João Amílcar Salgado

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

 VIDAS ENTRELAÇADAS DA DONANA












João Amílcar Salgado

Jurgen Moreira Behring é meu ex-aluno e amigo muito especial por ser um clínico comunitário, ecologista e historiador. Presenteou-me com um livro adorável: “DONANA – VIDAS ENTRELAÇADAS” (2015), de sua avó Rosalina Moreira das Mercês. Os lindos olhos azuis da Donana provavelmente vêm de Evreux, França, ou seja, dos Abreus, iguais aos olhos azuis de meu avô João de Abreu Salgado. Tão grato quanto isso é saber que a Donana nasceu em Xopotó, nome delicioso que prefiro para designar a cidade de Cipotânea. Além de parente de minha querida dentista Elisangela de Abreu, cuja alta competência reúne amor e humor, Donana é comunícipe de meus colegas médicos e historiadores Geraldo Barroso e Luiz de Carvalho, ao lado dos quais é forçoso incluir o fantástico padre José Pinto Carneiro. Recomendo não só o livro “VIDAS ENTRELAÇADAS‘ como os livros, do Geraldo, “CIPOTÂNEA – UMA HISTÓRIA ALEGRE”, “REIS, PAPAS E LEPROSOS” e  “MEU SANTO PROTETOR” e, do Luiz,  “A HISTÓRIA CLÍNICA DE POETAS BRASILEIROS” e “HISTÓRIA DA ANATOMIA”.

Os Behring estão nesse entrelaçamento. E lembro que recebi, menino, soro antidiftérico, inventado pelo eminente cientista Emil Behring, em 1893, aplicado, em minha barriga, pelo notável clínico Bolivar Barbosa. Esta família prussiana se tornou mineira, imigrando para Viçosa. Além dos Abreus, uniu-se aqui aos Bernardes, outro ramo de origem francesa, também presente em Nepomuceno. Por outro entrelace, lembramos que o ramo Campolina, do esposo da Donana, é ligado aos Vilela, Ribeiro e Resende, tradicionais nepomucenenses. Em adição, a família se liga aos Procópio e aos Espínola, também da nossa maior estima. 




 GERALDO MARCELO LEMOS GONÇALVES E SUAS RAIZES, CAULES E FRUTOS

João  Amílcar Salgado

Os mineiros descendemos dos índígenas caiapós que apelidei de índios oradores e assim, ao lado do maravilhoso pregador Santo Antônio, explicam o brilho dos oradores nepomucenenses. Os mineiros também são renomados memorialistas e memorialista em Minas significa orador de outra forma. Já os historiadores oficiais de Minas são memorialistas envergonhados, como observei a Pedro Nava, vergonha que explano em outro lugar. Digo tudo isso diante do excelente livro MINHAS RAÍZES, MEU CAULE E MEUS FRUTOS de Geraldo Marcelo Lemos Gonçalves. Se cada família mineira exibisse um livro como este, seríamos detentores de inexcedível patrimônio cultural. Sim, Minas prima por gratas surpresas como esta, quando encontro um autor de fino humor, lapidado como ágil ironista e como requisitado orador. Basta isso para comprovar, à plena, a verdade tão mineira da múltipla riqueza de nossas letras.

Geraldo é dentista, como tal é colega de Tiradentes e é diplomado na faculdade criada em Diamantina por JK. No centro de Memória da Medicina demonstramos o erro de designar Tiradentes como dentista prático, pela simples razão de que naquela época não havia o ensino formal da odontologia, nem no mundo nem aqui. Na verdade, a cidade natal deste médico receberia uma faculdade de medicina, mas a classe médica era udenista e o impediu. Pedro Paulo Penido, o dentista amigo do diamantinense, desde o túnel de Passa-Quatro, propôs substituir a medicina pela odontologia. No projeto do governo federal de Tancredo fiz incluir o curso de medicina negado a JK, ideia só recentemente concretizada.

