João Amílcar Salgado

segunda-feira, 28 de abril de 2025

 


PAPA FRANCISCO, NHÁ CHICA E CÔNEGO VÍTOR

O Papa Francisco brindou o Sul de Minas com a efetivação da beatificação de dois santos negros, a Nhá Chica e o Cônego Vítor. Nepomuceno está, de modo especial, incluída nesta efeméride, pois a Nhá Chica (Francisca, como o Papa) tem na irmã Débora Miguel a entusiástica campeã de sua devoção e o Cônego Vítor tem no Quidinho Brandão e na família Abreu Salgado fieis defensores de sua memória. A primeira biografia do cônego foi escrita pelo professor João de Abreu Salgado, batizado e educado por ele, seu compadre e apóstolo de sua pedagogia.

O Papa Francisco faleceu em 21/4/2025, Tancredo Neves em 21/4/1985, Tiradentes em 21/4/1792. Jucelino Kubitschek inaugurou Brasília em 21/4/1960.  Todos são arautos da igualdade, fraternidade, não-discriminação, democracia e paz. Simbolizam a luta pelo reconhecimento da magnífica contribuição da população negra ás grandezas brasileiras, exemplificada nos dois santos mencionados.

O livro VIDA DO PADRE VÍTOR foi publicado em 1946 e reeditado em 14/11/2015, data da beatificação do santo pelo santo Papa Francisco.

sábado, 26 de abril de 2025

 


Em 27/12/2014, divulguei o seguinte texto. Hoje em 26/4/25, dia do sepultamento de Francisco, reproduzo-o em homenagem a este extraordinário herói.

O GUEVARISMO CRISTÃO

DO PAPA FRANCISCO

João Amílcar Salgado

Para os radicais do partido republicano, Obama é socialista. Para os radicais da direita católica, o papa Francisco é socialista. Para ambos os agrupamentos radicais, a comprovação dessa rotulação ideológica de Obama e Francisco vem da cooperação entre os dois para reconciliar EUA e Cuba.

O papa Francisco é jesuíta e foram os jesuítas os autores da mais prolongada experiência comunista no mundo moderno, quando criaram as reduções ou missões no cone sul das Américas. Em vez do lógico codinome Inácio, decidiu assumir o nome Francisco, sem dúvida para apontar seu modelo de cristianismo calcado em Francisco de Assis, o mais socialista dos santos. Entre as vertentes franciscanas, há inclusive aquela que propõe a substituição da plenitude dos tempos por uma sequencia ascensional, que parte do padre eterno, passa pelo filho salvador e chega enfim ao espírito igualitário. De fato, o Divino Espírito Santo, celebrado nas festas do Divino difundidas por todo o Brasil, é a expressão do acolhimento popular a tal doutrina.

O papa Francisco é argentino e deve orgulhar-se de ser conterrâneo tanto de Ernesto Guevara como das Avós da Praça de Maio - e também de José de San Matin, de Juan Cesar Garcia, de Carlos Gardel e de Maradona.  E ainda de ter parentesco espiritual com Gabriela Mistral, Pablo Neruda, Salvador Allende, Simon Bolívar e Tupac Amaru. Assim ele está intelectualmente bem distante dos ideólogos seja do partido republicano dos EUA, seja do Salon Beige católico da França.

Sua referencia como papa é o papa João 23. Sua estratégia vem da consciência de seu carisma. E tem raro senso de oportunidade. Sabe que não pode deixar de aproveitar a oportuna presença de um democrata negro na presidência dos EUA, contemporaneamente a seu papado. E sabe também que a oportunidade de Obama ficar na história, com alguma realização a mais, além de sua dupla eleição, é agora, quando não tem de cuidar de reeleger-se. Esta é, sem dúvida, a base da comunicação entre ambos.

Obama tem de conseguir, no final de seu governo, três vitórias históricas, no plano interno: consolidar o neo-crescimento econômico, fechar Guantánamo e submeter a National Rifle Association. No plano externo, basta-lhe reatar com Cuba.  É quase certo que isso passou pela conversa entre Francisco e Obama. O cacife de Obama é seu cuidadoso estilo de lidar com racistas e belicistas, estilo este que, em vez de elogios, lhe tem valido acusações de covarde. Ele pode, no final do governo, comunicar a todos que a paciência aí implícita pode findar e que um Obama latente que nunca veio à tona pode emergir e patentear-se. Sim, Obama é o potencial líder de uma guerra civil, evidentemente evitável e anteriormente improvável, de negros e hispânicos contra racistas e belicistas.

O Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais, desde sua criação, estuda médicos ligados à política, como, entre muitos outros, JK, Clóvis Salgado, Émile Littré,  José Rizal, Norman Bethume e Che Guevara. Quem conhece a biografia do médico Ernesto Guevara e quem acompanhou sua evolução ideológica sabe que o fascínio exercido por ele sobre gerações de várias tendências se assenta em pontos comuns entre este herói, o papa e Obama. O lado supra-marxista do guevarismo terá novo significado se Obama e Francisco continuarem de mãos-dadas.

 

sábado, 12 de abril de 2025

 

INACREDITÁVEL

João Amílcar Salgado

JASON STANLEY,  professor de filosofia da Universidade Yale, EUA, vai deixar o país diante da ameaça de uma ditadura no país. É autor do livro COMO FUNCIONA O FASCISMO (2018), traduzido para mais de 20 idiomas, Stanley está convencido de que o governo de Donald Trump está funcionando assim. "Acho que já somos um regime fascista", diante da repressão às universidades, disse   em entrevista à BBC, quando confirmou que  vai mudar-se para o Canadá.  Igualmente, outros dois importantes acadêmicos de Yale e críticos de Trump, os professores de história Timothy Snyder e Marci Shore, também anunciaram que vão para a Universidade de Toronto, no Canadá. Stanley, 55 anos, é filho de imigrantes europeus (sua avó fugiu da Alemanha nazista com seu pai em 1939). Seu último livro é ERASING HISTORY: HOW FASCISTS REWRITE THE PAST TO CONTROL THE FUTURE ("APAGANDO A HISTÓRIA: COMO OS FASCISTAS REESCREVEM O PASSADO PARA CONTROLAR O FUTURO" (2024).

segunda-feira, 7 de abril de 2025

 


CARINHOSA HOMENAGEM AOS RIBEIRO GARCIA

João Amílcar  Salgado

O jovem historiador nepomucenense Evandro Ribeiro Olímpio declarou que teve a satisfação de conversar com o  Manoel Ribeiro Garcia (pai do Josi, do Eduardo e da Jane), que está com 95 anos. Afirmou que ele é pentaneto do fundador de Nepomuceno, Mateus Luís Garcia, bisneto do primeiro administrador distrital, coronel Joaquim Ribeiro, e neto do primeiro chefe do executivo municipal, Manoel Correia Ribeiro. Esta é uma homenagem muito feliz. Comentei-a dizendo que o Manoel é meu primo e foi meu inesquecível colega desde o curso de admissão ao ginásio da Vila, quando causou admiração pelo domínio da gramática e pelos dotes de precoce orador. Se tivesse continuado os estudos, não tenho dúvida de que chegaria a desembargador. O Evandro citou seus filhos e eu cito dois irmãos que trago no coração: a Maria Marly, a moça mais linda de sua época (sósia da Sarita Montiel), e o Joãozinho (Vânia) que foi meu companheiro, também inesquecível, em minha primeira viagem a BH, notável por seu inesgotável repertório humorístico, do qual estamos aguardando um delicioso livro. Esta terna homenagem é extensiva a toda a família.

segunda-feira, 31 de março de 2025

 


CARLOS AMÍLCAR COLABORA COM  MELHOR SAÚDE PARA MINAS

João Amílcar Salgado

O ministro Padilha veio a BH para providências na saúde em 29/3/25, tendo Carlos Amílcar Salgado em sua equipe. Entre elas, julgo da maior importância a retomada da fábrica de soros da Funed e a implementação da velocidade do telessaúde na UFMG, liderado pelo brilhante especialista Antônio Luiz Pinho Ribeiro. Antônio Dilson Fernandes e eu preparamos o primeiro telessaúde, mas a ditadura vigente em 1981 ordenou que a Telemig vetasse a proposta. Antes, o Centro de Memória da Medicina documentou três experiencias precursoras em Minas: duas com pombos-correio e uma com teco-teco, que lembraremos a seguir.

