João Amílcar Salgado

sábado, 9 de novembro de 2024

 BH DOS ANOS DOURADOS: LEITERIAS CELESTE E TIROLESA

João Amílcar Salgado


Eu era terceiranista de medicina e desde o vestibular sempre passava pela leiteria Celeste, quase em frente ao cine Metrópole. Era para beber, em vez de leite, vitamina de fruta, que era higiênica e gostosa. Os balconistas eram muito gentis e brincalhões, mas o caixa parecia ser filho do dono e estava sempre de cara fechada. Um dia pedi uma vitamina, como das outras vezes, e ele simplesmente disse: hoje não vou vender nada prá você, porque não vou com sua cara. Fiquei atônito, sem saber como reagir. Simplesmente saí dali pensativo, procurando uma explicação para aquela atitude. Por causa disso, voltei a frequentar a antiga lanchonete Tirolesa no edifício Dantês. No ano seguinte, eu estava no plantão do pronto-socorro, quando chega um acidentado por lambreta. Mesmo estando ele ensanguentado, deu para reconhecer o rapaz que não ia com a minha cara. Ele também me reconheceu e quis levantar-se da maca. Seus traumas não o permitiram e ele fechou os olhos, reabrindo-os parcialmente a seguir. Atendi-o muito bem, mas em silêncio. O Álvaro, quintanista chefe da equipe, se aproximou e disse: parece que já conheço este jovem. Respondi: ele trabalha na Leiteria Celeste, é meu amigo.

Acho que em 1963, houve um desfile de escolas de samba do Rio, na avenida Afonso Pena. Eu e minha namorada estávamos em ponto ótimo para apreciar o rebolado das mulatas. Depois da passagem de umas três escolas chegou um brutamontes entrão, também com uma companheira, e ficou na minha frente. A mulher disse a ele que estavam atrapalhando nossa visão. O mal-educado respondeu que os de trás mudassem de lugar. Daí passou a nos empurrar com as costas, para subir o pequeno degrau onde estávamos. Achei que aquilo era um desaforo e resisti. Ele então me deu uma bundada bem forte e se virou com o braço erguido para me atingir. A bundada no baixo ventre me fez agachar e com isso escapei da pancada que acertou o rosto de um vizinho bastante corpulento. O agressor e o atingido rolaram numa poça da sarjeta. Bem longe dali e bem escondidos de tudo, conseguimos ver o final de uma surra homérica, bem aplicada ao grosseirão.

A Tirolesa era da família Távora, de dois colegas e grandes amigos na medicina: Eduardo “Cabeludo” e Olímpio. Nos maristas fui contemporâneo e também muito amigo do Fernando Távora. Mais tarde estudei essa gente, ligada aos Ferreiras da Vila.


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