A militância maçônica do Geraldo é oportunidade para que eu faça uma homenagem a Jorge Lasmar, citado em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Conheci-o dirigente do Instituto Histórico e descobri que era primo dos Lasmar de Nepomuceno, além também de líder maçônico. Matei velha curiosidade, quando, através de sua autoridade, levou-me ao recinto recluso dos maçons. A ocasião era muito propícia, pois o Centro de Memória da Medicina, representado pelo notável pesquisador Paulo Gomes Leite, iria revelar ali fatos inéditos da maçonaria ligados à Inconfidência. 


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DE CARMO DA CACHOEIRA


João Amílcar Salgado

No rastro de Francisco Bueno da Fonseca, Manuel da Costa Vale, Luiz Gomes Salgado, André Martins Ferreira e Maria de Souza Monteiro, os 5 de origem judaica, egressos da região lusa entre Braga e Porto, que aqui chegaram atraídos pelo ouro das Lavras do Funil, vieram as familias Rattes, Branquinho, Gouveia, Gondins, Reis, Caldeira e Ximenes, de origem semelhante.  Estes vieram para lugar deserto, ou seja, não ocupado por aqueles, o qual veio a ser Carmo da Cachoeira. A múltipla tentativa de registrar a história local produziu documentos considerados insatisfatórios, até que Luiz Eduardo Vilela de Resende (Vilela como eu) começa do começo, ou seja, faz a revisão crítica desde os fatos que antecederam a formação da cidade. Seu livro A HISTÓRIA QUE ANTECEDEU CARMO DA CACHOEIRA (2023) é gratíssima surpresa para os historiadores de nossa região.

Desde meus tempos de colégio em Varginha conheci amigos cachoeirenses, a começar pelo ex-seminarista José Ferreira, professor no ginásio de Nepomuceno, e pelo excelente violonista e campeão de sinuca Chancha, que veio conosco para a Capital. Meu ex-aluno e ex-estagiário Francisco Caldeira Reis foi encaminhado por mim ao Canadá, donde voltou astro em pneumologia pediátrica, sendo meu parente pelo Caldeira. Alcebíades Viana de Paula, co-herdeiro das terras de João Urbano Vilela de Figueiredo e parente de meus filhos, foi meu companheiro em pesquisa etnológica e histórica, inclusive sobre os habitantes precabralinos de Carmo da Cachoeira. José Alvarenga Caldeira, meu querido Matinata, é notável ginecologista e expoente da ética médica. Chryso Duque de Rezende, colega de República, e seu pai Moacir Resende, são meus eternos amigos. Guardo, como gente estimadíssima, o nepomucenense João Otaviano Veiga Lima, primo de minha mãe, e os primos Veiga Lima.

Os fatos históricos relacionados a Carmo da Cachoeira registrados em meus textos têm um fascínio todo especial: a fazenda Salto de meu colega de turma Fábio Araújo Reis, sendo que a fazenda e ele com seu pai (também médico, Osvaldo Campos Reis, contemporâneo de meu pai no Colégio Santo Antônio de S. J. del Rei) merecem cada qual um livro, as legendas dos Mandiboias, dos quilombos Gundum, Boa Vista, Chamusca e outros, do Sete Orelhas, do Mingutinha, dos Justiniano dos Reis, do mesmo João Otaviano, da raça Mangalarga (a partir das éguas marchadeiras veadeiras selecionadas na indústria primordial do Couro do Cervo), da epidemia de varíola, do cemitério de escravos e da seita de charlatanismo médico. Aproveito para denunciar a procrastinação criminosa da pista-dupla Três Pontas–Carmo da Cachoeira. Daí que o futuro livro da história cachoeirense será volumoso, tendo como capítulo inicial esta oportuna publicação do pesquisador-nato Luiz Eduardo.



