João Amílcar Salgado

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 


AS VACINAS E A ESPERANÇA

João Amílcar Salgado

Agora é a hora de perguntar por aquelas vacinas que são velhas promessas: hanseníase, malária, sífilis, doença de Chagas, riquétsia, príon, helmintíases e neoplasmas. Desde o século 19, cada vacina que aparecia era motivo de esperança para todos os males, mas os insucessos foram frequentes. O próprio Carlos Chagas deve ter acreditado que a vacina contra a doença descoberta por ele, em 1909, seria logo possível, já que 3 anos antes, seu auxiliar Alcides Godoy descobrira a vacina do carbúnculo. A primeira tentativa foi de Émile Brumpt. Com a tecnologia genômica, as esperanças hoje renascem.

Eu próprio convivi com esta questão, na tripanossomose, na esquistossomose, na gripe, na estrongiloidose e na leishmaniose, acompanhando os esforços, no âmbito das imunizações em geral, de José Noronha Peres, John Enders, Albert Sabin, Zigman Brener, Humberto Menezes, Mauricio Martins Rodrigues, Israel e Ruth Nussenzweig, Luiz Hidelbrando, Henrique da Rocha Lima, José Lemos Monteiro, Geraldo Chaia, César Barros Vieira, José Teubner, Archimedes Theodoro, José Geraldo Ribeiro, Edward Tonelli, Elmo Peres, Giovanni Gazzinelli, Samuel Pessoa, Paulo Magalhães e Wilson Mayrink. Enquanto isso, acompanhei também as erradicações, sem vacina, da malária no Brasil (vale do rio Grande-Paraná, que repetiu a vitória contra o anófeles gambiae) e, em outros países, recentemente na China. Faço homenagem especial a dois Josés, notáveis cientistas mineiros: José Lemos Monteiro, mártir da ciência, e José Noronha Peres, o primeiro brasileiro a desenvolver, na epidemia de 1957, uma vacina antigripal.

 

Na atual pandemia devemos louvar a maravilhosa descoberta da tecnologia mRNA e lamentar a monumental ignorância dos detratores das vacinas em geral.

domingo, 16 de abril de 2023

 


VACINA IGUALITÁRIA PARA A GRIPE

João Amílcar Salgado

Acabei de receber a vacina atualizada contra gripe. Paguei pela vacina tetra, enquanto a gratuita é tri. Reservar a tetra para quem pode pagar é incompatível com as tão elogiadas propostas igualitárias do atual governo.  Tenho certeza de que isso será corrigido logo. Em O RISO DOURADO DA VILA (2020) descrevo como a gripe pandêmica de 1918 chegou à Vila e matou meu bisavô José Augusto Ribeiro de Oliveira Costa, enquanto minha mãe, com 11 anos, que dormia no quarto ao lado, teve forma muito branda da infecção. Escrevi o capítulo inicial do livro DOENÇAS INFECCIOSAS NA INFANCIA (1987) de autoria do brilhantíssimo nepomucenense Edvard Tonelli, o maior infectologista pediátrico do país, de renome internacional. Ali traço a longa história das infecções que vitimaram a humanidade e me refiro àquela pandemia, semelhante à da covide. Os epidemiologistas estão colecionando os casos daqueles que poderiam estar vivos, se tivessem tomado a vacina anti-covide. A maioria não teve acesso a ela, mas tanto os que impediram tal acesso, como  os que impediram familiares de serem protegidos e também os que disseminaram “fake news” contra a vacina, devem ser acusados de gravíssimo crime.

quinta-feira, 13 de abril de 2023

 


BRILHANTE LIA, MAIS BELA QUE QUALQUER RAQUEL

João Amílcar  Salgado

A brasileira Lia Medeiros é notícia hoje, 13/4/23, porque participou da façanha de obter a foto mais nítida de um buraco negro. O neto desbocado de um meu amigo comentou que a beleza e o brilhantismo da astrofísica discrepam de sua especialidade, que é estudar o orifício anal do universo. Na verdade, ele usou um sinônimo chulo na expressão.

            Lia é paulista, mas morou quatro anos em BH e ninguém faz isso impunemente. Daí que é viciada em pão de queijo, sua delícia diária nos EUA. Diz ter orgulho de pesquisar no mesmo prédio onde Einstein pesquisou, na Universidade de Princeton, Nova Jersei. Coincide que a evidência do buraco negro deriva da matemática do alemão.

