João Amílcar Salgado

quinta-feira, 24 de abril de 2014


A IMPORTÂNCIA DO LIVRO
 ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS
           
O livro ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS é o resultado de pesquisas e vivência de seu autor João Amílcar Salgado como professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a partir de 1962. Foi docente de Semiologia Médica desde então, até alcançar o cargo de  professor titular de Clínica Médica, depois de se tornar mestre e doutor em Medicina Tropical. Como pesquisador, obteve repercussão internacional quando reencontrou e estudou a célebre paciente Berenice, a criança na qual Carlos Chagas descobriu a Doença de Chagas. Também adquiriu renome no Brasil e no exterior, na área do ensino médico, após participar e ser um dos líderes da inovação curricular de 1975 na UFMG. Com isso, se tornou conferencista dentro e fora do país, se colocando ao lado de Juan Cesar Garcia, na OPAS-OMS (Washington), Vic Neufeld, na Universidade McMaster (Canadá), e Henry Walton, na Universidade de Edimburgo (Escócia), em raro período em que houve confluência de esforços, até então autônomos, pelo aperfeiçoamento pedagógico da medicina, na segunda metade do século 20. 
            O livro constitui o primeiro estudo histórico sistemático do ensino da medicina no Brasil, elaborado por reconhecido pedagogo, apontado por pares, como a maior autoridade no país. Os historiadores da medicina brasileira pouco puderam tratar da história do respectivo ensino, em decorrência de seu limitado domínio sobre o tema. João Amílcar Salgado reuniu sua experiência como clínico geral, pedagogo e historiador para revelar como a medicina foi transmitida no Brasil a diferentes categorias de aprendizes, desde antes de 1500 até os dias atuais.
            O conteúdo do livro tem a seguinte sequência: 1) Educação médica pré-européia; 2) Educação médica colonial; 3) Tríplice conexão entre o iluminismo e o Brasil, na educação e na saúde; 4) Educação médica imperial; 5) Educação médica republicana; 6) Educação médica biocêntrica; 7) Educação médica sociocêntrica; e 8) Educação médica para a medicina consumista.  A seguir faz ensaio pormenorizado sobre a origem e a evolução pedagógica da educação médica na UFMG, de modo a estimular a que cada curso médico do país faça estudo semelhante. Finalmente é apresentada abrangente coletânea de textos destinados a ilustrar os temas antes expostos.
            Com tais capítulos, o livro estuda, de modo inédito, os sucessivos problemas do ensino da medicina, do ponto de vista fundamental da relação estudante-paciente, remontante à origem da humanidade. Para isso, recorre a elaborada e amadurecida inovação conceitual, a qual se mostra aplicável quer à realidade de saúde ao longo do tempo, quer à crescente crise atual. Exemplificadamente, o autor alcança fronteiras desafiadoras tais como: 1) A relação estudante-paciente sob perspectiva antropológica; 2) A relação estudante-paciente paralela, alternativa ou clandestina; 3) A decorrente universidade paralela, alternativa ou clandestina; 4) A ociosidade da competência; 5) O egresso nômade de cursos precários; 6) A submissão do ensino da medicina às agências internacionais e ao gangsterismo educacional; 7) A formação médica diante da polaridade competição versus cooperação (equipe mínima); 8) Resolubilidade e terminalidade; 9) A trifurcação corporativa para a sociedade de consumo; e 10) O ensino médico para a medicina consumista.
            O autor recebeu a sugestão para tradução deste livro para o inglês e o alemão.
EQUIPE DE PESQUISADORES DO CENTRO DE MEMÓRIA DA MEDICINA DE MINAS GERAIS






PROGRAMAÇÃO DO LANÇAMENTO DO LIVRO ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS                                                                                       DO PROFESSOR JOÃO AMÍLCAR SALGADO