sexta-feira, 28 de março de 2025

 


A ORATÓRIA VOLTA AO PALCO

João Amílcar Salgado

Em meu livro O RISO DOURADO DA VILA (2020), descrevo a admiração dos estudantes pelos oradores na década de 50. Os grandes astros de então eram o Carlos Lacerda, os irmãos Carlos e Paulo Pinheiro Chagas, os nepomucenenses João Pimenta da Veiga (pai) e Xico Negrão, o Pedro Aleixo, o Adauto Lúcio Cardoso, o Aliomar Baleeiro e o Afonso Arinos (sobrinho), entre outros. As aulas de patologia de Carlos Pinheiro eram assistidas por alunos de direito e engenharia, não obstante o conteúdo. Em qualquer júri, estes e os de medicina se misturavam na plateia. Na Vila, sabíamos que a galeria dos Lima, formada por Alice, Pimenta, Xico, Tio Zezé, Vico, Batista, Assis, Neca Correia, Getúlio, Marcílio, Dario, Léla, Rubem e Celso Lima, junto com o Neca Firmiano eram do mesmo nível.  O Zezé da Leleza, o Marcinho do Soneca, o Carlinho do Sargadinho, o Toninho da Lolô, o Julinho Penha e o Toninho da Samina e eu passávamos horas imitando aqueles, sendo que o Zezé (José Maria Ribeiro, também Lima) gastou o que tinha e o que não tinha com a Esther Leão, a maior treinadora de oradores do país.

 Digo isso porque agora tivemos um desfile de oradores famosos, entre os advogados defensores dos denunciados, no julgamento do STF de 25/3/25. O Brasil inteiro estava focado no que argumentavam e eu, nostálgico, só analisava sua oratória. Matei toda a minha saudade.

Por oportuno, lembro que, na tradição luso-brasileira, refulgem os oradores sacros João 21, João de Deus, Santo Antônio, Padre Vieira e Helder Câmara, estando entre eles, hoje, na mesma altura, o nepomucenense Luís Henrique Eloy. E entre os advogados citados não poderia faltar um Lima: José Luís de Oliveira Lima – conhecido no meio forense como dr. Juca Lima, xará de nome e de apelido de nosso queridíssimo médico dr. Juca.

quarta-feira, 12 de março de 2025

 


LUIGHI – VÍTIMA DE CRIME DOCUMENTADAMENTE IMPUNE

Joáo Amílcar Salgado

O jovem Luighi, jogador juvenil do Palmeiras, foi vítima de racismo em jogo contra o Cerro Porteño do Paraguai, pela Copa Libertadores sub-20, em 6/3/25. Apontou o episódio ao árbitro e aos policiais presentes. Disse que se aproximou do árbitro para denunciar: “ME CHAMARAM DE MACACO! ELE NÃO LIGOU. FUI AOS POLICIAIS E NÃO FIZERAM NADA…!”  O choro de adolescente exibido em todo o Brasil e em todo o mundo escancarou tanto o crime como a impunidade.

Antes denunciamos o racismo no futebol contra o brasileiro Vinícius Jr, quando mostramos que o racismo na Espanha traz o paradoxo de que, num país mestiço, seus racistas traduzem a necessidade de se sentirem brancos, agredindo pessoas acentuadamente pretas. Afirmei que ali a hostilidade aos negros é simbolizada na morte de animais tipicamente pretos, na tourada, espetáculo resultante de dominações negras sob egípcios e árabes.

No Paraguai, a maioria mestiça da população manifesta necessidade análoga. Curiosamente se orgulham do idioma e da cultura guarani. Vale lembrar que esta cultura é abrangente, pois o território guarani original ultrapassava bem mais do que os limites paraguaios, alcançando todo o sul e parte do sudeste brasileiro e ainda todo o sul matogrossense. Isso explica por que muitas de nossas músicas sertanejas e seresteiras são verdadeiras guarânias. Demais, os guaranis dos Sete Povos das Missões viveram uma das maiores experiências igualitárias da humanidade. A severa punição individual dos racistas será uma conquista dos craques brasileiros Luighi e Vinícius e também de todos nós.