João Amílcar Salgado

quarta-feira, 24 de março de 2021

 


O LÍTIO E A PETROBRÁS

João Amílcar Salgado

Em 1989, propus a Mário Covas, junto com o Almir Gabriel, o Cid Veloso e o Carlos Becker, que incluísse, em sua proposta presidencial, obter da Bolívia que a Petrobrás explorasse suas jazidas de lítio, hoje apelidado de petróleo branco. Pouco antes, tinha havido uma reunião no Departamento de Química da UFMG, onde falei sobre a visita de Marie e Irene Curie a nosso Instituto do Radium. Principiei lembrando que o primeiro livro lusófono de química foi escrito pelo mineiro Vicente Silva Teles e que José Bonifácio de Andrada, cuja família veio de Santos para Minas, foi o descobridor, em 1790, do minério de lítio, a petalita, mas o nome lítio foi dado, pouco tempo depois, pelo genial purificador Humphry Davy. Um dos químicos presentes me perguntou se eu conhecia Gilbert Newton Lewis, descobridor, em 1912, de que o lítio poderia ser fonte de energia elétrica. Respondi que talvez o tenha estudado para o vestibular, mas seu nome se apagou com o tempo. Lembrei-me apenas que estudei o lítio como o mais leve dos metais. Mas, num esforço de memória, perguntei: “não seria Gilbert o tal dos elétrons pareados?” A partir de José Bonifácio, passei a acompanhar a crescente importância do lítio como calmante (1954) e, a seguir (1991), como miniaturizador das pilhas. Em 1980, nos EUA, um cientista me perguntou se o Brasil tinha muita reserva de minério de lítio. Confessei nada saber e ele disse que era bom eu saber, “porque, segundo amigos meus japoneses, isso vai ser uma riqueza estratégica”. Chegando aqui, verifiquei que em Araçuaí, Minas, o lítio era promissor, mas a Bolívia era riquíssima dele, com reservas bastante quantificadas desde 1985. Foi então que fiz a proposta a Covas. Os paulistas que acompanhavam o candidato nesta caravana a Minas, um deles Franco Montoro, descartaram minha sugestão, por causa do risco de que fosse ridicularizada. O risco de fato havia, pela provável relação com o lítio que receitaram para amansar o Ulisses Guimarães.

Covas, já governador, foi sigilosamente informado por Severo Gomes de grossa corrupção em suas obras. Pediu que o próprio Severo e Ulisses sigilosamente verificassem. Quando estão quase esclarecendo tudo, o helicóptero dos dois desaparece no mar. Os tucanos nasceram porque o partido do Ulisses estava corrompido e cada vez mais distante da esquerda - e Ulisses morreu, porque confirmava o mesmo para os tucanos. Mais tarde, verificamos quão fomos ingênuos naquele ano de 1989. A imprensa afinal documentou aquilo que foi apelidado de “privataria tucana”, pela qual Sergio Mota, José Serra e FHC ilustraram muito bem o aforismo do lavrense Carlito Maia, de que “todo esquerdista começa a esquecer sua ideologia, quando começa a contar dinheiro”. E hoje, em 2021, continuamos no mesmo, ou seja, às voltas com a privataria da mesma Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Federal.

 

 

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