PRÉ-LANÇAMENTOS
1.     CURSO DE HISTÓRIA DA MEDICINA DA UFMG, NO DIA DO MÉDICO, EM 18-10-13
2.     CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA MEDICINA, PALMAS TOCANTINS, 6-11-13, ONDE O AUTOR FOI DISTINGUIDO COM A PALESTRA DE ABERTURA.
3.     JUBILEU DE OURO DA TURMA GERREIRO DE FARIA, UNIRIO, HOTEL MEDITERRANÉ – RIO DAS PEDRAS, RIO – ONDE O AUTOR FOI AGRACIADO COM PLACA DE PRATA, EM 24-11-13
4.        CONGRESSO MARANHENSE DE HISTORIA DA MEDICINA, TERESINA, 26-11-13
5.     FACULDADE DE CIENCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS, ONDE O AUTOR FOI DISTINGUIDO COM A AULA INAUGURAL DO CURSO DE HISTÓRIA DA MEDICINA, 17-2-13
6.     UNIVERSIDADE DE OURO PRETO, ONDE O AUTOR FOI DISTINGUIDO COM A AULA INAUGURAL DO CURSO DE MEDICINA, 17-3-14
LANÇAMENTO OFICIAL – ACADEMIA MINEIRA DE MEDICINA
          DIA 26-3-14, ÀS 20 HORAS, NO AUDITÓRIO BORGES DA COSTA DA ASSOCIAÇÃO MÉDICA DE MINAS GERAIS, AVENIDA JOÃO PINHEIRO, 161 – BELO HORIZONTE (COM PRELEÇÃO PELO AUTOR E COQUETEL).



ONDE ADQUIRIR O LIVRO ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS

LOJA DA COOPMED, NO ANDAR TÉRREO DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, AVENIDA ALFREDO BALENA, 190, BELO HORIZONTE E DEMAIS LOJAS DA COOPMED
FORA DE BELO HORIZONTE: PELA COOPMED VIRTUAL coopmed.com.br

INTERMINAS LIVRARIA, AVENIDA ALFREDO BALENA, 181, BELO HORIZONTE
FORA DE BELO HORIZONTE: PELA INTERMINAS VIRTUAL livrariainterminas@livrariainterminas.com.br OU Via fax/telefone: (31) 3201.0584

AINDA FORA DE BELO HORIZONTE PELA ESTANTE VIRTUAL OU CONGÊNERES

LIVRARIA DA FACULDADE DE CIENCIAS MÉDICAS, AVENIDA EZEQUIEL DIAS, 275, BELO HORIZONTE

DEMAIS LIVRARIAS, POR PEDIDOS À COOPMED OU À INTERMINAS OU AO CENTRO DE MEMÓRIA DA MEDICINA DE MINAS GERAIS, FACULDADE DE MEDICINA DA UFMG, AVENIDA ALFREDO BALENA, 190, TELEFONE 34099672

