João Amílcar Salgado

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

 




AS ELEIÇÕES NO CFM E A TRIFURCAÇÃO CORPORATIVA

João Amílcar Salgado

Na década de 50 do século 20 foi efetivada a separação das corporações profissionais brasileiras em associações, conselhos e sindicatos.  A única corporação que continuou atuando de forma unificada foi a Ordem dos Advogados e se atribui a este fato o prestígio político e moral que a OAB ostenta conservar e que as demais perderam. Fiz minuciosa pesquisa sobre as razões pelas quais a corporação médica tão facilmente abriu mão do prestígio assegurado, justamente quando governava o país um médico, JK, e outro médico, Clóvis Salgado, era seu Ministro da Educação. Ambos sofriam feroz oposição da UDN, partido da quase totalidade dos médicos – situação análoga à polarização atual, entre negacionistas dominantes e a relativa minoria de fiéis à ciência. JK chegou a ser expulso da Associação Médica de MG.

A trifurcação corporativa em SINDICATO, que cuida dos direitos, em CONSELHO, que cuida dos deveres, e em ASSOCIAÇÃO, que cuida das demais prerrogativas, decorre diretamente da ganância crescente da medicina de consumo, causa de danos irreparáveis, quer ao interesse dos próprios médicos, quer ao das comunidades a que governo e profissionais devem servir.

Como mostrei em texto anterior, o projeto de Tancredo Neves para a saúde e a educação foi substituído, sob Sarnei, pelo favorecimento privado. Isso causou imediata avalanche de faculdades de fim-de-semana, a cada esquina e ainda em grotões e  países vizinhos - aureamente financiadas por famílias ávidas de filhos-doutores. Os médicos assim produzidos só poderiam ser clinicamente inseguros, receitadores pelo Google. Compreensivelmente optaram por escapar da insegurança pela fresta do rápido enriquecimento financeiro, alcançado através de criativos artifícios. Surgiu então a paradoxal junção entre o baixo-clero clínico, simbolizado na Doutora Cloroquina, e o alto-clero financeiro, exemplificado no quarto homem mais rico do país.

 

 

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