            Nos jardins de Princeton outro brasileiro esteve com Einstein.  O incrível médico mineiro Antônio da Silva Melo, diplomado em Berlim, participou da recepção ao alemão, quando este esteve no Brasil, em 1925. Espantosamente, o levou a ingerir uma feijoada (ver meu texto sobre isso). Mais tarde, Antônio visita Princeton, supondo que o Albert não o reconheceria. Ao chegar, o juizforano se alegra, pois está por ali o homem da relatividade. Este encara o visitante e abre os braços para um saudoso reencontro.

sexta-feira, 31 de março de 2023

 

CRAQUES DA POESIA


jOÃO AMÍLCAR SALGADO

Carlos Drummond, Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira, Mário Quintana e Paulo Mendes Campos. Diante desta preciosíssima foto, exibida por Céu Marques, me sinto no dever de dizer algo sobre cada um. Carlos foi contemporâneo de meu pai no curso de farmácia da atual UFMG, enquanto de minha parte fui muito ligado a seu primo Pedro Drummond Salles, meu colega na medicina e na história da medicina. Vinícius era fraterno amigo de Pedro Nava, este que me ajudou a fundar o Centro de Memória da Medicina e me relatou o episódio em que acolhe Vinícius fugitivo de uma clínica. Não poderia deixar de incluir este episódio em O RISO DOURADO DA VILA (2020), junto com o poema do mesmo Vinícius sobre Nava. Manoel Bandeira escreveu a BALADA DAS TRES MULHERES DO SABONETE ARAXÁ (1931, inventado por nosso mestre Antônio Aleixo), que transcrevo em duas oportunidades, sendo além disso, autor do  GUIA DE OURO PRETO (1938). Este e o banho junto às moças sulfurosas conferem ao recifense dupla cidadania mineira. Mario Quintana, mais distante, é, entretanto, a síntese final do perfeito poeta com o perfeito autor de frases como esta: “Todos estes aí que estão atravancando o meu caminho, eles passarão… Eu passarinho!”. Frases originais são também coisa de mineiro. Paulo Mendes Campos é personagem de O ENCONTRO MARCADO (1956) de Fernando Sabino, mas, mais que isso, é filho de meu bondoso professor Mário Mendes Campos, apelidado pelos estudantes de “mãezinha”, e irmão de meus diletos companheiros Marino e Aluizio. É quase certo que a mãezona dona Maria José, esposa do Mário, seja nossa parente pelo lado Lima. A foto poderia incluir mais alguns, por exemplo, Emílio Moura e Pablo Neruda.

QUE HONRA ME SENTIR TÃO PRÓXIMO DESSES CRAQUES!!!

quinta-feira, 23 de março de 2023

 


SÉRGIO MUDADO, O 1º ASTRONAUTA E O UMBIGO DO MUNDO

João Amílcar Salgado

    Em agradecimento aos muitos abraços pelo natalício, relembro minha descoberta de que a Vila é o umbigo do mundo e junto homenageio Sérgio Mudado, ex-aluno e competentíssimo colega na medicina e nas letras. Seu livro UMA VEZ ONTEM (1987) se parece com o meu, em O QUART0 SELO (1989) supõe uma origem secreta para a AIDS, mas em OS NEGÓCIOS EXTRAORDINÁRIO DE UM CERTO JUCA PERALTA (2009) ele chegou ao cúmulo de me transformar em personagem. Meu nome Amílcar foi anagramado para Licamar. Ele é daqueles escritores de público fiel, que devora seus escritos como guloseimas. Ele me disse: “de início achei que o umbigo do mundo era uma ótima brincadeira, mas, quando li o caso do Zico do Miceno, concluí que o primeiro astronauta não foi o Gagarin, mas o Zico”. Bem antes do feito do europeu, o Zico sumiu. Foi procurado e nada. Já estavam concluindo que estava longe, na estrada, mas um fazendeiro o encontrou no ponto mais alto da serra, calmamente sentado e olhando para as nuvens. Explicou: “da janela vi que aqui a terra encosta no céu e resolvi passear no céu”. Viu alguns anjos e estava ali esperando aparecer São Pedro ou outro santo. Para o Sérgio, este lugar deve ser demarcado como a saliência mais alta do umbigo. Não passou muito tempo e o ficcionista soube da minha hipótese de que uma família migrada da Bélgica, com ilustres representantes na Vila, traiu Napoleão em Waterloo e ganhou, em troca, o Congo Belga. Depois dessa, concluiu: “não há dúvida, o umbigo está ali e só me resta colocar o Licamar no meu próximo enredo...”