BREVEMENTE EM TODAS AS LIVRARIAS




quinta-feira, 10 de abril de 2014

DOMINGOS DA SILVA GANDRA
Foi o mais radicalmente autêntico em nosso grupo

João Amílcar Salgado
            Quando o reitor Marcelo Vasconcelos Coelho criou, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Núcleo de Assessoramento Pedagógico da Faculdade de Medicina, no final de 1971 (com trabalhos iniciados em março de 1972), ele não sabia que estava dando origem a uma realização histórica no ensino superior no Brasil e também singular no mundo. Domingos da Silva Gandra chegou ali, naquele grupo multidisciplinar, como representante do Departamento de Ciências Sociais da universidade e logo passou a ser admirado e respeitado entre os demais. Logo nos falou de sua pesquisa sobre o preconceito anti-lepra (dois anos antes defendera a tese A LEPRA – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO FENÔNMEO SOCIAL DA ESTIGMATIZAÇÃO, 1970) e sobre o educador argentino Juan Cesar Garcia, seu amigo pessoal, apontado por ele como a maior autoridade mundial em ensino médico.
          Tal equipe contou com a participação, entre outros, do psicólogo Célio Garcia, do dentista Eugênio Vilaça Mendes, da psicóloga Marília Mata-Machado, da socióloga Celeste Carvalho, da pedagoga Ceres Ribeiro e do médico Aloisio Sales Cunha. A livre troca de idéias entre todos e o Domingos me fez concluir que seríamos um grupo original, capaz de transformar o ensino, mesmo sob a ditadura vigente. É claro que éramos vigiados pelos dedos-duros espalhados por toda a universidade, mas não tivemos maiores obstáculos por duas razões: fomos específicos na questão do ensino e contávamos com as costas largas do reitor Marcelo Coelho. Esse trabalho, do modo como foi desenvolvido, revelou-se único em vários aspectos e está bem documentado em livros: SITUAÇÃO DO ENSINO DA MEDICINA NA UFMG (levantamento inicial, 1972), DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DO ENSINO DE MEDICINA  NA UFMG – RELATO DE PESQUISA (1973), O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO CURRICULAR EM EDUCAÇÃO MÉDICA NA UFMG (1976) e ENSINO DA MEDICINA NO BRASIL E EM MINAS GERAIS (2013).
            A proposta era simples: 1) fazer um diagnóstico do ensino, usando metodologia que permitisse resultados comparáveis a investigações já realizadas ou em andamento, no Brasil e no mundo; e 2) manter total independência da reforma da educação superior, imposta em 1968 pela ditadura. Com os resultados concluídos até 1974, aprovou-se que, em vez de submetidos a órgãos decisórios, os dados subsidiariam mudança educacional decidida democraticamente. Para que a ditadura não inviabilizasse iniciativa tão ousada, Gandra, apoiado em suas relações com peritos da Organização Panamericana de Saúde, órgão da Organização Mundial de Saúde (OPAS-OMS), consultou-a sobre possíveis assessores desta agência para esse processo decisório. A OPAS aceitou enviar o peruano Carlos A. Vidal, competente, mas muito cauteloso diante das circunstâncias. Foi então que fomos claros: aceitamos também o Vidal, mas queríamos nada menos do que Juan César Garcia. Houve a tentativa de negar o pedido, mas advertimos que, se isso acontecesse, denunciaríamos a agencia por submissão à ditadura. E o que parecia impossível aconteceu. Garcia, vetado pela CIA, veio. Ele ponderou que a metodologia adotada pela OPAS-OMS era de seminário restrito e de caráter apenas consultivo. Respondemos que o seminário programado era irrestrito, aberto a docentes, estudantes e funcionários, além de paritário entre estes e de caráter decisório. Garcia, sendo quem era, concordou por conta própria. Disso resultaria a eleição direta e paritária para diretor da faculdade e a eleição direta e paritária para reitor, sendo que a primeira arrastou Tancredo Neves para a campanha das “diretas-já”.
            Vale ressaltar que a OPAS-OMS antes nos enviara o chileno Manuel Bobenrieth para um seminário realizado em 1969, preparatório da implantação do cuidado progressivo do paciente no hospital das clínicas da faculdade, de que resultou o primeiro CTI em modelo completo do país, em 1971. As discussões do seminário afinal subsidiaram a mudança educacional iniciada a seguir, de tal modo que foram duas presenças convergentes e felizes para a UFMG, a de Bobenrieth e a de César Garcia. Bobenrieth trabalhou também na Espanha e Vidal na Argentina. Garcia e Gandra faleceram demasiado cedo.
            No México, em convenção da ALAFEM, em 1979, indiquei aos cubanos Juan Cesar Garcia para assessorar a reforma de seu ensino médico, e este parece ter sido seu último trabalho. Nesse encontro, representantes de outros países me perguntaram por que não indiquei o Domingos Gandra. Respondi que a ditadura brasileira não o perdoaria. A seguir Gandra fez parte da banca examinadora de meu doutorado. Propus defender uma tese sem nenhuma referencia bibliográfica, intitulada CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE REALIDADE DE SAÚDE E ENSINO MÉDICO (1981). O colegiado da pós-graduação duvidou que fosse possível compor uma banca que concordasse com isso e seus membros ficaram na expectativa de que a tese fosse rejeitada. Mas a banca ficou composta por Domingos Gandra, Oder José dos Santos, José Geraldo Dângelo e Carlos Ribeiro Diniz, sendo orientador Luiz de Paula Castro. Nas últimas cadeiras do auditório, excepcionalmente repleto, viam-se componentes do Serviço Nacional de Informações da universidade. Uns eram notórios e outros causaram surpresa, como um docente que era coronel-médico da polícia militar e que compareceu de uniforme militar. E essa banca, desafiando o arbítrio, não só aprovou a tese, como aplaudiu sua originalidade e a classificou de histórica.
            A última mas não a menor participação de Domingos Gandra nesta audaciosa experiência pedagógica foi participar do ensino de semiologia médica do novo currículo. Vários de nossa equipe de inovadores esperavam  que ele fosse expulso do ambiente hospitalar, por se intrometer ali, onde insistia em questionar, junto a estudantes, docentes e funcionários, aspectos antropológicos da relação médico-paciente. Foi exatamente o contrário que aconteceu. Tornou-se acatado e admirado e, mais que isso, vários professores, funcionários e estudantes pediram-lhe marcar hora para conversa em separado, na qual ele acabava sendo uma espécie de guru ou conselheiro e até terapeuta.
            O professor João Galizzi vinha sendo desafiado a escrever um manual de SEMIOLOGIA MÉDICA, que tinha tudo para ser obra magna, segundo opinião unânime. Dizía-se que seria uma espécie de continuidade fiel ao livro clássico de Francisco de Castro. Infelizmente o livro não foi finalizado. De qualquer modo, naquele ambiente de inovação, sua equipe se entusiasmou com a obra e vários chegaram a esboçar os capítulos que escolheram. Não sei se Domingos Gandra chegou a rascunhar o seu. Só sei que seria um texto verdadeiramente original, admirável e permanente.
O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais


