João Amílcar Salgado

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

 



 

SÔNIA – COMO ESQUECÊ-LA?

João Amílcar Salgado

Quando o célebre Bar do Michel foi fechado, a Vila foi brindada com o Bar do Sôvinico (Alvim Reis), com duas ótimas notícias: as filhas do dono eram lindas (três delas casadas com parentes meus: Milton/Ivone, Odair/Helena e José/Lalá) e suas mesas-de-sinuca eram de nível profissional. Para meu pai, a ausência do amigo Michel foi compensada por mais um udenista na roda da farmácia. Bem mais tarde, a Vila foi felicitada pelos bisnetos do dono: os talentosíssimos Danton e Selton Melo, consanguíneos de meus filhos, dos quais e dos irmãos a amorosa Sônia ajudou a mana Selva a cuidar.

Mais uma dádiva à cidade: o filho Paulo Reis, o Marolo, além de braço direito do Sôvinico, se transformou, graças ao usufruto da sinuca, no maior astro deste esporte no Sul de Minas. Por minha vez, fui colega de ginásio e amicíssimo do irmão mais jovem Haroldo. Mais que isso, fui namorado adolescente da neta Sônia, inseparável de minha irmã Neusa e de magnético encanto. Incrível caber nas duas meninotas tanta meiguice e tanto romantismo!...

Não faz muito tempo, minha querida prima Helenice me recebeu, junto a amigas, para um café-da-tarde. Fiquei feliz de reencontrar ali a Sônia, a quem manifestei meu pesar pelo falecimento do meu amigo Luiz. Ela revelou que proporcionei a ele as últimas boas risadas de sua vida. Pedia a ela que lesse a lista de apelidos de meu livro O RISO DOURADO DA VILA. E fez isso por repetidas vezes. Emocionado, lembrei-lhes quão querida era a família dele, pois fui colega de turma ginasial do Tião, do Hair e da futura esposa deste, a encantadora Julita. E a bela irmã deles, Maria Helena, se casou com meu primo Dane.

Eu tinha 13 anos, quando a Neusa e a Sônia aguardaram nossa farmácia fechar e foram inspecionar um tesouro para elas: a vitrine de perfumes, esmaltes e batons. De lá vieram com um batom vermelho rutilante. Logo estavam com os lábios de vampe, me chamando pela casa. Eu estava lendo “A Guerra dos Mundos” (de H. G. Wells) e as duas me disseram que eu era a cobaia do batom. Cada uma me beijou num dos lados da face. Fomos para o espelho e achamos lindo! Exigi que limpassem aquilo e fui para o footing na Rua Direita. Na porta do Sôvinico, quem aparece? A filha Lalá que me vem cumprimentar e diz: Oh quem te beijou? Quem beijou limpou, mas a marca ficou! Quem foi? Sendo ela tia da Sônia, fiquei mudo e saí de fininho. No dia seguinte as duas queriam repetir a coisa com outros batons. Eu disse que só aceitaria se a Sônia me deixasse beijá-la na boca. Ela deixou e exclamou: “ delícia!” e eu respondi: “sua boca tem perfume de gardênia...” Desde então as músicas A LENDA DO BEIJO e PERFUME DE GARDENIA, passaram a ser nossas, de nós três - e minhas até hoje. Cliquem nos youtubes abaixo.

Em visita a Nova Friburgo, fui presenteado com três mudas de gardênia e uma delas perfumou nosso jardim por largo tempo. A Sônia passou em frente e pedi que viesse sentir aquele perfume. Ela veio e se lembrou de tudo. Sendo ela viúva e eu desimpedido, beijei-a mais uma vez. E o amor ficou “eterno novamente”.

 

https://youtu.be/pqowd8ZIFjY?list=RDpqowd8ZIFjY

https://youtu.be/1QTgqPBXil8?list=RD1QTgqPBXil8

https://youtu.be/q8cfnPc7Cx4?list=RDq8cfnPc7Cx4

 

VOLIBOLISTAS: Renilze, Telma, Maria, Ivone, Marlene, Hulda, Glória e Sõnia. A Simone, replica da beleza da mãe, me prometeu fotos adicionais.

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

 



NEPOMUCENO E O METANOL

João Amílcar Salgado

A primeira anotação do metanol na história de Nepomuceno parece datar da criação da cachaça MILONGUITA na década de 40 do século 20, pelos amigos João Salgado Filho e José Antunes Jr (Zequinha).  O farmacêutico Sargado, diante de seu círculo de admiradores, explicou como seria uma cachaça de altíssima qualidade e que um cuidado especial seria evitar que contivesse metanol, o álcool indesejado.  Pouco tempo depois, nos degraus dali, morreria o popular ébrio Cai-Nágua e o dono diagnosticou óbito certamente por metanol. Enquanto o padeiro Eurico César de Almeida Antunes, irmão do Zequinha, insistia no nome Milonguita para a nova aguardente, a turma relembrou as pingas famosas da Vila e a campeã entre elas era a ZUEIRA. Mas o Sargado alertou sobre o nome Zueira, talvez popularizado por alusão a lotes contaminados por metanol. Para atender a alta demanda, o fabricante poderia ter descuidado do controle de qualidade e o nome adotado apontava consequente afecção neurológica.  Outro ébrio era o Govêia, de forte pendor para sambista, que faleceu em coma, pouco tempo após passar a ingerir álcool puro.

            Como pesquisador, logo me interessei pelo espectro sindrômico do alcoolismo, principalmente as causas das variantes clínicas. Isso trouxe duas consequências principais: o movimento antimanicomial, iniciado por minha cooperação com o inesquecível amigo Luiz Cisalpino Carneiro, e minha investigação sobre a relação entre doença de Chagas e o beribéri. Anos depois, verifiquei que muitos pacientes de úlcera péptica burlavam a dieta proibitiva de bebida alcoólica, sem prejuízo à cicatrização da lesão. Para comprová-lo, o mesmo Luiz montou talvez a primeira mensuração da alcoolemia no país, mas os tubos de sangue cuidadosamente coletados, sofreram pane no congelamento. Bem mais recente foi a criação do bafômetro.

Em 1974 iniciamos o ensino contraconsumista na Ufmg. Em 1976 foi instituído o primeiro Procon em São Paulo (de inocuidade extrema). Em 1987, foi criado o Idec (Instituto de Devesa do Consumidor, idem). Em 1988 foi estabelecido o Sus (Sistema Único de Saúde - deveria ser único, mas não é) e em 1990 o Código de Defesa do Consumidor (defesa sem defensor). Em 1991, iniciamos na Revista da Ammg a tradução da Medical Letter (desde 1958) e do Drug & Therapeutic Bulletin (desde 1962), que levou ao Boletim de Terapêutica e Medicamentos do Inamps, graças a Adelmar Cadar. Foi criminosamente interrompido no governo Newton Cardoso.  Em 1999, por proposta nossa para ser nossa Fda, foi criada a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária – que, enfim, não vigia nem a publicidade, nem a falsificação, nem a adulteração, nem o contrabando e nem o narcotráfico). Tais aparentes boas iniciativas atraíram respostas contrárias, a começar pela do pelego Magri que, como ministro do trabalho de Collor, em 1990, anunciou que ia desregulamentar tudo.

Desde então, pouca coisa funcionou desejavelmente. Entre inúmeros escândalos, as mortes por metanol são mera ponta do aicebergue consumista generalizado. Participei no Senado, representando a convite o Cfm, de um debate em que o então ministro Magri, olhando para mim, garantiu que qualquer cidadão, mesmo analfabeto, seria autorizado por ele a exercer a profissão de médico.