sábado, 9 de novembro de 2024

 BH DOS ANOS DOURADOS: LEITERIAS CELESTE E TIROLESA

João Amílcar Salgado


Eu era terceiranista de medicina e desde o vestibular sempre passava pela leiteria Celeste, quase em frente ao cine Metrópole. Era para beber, em vez de leite, vitamina de fruta, que era higiênica e gostosa. Os balconistas eram muito gentis e brincalhões, mas o caixa parecia ser filho do dono e estava sempre de cara fechada. Um dia pedi uma vitamina, como das outras vezes, e ele simplesmente disse: hoje não vou vender nada prá você, porque não vou com sua cara. Fiquei atônito, sem saber como reagir. Simplesmente saí dali pensativo, procurando uma explicação para aquela atitude. Por causa disso, voltei a frequentar a antiga lanchonete Tirolesa no edifício Dantês. No ano seguinte, eu estava no plantão do pronto-socorro, quando chega um acidentado por lambreta. Mesmo estando ele ensanguentado, deu para reconhecer o rapaz que não ia com a minha cara. Ele também me reconheceu e quis levantar-se da maca. Seus traumas não o permitiram e ele fechou os olhos, reabrindo-os parcialmente a seguir. Atendi-o muito bem, mas em silêncio. O Álvaro, quintanista chefe da equipe, se aproximou e disse: parece que já conheço este jovem. Respondi: ele trabalha na Leiteria Celeste, é meu amigo.

Acho que em 1963, houve um desfile de escolas de samba do Rio, na avenida Afonso Pena. Eu e minha namorada estávamos em ponto ótimo para apreciar o rebolado das mulatas. Depois da passagem de umas três escolas chegou um brutamontes entrão, também com uma companheira, e ficou na minha frente. A mulher disse a ele que estavam atrapalhando nossa visão. O mal-educado respondeu que os de trás mudassem de lugar. Daí passou a nos empurrar com as costas, para subir o pequeno degrau onde estávamos. Achei que aquilo era um desaforo e resisti. Ele então me deu uma bundada bem forte e se virou com o braço erguido para me atingir. A bundada no baixo ventre me fez agachar e com isso escapei da pancada que acertou o rosto de um vizinho bastante corpulento. O agressor e o atingido rolaram numa poça da sarjeta. Bem longe dali e bem escondidos de tudo, conseguimos ver o final de uma surra homérica, bem aplicada ao grosseirão.

A Tirolesa era da família Távora, de dois colegas e grandes amigos na medicina: Eduardo “Cabeludo” e Olímpio. Nos maristas fui contemporâneo e também muito amigo do Fernando Távora. Mais tarde estudei essa gente, ligada aos Ferreiras da Vila.


terça-feira, 5 de novembro de 2024

 BODAS DE OURO DE PEDRINHO E IVANILDE

                                                                                João Amílcar Salgado

segunda-feira, 4 de novembro de 2024


 DO APÓSTOLO MARCOS AO ZÉ-LIGRIA

                                                                            João Amílcar Salgado

    Segundo Marcos, Jesus abençoou cinco pães e dois peixes, os quais multiplicou aos milhares, a ponto de alimentar 5000 pessoas. Já Santo Antônio distribuiu furtivamente aos pobres todos os pães do convento. O frade-padeiro deu pelo sumiço e comunicou que naquele dia não haveria pão. O santo pediu que conferisse melhor e o religioso se maravilhou com a grande quantidade encontrada onde, pouco antes, nada havia. Enquanto isso, na Vila, estávamos no café da tarde e a porta da copa estava como sempre aberta. Aparece o Zé-Ligria e meu pai pergunta “que deseja?” - Só vim pidi um pedá de pão – - Pão não tem! – Bigado... (e foi saindo) - Espere, pão não tem, mas tem pão-de-ló e broa..., qual cê qué? – Heim? Uai... carqué tá bão, uai!. Ele recebe uma roda de pão-de-ló, outra de broa  e meia rosca-da-rainha, que lotaram seu embornal. Ficou tão comovido que parou de rir e o surpreendemos rarissimamente sério. 

Deram-me uma foto do Ligria puxando o cego Avelino por um cabo de vassoura. Guardei a figura tão bem que está desaparecida... O notável artista Edson Brandão fez um retrato imaginário do Aleijadinho e me perguntou: ficou bom? Respondi: você acabou de desenhar o Zé-Ligria, com cara de dor!; por favor, redesenhe-o rindo...