ADELMAR CADAR
Este homem realizou algo maravilhoso em favor dos médicos
João Amílcar Salgado
            Adelmar é belorizontino e diplomado na turma de 1951 de médicos da UFMG. Além de excelente otorrinolaringologista, ele é turfista, atleticano e escritor humorístico. Em seu livro DIÁRIO DE UM MÉDICO (1998), entre outras preciosidades, há o registro da história do hipódromo de Belo Horizonte e do Clube Atlético Mineiro.
            A turma de 51 foi rica de médicos competentes: Aspásia de Oliveira Pires, Delcides de Oliveira Baumgratz, Délio Menicucci, Evandro Cunha Melo, Helênio Enéas Coutinho, João José Kingma, José Fernal Bicalho, José Monteiro Magalhães, José Rodin Peret, José Urbano Figueiredo, Milton Machado, Milton Pimenta Figueiredo, Nelson Salomé, Nívia Nohmi, Pedro Cardoso, Washington Tafuri e Wilson Mayrink. Destes, além de Adelmar, convivi de perto com Delcides, Helênio, Kingma, Fernal, José Monteiro, Peret, Salomé, Nívia, Tafuri e Mayrink, sendo que o irmão de Urbano, de nome Antônio, casou-se com minha tia Cotinha Salgado.
            Adelmar foi o terceiro presidente do Jocquey (1979-82) na sequência de gestões que sucederam ao célebre José Maria Alkimin. Curiosamente um de seus vice-diretores chamava-se Amilcare de Carolis. Colaboraram com sua administração Aécio Cunha, Camilo Teixeira da Costa, Celso Azevedo, Fábio Fonseca, Israel Pinheiro Filho e José Maria Magalhães. O hipódromo chegou a 250 cocheiras e integrou a Comissão Nacional dos Criadores do Cavalo Nacional de turfe. As instalações da vila hípica eram adequadas e muito higiênicas, inclusive piscina para os animais. Certo dia encontrei-me com o Cadar e disse que meus filhos queriam ver os cavalos de perto. Respondeu: leve-os e serão recebidos com honra: designarei um amarra-cachorro ou melhor um amarra-cavalo para ficar a manhã inteira com  suas crianças.
               Ao falar do time do Atlético, ele sentencia, medicamente: Não existe atleticano sadio: são todos doentes e incuráveis. O clube foi o primeiro da capital em 1908 (três anos antes da escola médica que diplomaria Cadar). Por essa época, o afluxo de imigrantes sírio-libaneses fez surgir o Esporte Sírio Horizontino, que teve o mérito de em 1922 iniciar o confronto interestadual, hospedando seu irmão paulista, o Sírio Paulista, para jogar com o campeão América. O goleiro dos visitantes era Athiê Jorge Cury, mais tarde presidente do Santos de Pelé. Já o presidente do Horizontino era Antônio Cadar, pai do Adelmar, que impressionou os paulistas, em banquete no Grande Hotel, quando pediu a seu amigo Pedro Aleixo para saudá-los.  Com a extinção do Horizontino, a torcida se transferiu ao Atlético, acompanhando seu principal craque, Said Paulo Arges, além dos atletas Eduardo Abras, Paulo Cury e Mauro Patrus. Said formou com Jairo de Almeida e o estudante de medicina Mário de Castro o Trio Maldito de atacantes temidos por qualquer adversário.
Famílias sírio-libanesas mineiras passam a ser identificadas com o Atlético. O sócio número um é João Salomão, primo da mãe de Cadar,  Rosinha Salum. Os Kalil, Cury, Simão, Patrus, Lasmar, Kumaira,  Hadad e outros participam da direção do clube. De minha parte, trabalhei ao lado do ortopedista Abdo Arges Kalil no hospital da previdência estadual, enquanto Aziz Abras foi sócio de Francisco Lima Filho, meu parente, e Paulo Cury foi craque universitário, ao lado de meu primo Marcly Vilela, em Alfenas. A propósito, Maurício Kalil, meu querido colega de turma e um dos melhores humoristas que conheci, me confidenciou que os Kalil são metade gente do deserto e metade descendentes de Gengis Kahnm, e que o Arnaldo Elian procede das fraldas do monte Ararat.
