O
LÍTIO E A PETROBRÁS
João
Amílcar Salgado
Em 1989,
propus a Mário Covas, junto com o Almir Gabriel, o Cid Veloso e o Carlos
Becker, que incluísse, em sua proposta presidencial, obter da Bolívia que a
Petrobrás explorasse suas jazidas de lítio, hoje apelidado de petróleo branco.
Pouco antes, tinha havido uma reunião no Departamento de Química da UFMG, onde
falei sobre a visita de Marie e Irene Curie a nosso Instituto do Radium.
Principiei lembrando que o primeiro livro lusófono de química foi escrito pelo
mineiro Vicente Silva Teles e que José Bonifácio de Andrada, cuja família veio
de Santos para Minas, foi o descobridor, em 1790, do minério de lítio, a
petalita, mas o nome lítio foi dado, pouco tempo depois, pelo genial
purificador Humphry Davy. Um dos químicos presentes me perguntou se eu conhecia
Gilbert Newton Lewis, descobridor, em 1912, de que o lítio poderia ser fonte de
energia elétrica. Respondi que talvez o tenha estudado para o vestibular, mas
seu nome se apagou com o tempo. Lembrei-me apenas que estudei o lítio como o
mais leve dos metais. Mas, num esforço de memória, perguntei: “não seria
Gilbert o tal dos elétrons pareados?” A partir de José Bonifácio,
passei a acompanhar a crescente importância do lítio como calmante (1954) e, a
seguir (1991), como miniaturizador das pilhas. Em 1980, nos EUA, um cientista
me perguntou se o Brasil tinha muita reserva de minério de lítio. Confessei
nada saber e ele disse que era bom eu saber, “porque, segundo amigos meus
japoneses, isso vai ser uma riqueza estratégica”. Chegando aqui,
verifiquei que em Araçuaí, Minas, o lítio era promissor, mas a Bolívia era
riquíssima dele, com reservas bastante quantificadas desde 1985. Foi então que
fiz a proposta a Covas. Os paulistas que acompanhavam o candidato nesta
caravana a Minas, um deles Franco Montoro, descartaram minha sugestão, por
causa do risco de que fosse ridicularizada. O risco de fato havia, pela
provável relação com o lítio que receitaram para amansar o Ulisses Guimarães.
Covas, já
governador, foi sigilosamente informado por Severo Gomes de grossa corrupção em
suas obras. Pediu que o próprio Severo e Ulisses sigilosamente verificassem.
Quando estão quase esclarecendo tudo, o helicóptero dos dois desaparece no mar.
Os tucanos nasceram porque o partido do Ulisses estava corrompido e cada vez
mais distante da esquerda - e Ulisses morreu, porque confirmava o mesmo para os
tucanos. Mais tarde, verificamos quão fomos ingênuos naquele ano de 1989. A
imprensa afinal documentou aquilo que foi apelidado de “privataria tucana”,
pela qual Sergio Mota, José Serra e FHC ilustraram muito bem o aforismo do
lavrense Carlito Maia, de que “todo esquerdista começa a esquecer sua
ideologia, quando começa a contar dinheiro”. E hoje, em 2021,
continuamos no mesmo, ou seja, às voltas com a privataria da mesma
Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Federal.
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