sexta-feira, 17 de março de 2023

 


A VILA E O PARTO SEM DOR

João Amílcar Salgado

O anestesiologista José Elísio Correa Lima é o principal vínculo da Vila com a anestesia, sendo Décio Lourenção seu pioneiro municipal. A Samina (Guilhermina Ferreira Guimarães Cardoso), maternal administradora do cinema de nossa juventude, é outro vínculo, pois pertence à familia ilustre dos Ferreira Guimarães, que teve, entre seus médicos, o professor Otávio Guimarães, o principal divulgador do parto-sem-dor em Minas. Meu grande amigo de juventude foi o Lalá (Lázaro Carlos Ferreira Guimarães), mais tarte professor titular de Odontologia da Universidade Federal de Goiás, dentista das famílias mais importantes de lá e exímio na anestesia dentária. Ele é sobrinho da Samina, bem como os filhos do Zamião Tonelli. O Otávio colaborou comigo para preservar a memória de Clóvis Salgado. De nossa amizade surgiu o convite que fiz a seu filho Marco Antônio para uma das aulas mais sensacionais de História da Medicina, quando nos descreveu sua maravilhosa descoberta, de que o I CHING poderia ser traduzido em música. Ele é criador, compositor e maestro do conjunto musical UAKTI, de renome internacional. O I CHING é um oráculo médico, tão importante como o oráculo de DELFOS. O ótimo flautista e compositor Artur Andrés, do UAKTI,  também tem vinculo familiar com a Vila, pois integra a família RIBEIRO DE OLIVEIRA. Outros três médicos com laços de parentesco com a Samina são  Mário Mourão, balneoterapeuta, hansenólogo, e historiador de Poços de Caldas, Milton Mourão, introdutor da gastroscopia no Brasil, e Cícero Ferreira, fundador da Faculdade de Medicina da UFMG. Mais três outras importantes famílias da Vila, ligadas desta vez ao início da anestesia geral no Brasil, são os Carvalho, os Abreu e os Anastácio Barbosa, por meio de dois vanguardeiros: Manuel Feliciano Pereira de Carvalho e Anastácio Sinfrônio Gonçalves de Abreu, este também iniciador de nossa oftalmologia.

Vejam: https://youtu.be/UZBI__pk6rQ

 

quarta-feira, 15 de março de 2023

 


OS BAILES DA VILA

João Amílcar Salgado

O baile da inauguração do novo prédio do Clube de Nepomuceno ainda é terna lembrança para a juventude dourada daqueles anos, também dourados. Dai que muito me emocionaram os elogios à narrativa que fiz no livro O RISO DOURADO DA VILA (2020). Agradeço muito a todos e aproveito para lembrar outro baile famoso, pouco antes daquele. Foi um baile junino que ocorreu no grupo-escolar (hoje escola estadual). Nele o grande acontecimento não foi a orquestra, mas a quadrilha comandada pelo doutorando José Elísio Correa Lima, que veio a ser o maior anestesista obstétrico de Minas. A quadrilha foi a reprodução nepomucenense da que foi dançada no faroeste OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (SHANE, 1953), sempre lembrado por todos nós. Trata-se de admirável narrativa aos olhos de uma criança. O povo logo identificou sósias locais no elenco (quadro anexo). Outro baile muito falado foi o comemorativo do campeonato municipal de futebol, vencido por nosso Flamengo (“rubro negro dos bunda rubra”).  Rememoro também os antigos e os mais recentes bailes nas roças, inclusive os das fazendas do Nico Rodrigues, do Nenzico Teófilo e do Levi Veiga, e ainda o do primeiro aniversário do Sânzio Lima. Sem falar nos de carnaval.

Sugiro que vejam o filme citado e apreciem, além da trilha sonora, a quadrilha inolvidável:

https://youtu.be/NZlhHl8V2-s

https://youtu.be/59mSs0lSS8Q