Este preâmbulo é para mostrar as condições que Adelmar Cadar reuniu para  dirigir, com extrema audácia, o Boletim do Centro de Estudos do Inamps. Ele se reuniu com o excelente administrador em saúde José Luiz Verçosa para discutir como bem utilizar a novíssima gráfica do então INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social). Ouviram o citado professor Arnaldo Elian e concluíram que bastava pedir ajuda ao clínico e cientista Luiz de Paula Castro.  Este, com sua equipe, cuidaria de rechear o boletim da instituição com textos de atualização médica de alta qualidade. O Luiz nos pediu as atualizações e como já as publicávamos num modesto boletim dirigido aos professores de medicina mineiros, fizemos a contraproposta de transformá-lo  em bem cuidado periódico. Os textos em inglês seriam traduzidos por estudantes de medicina pagos pela fundação Kellogg, a partir de dois periódicos: THE MEDICAL LETTER e DRUG AND THERAPEUTICS BULLETIN. Cadar, o principal responsável, disse: a indústria farmacêutica manda no governo, vai pressionar e até pedir minha demissão, mas até que enfim vamos fazer algo que contraria a mentirada de sua propaganda. Como as publicações originais eram dos EUA e da Inglaterra e a referida fundação estava envolvida, a indústria farmacêutica teve dificuldade em agir contra Cadar.
O The Medical Letter On Drugs And Therapeutics é um boletim bissemanal criado em 1958 por Arthur Kallet e Harold Aaron, ligada à União dos Consumidores nos EUA, também editado em francês e italiano. Foi por, certo tempo, traduzida ao espanhol e, graças a Adelmar Cadar, ao português. O Drug and Therapeutics Bulletin é publicado mensalmente, desde 1962, pelos especialistas do British Medical Journal. Hoje ambos estão na internete. Nosso BOLETIM DE MEDICAMENTOS E TERAPÊUTICA foi uma seleção desses dois boletins e distribuído mensalmente a todos os médicos mineiros, por meio do endereço fornecido pelo Conselho Regional de Medicina. O que a indústria farmacêutica, na ditadura, não conseguiu diretamente o novo governador Newton Cardoso, na abertura democrática, obteve, certamente por pressão dela. Em 1987 seus auxiliares nos comunicaram que a gráfica passou a seu controle. Pedimos que prosseguissem publicando o boletim sob a direção de Cadar. Disseram que, ao contrário, cada número teria de ser aprovado pela cúpula do governo estadual e Cadar seria substituído por um médico-político, para nós totalmente alheio aos mínimos aspectos científicos da medicina. Foi assim que findou o Boletim.
Houve um vão clamor dos médicos, principalmente os atuantes no interior, que já estavam dependentes das atualizações seguras, por quatro anos. Adelmar Cadar, o herói dessa notável façanha, merece as mais altas homenagens de nossa autêntica medicina, que, graças a homens tão bravos como ele, talvez subsista a tanta ignorância e a tão desrespeitoso cinismo.

O autor é professor titular de Clínica Médica e pesquisador em História da Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais