessar rumo ao Mercado Central. Ele e ela iam e voltavam a pé, sendo que
lá, de pé junto ao balcão do Comercial Sabiá, faziam o desjejum, na base do
café-com-leite e pão-com-manteiga – hábito dele de infância que cultivava aos
80 anos. À noite, o casal ia para a dança de salão. Assim ele próprio seguia sua prescrição de
que os únicos esportes sem risco são caminhar, sem correr, e dançar, desde que
dança de salão.
sexta-feira, 23 de agosto de 2024
VADE
RODRIGUES E A MIGRAÇÃO DA VILA PARA GOIÁS
João Amílcar Salgado
O
Neca Firmiano, o João Veiga, o Filipe Capelo, os Amorelli e o Vade Rodrigues,
meu querido amigo, foram os últimos a levar gado daqui para Goiás e a outros
destinos - em comitivas de muitos dias. O João Veiga me confessou que sua
paixão pela aventura boiadeira o fez desistir de prosseguir nos estudos, depois
de aluno do Gammon, onde foi colega de aula do cientista Carlos Diniz. O Vade, com isso, foi pioneiro na migração dos
Rodrigues e de outros para Goiás, sendo que ele próprio ficou na Vila.
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
AS ELEIÇÕES NO
CFM E A TRIFURCAÇÃO CORPORATIVA
João Amílcar Salgado
Na década de
50 do século 20 foi efetivada a separação das corporações profissionais
brasileiras em associações, conselhos e sindicatos. A única corporação que continuou atuando de
forma unificada foi a Ordem dos Advogados e se atribui a este fato o prestígio
político e moral que a OAB ostenta conservar e que as demais perderam. Fiz
minuciosa pesquisa sobre as razões pelas quais a corporação médica tão
facilmente abriu mão do prestígio assegurado, justamente quando governava o
país um médico, JK, e outro médico, Clóvis Salgado, era seu Ministro da
Educação. Ambos sofriam feroz oposição da UDN, partido da quase totalidade dos
médicos – situação análoga à polarização atual, entre negacionistas dominantes
e a relativa minoria de fiéis à ciência. JK chegou a ser expulso da Associação
Médica de MG.
A trifurcação
corporativa em SINDICATO, que cuida dos direitos, em CONSELHO, que cuida dos
deveres, e em ASSOCIAÇÃO, que cuida das demais prerrogativas, decorre
diretamente da ganância crescente da medicina de consumo, causa de danos irreparáveis,
quer ao interesse dos próprios médicos, quer ao das comunidades a que governo e
profissionais devem servir.
Como mostrei
em texto anterior, o projeto de Tancredo Neves para a saúde e a educação foi
substituído, sob Sarnei, pelo favorecimento privado. Isso causou imediata
avalanche de faculdades de fim-de-semana, a cada esquina e ainda em grotões
e países vizinhos - aureamente
financiadas por famílias ávidas de filhos-doutores. Os médicos assim produzidos
só poderiam ser clinicamente inseguros, receitadores pelo Google. Compreensivelmente
optaram por escapar da insegurança pela fresta do rápido enriquecimento financeiro,
alcançado através de criativos artifícios. Surgiu então a paradoxal junção
entre o baixo-clero clínico, simbolizado na Doutora Cloroquina, e o
alto-clero financeiro, exemplificado no quarto homem mais rico do país.
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
SUCESSO
DE ALTO CARBONO
João Amílcar Salgado
A corrida
automobilística em torno do Mineirão está sendo celebrada como sucesso
financeiro, mas é um sucesso lamentável, principalmente porque ficará como
agressão inadmissível à UFMG. Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020) faço o
histórico das amputações sofridas pela área originalmente reservada para o
campus da Pampulha. Esta ocorre durante nossa ferrenha luta pelo baixo carbono.
Além do alto carbono da corrida e de outras poluições, temos o alto carbono da
amputação da flora, tão carinhosamente preservada, acrescentada e cuidada pelo
decano dos ecologistas brasileiros, o sábio Camilo Assis Fonseca.
sábado, 17 de agosto de 2024
AVANÇO NA EDUCAÇÃO, TANCREDO E
SARNEI
João
Amílcar Salgado
O ensino brasileiro, da 1ª à 5ª
série, alcançou, em 2023, a meta do Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Isso
indica provável recuperação de nosso atraso educacional. O atraso é de 40 anos,
do qual sou testemunha, como participante da equipe que, em 1984, preparava o
governo federal de Tancredo Neves. Seu falecimento impediu que, nos primeiros
dias do novo governo, ele fizesse, antes da constituinte, duas revoluções, uma
na saúde e outra na educação. Na saúde, técnicos canadenses seriam trazidos ao
Brasil para adaptar o modelo deles a nossa atenção primária, secundária e
terciária, inclusive excelentes salários para a dedicação exclusiva de todo e
qualquer agente. Na educação, seria implantada e multiplicada uma rede pública
nacional de escolas de tempo integral, do 1º ao 3º grau, com a expansão das
unidades escolares e o aumento inicial dos respectivos salários em 150%. O
orçamento na saúde e na educação seria federal e pétreo. Sarnei, ao assumir, adotou diretrizes
diametralmente opostas.
O intercâmbio com o Canadá
prosseguiu, apesar de tudo, por médicos bolsistas, formados aqui pelo ensino
inovador análogo ao da universidade de McMaster.
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
RIVAL DO
BRASILEIRO LÚCIO COSTA
O urbanista colombiano CARLOS
MORENO não recebeu, nas olimpíadas recentes, o reconhecimento devido. Ele é
premiado internacionalmente por sua original concepção de cidade inteligente,
ecologicamente correta. Ficou conhecido como inventor da CIDADE DE 15 MINUTOS,
segundo a qual, tudo o que é básico fica a 15 minutos do cidadão. Isso foi
aplicado à preparação de Paris para os jogos.
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
SPRAY E VELCRO – DOIS ITENS OLÍMPICOS
DO BRASIL
João Amílcar Salgado
Nestas olimpíadas de 2024, observei
dois itens brasileiros em importante performance: o spray de futebol e o velcro
– um recurso onipresente entre os apetrechos dos disputantes. Após a competição
futebolística mundial de 22, publiquei o seguinte:
“Durante
toda a copa do mundo de 2022, houve suspeito silêncio sobre a invenção do spray
de futebol (spray demarcador de distância nas cobranças). Em cada disputa
presenciamos seu uso. Até a data desta competição, a imprensa tem
registrado que o inventor desse spray é um mineiro de Ituiutaba, o Heine
Allemagne Vilarinho Dias, que no ano de 2000, teve a ideia de usar uma espuma
volátil e biodegradável, capaz de marcar o gramado de futebol por um minuto e
logo desaparece. Foi usado experimentalmente na Taça BH de Júniores
de 2000 e, no meo ano, a CBF autorizou seu uso na Copa Joao Havelange. A FIFA
finalmente aprovou seu uso em 2012. O direito à patente tem sido o pretexto
para tal silencio. Se o Heine é o inventor, negar seu direito é um crime.Estudo
outras invenções principalmente as mineiras, começando por Santos Dumont. Outra
também ocorrida em Minas é a invenção usurpada do jipe, que fiz questão de
documentar em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2021). Ali
está também minha invenção, com a colaboração do Sebastião Soares
Leal, do Tarcísio Campos Ribeiro e do Luiz de Paula Castro. Trata-se do mais
potente antiácido disponível, hoje com o nome de SIMECO-PLUS, depois de
usurpado pela Wyeth. O novo governo deve tomar conhecimento e providências
sobre tão fundamentais direitos.”
Já o velcro foi inventado a partir de outro brasileiro, não um ser
humano, mas um vegetal genial, o carrapicho.
Georges de Mestral (1907-90) foi um engenheiro suíço de privilegiada
curiosidade. Em viagem pelo Brasil, foi atormentado por carrapichos e
transformou o incômodo em fortuna. Estudou a planta e dela inventa o velcro em
1941 e o industrializa em 1952. Seu uso pelos astronautas alcança enorme
repercussão, que se mantém no esporte, em fisioterapia e em tudo o mais.
sexta-feira, 9 de agosto de 2024
CATAÇÃO DE RISCO OLÍMPICA
JOÃO AMÍLCAR SALGADO
Em 21 publiquei o seguinte texto: “SIMONE BILES CATOU RISCO”, comentando
que o caso mais recente e mais estrondoso de catação-de-risco acaba de ser
protagonizado (29/7/21) pela maravilhosa atleta olímpica Simone Biles. Ela
alegou não estar ok. Com isso, abandonou a
prova final de ginástica por equipes, nas Olimpíadas de Tóquio. A
catação-de-risco foi caracterizada em Nepomuceno em 1946 pelo farmaceutico João
Salgado Filho e pelo dentista Sílvio Veiga Lima, referendada pelos médicos
Décio Lourenção, Alberto Sarquis e Rubem Ribeiro. Foi publicada
na revista CASOS CLÍNICOS EM PSIQUIATRIA, em 2003, a
convite do professor Maurício Viotti. Tal artigo foi transcrito como
um dos capítulos da edição do livro de João Salgado Filho OLHOS NEGROS (2016).
A catação-de-risco alcançou o plano internacional, quando apareceu em tres
filmes: MELHOR É IMPOSSÍVEL (1998), O AVIADOR (2004)
E TOC TOC (2017), dirigidos respectivamente por James Brooks,
Matin Scorcese e Vicente Villanueva. No primeiro, o ator é Jack Niclholson, no
segundo é Leonardo diCaprio e no terceiro é um grupo de notáveis artistas. O
termo TOC significa Transtorno Obsessivo-Compulsivo, que passou a
uso comum, a partir da adoçao generalizada, neste século, da classificação
psiquiátrica do DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) dos
EUA. Leonardo confessou que decidiu encarnar o catador-de-risco
Howard Hughes, que realmente existiu, porque ele próprio sempre catou risco.
Outras personalidades como o cantor Roberto Carlos e o inventor Nicola Tesla
aparecem na mídia como portadores desse transtorno. No esporte dois casos antes
de Biles foram o do tenista Guga (2008) e a catação-de-risco coletiva da
seleção brasileira na derrota para a Alemanha por 7 a 1, no Mineirão, em 2014.
Ígualmente é atribuível à catação-de-risco o fracasso de outros favoritos nas
competições esportivas mais acirradas.
Em 2024 a estadunidense
Simone está completamente recuperada, mas foi substituída, em outra competição,
a de pingue-pongue, pela cataçao de risco do exímio brasileiro Hugo Calderano.
Hugo catou cisco na mesa do jogo.